Mal suou o ultimo acorde do concerto a música de dança invadiu o espaço tornando aquilo que parecia um bar de rock numa autentica discoteca. A mutação do ambiente fez com que este deixasse de combinar com a minha personalidade, e deixou-me algo desconfortável. Ainda assim, deixei-me ficar porque tinha já oferecido a minha ajuda para arrumar o palco e carregar o material da banda para a carrinha.
Enquanto eles ainda descontraiam falando com os amigos e conhecidos após o concerto, eu subi ao palco e fui-me entretendo a enrolar cabos, escudado pelos amplificadores dos instrumentos. Dali tinha uma panorâmica sobre tudo o que se passava no bar.
O espaço que estava para além das mesas tinha-se transformado rapidamente numa pista de dança. Lá, a ruiva era a rainha indisputada de todas as atenções…
…excepto da minha.
Ao lado dela o anjo loiro dançava de forma mais contida e menos exuberante. Repararam ambas que eu as observava. A ruiva, talvez porque tivesse notado que há pouco tinha deixado de lhe dar importância, quis acentuar o meu interesse insinuando-se, olhando directamente para mim como que dizendo “sei que me estas a ver” e dançando de uma forma que estava a fazer crescer a água na boca de quase todos os homens ali presente…
…e de algumas mulheres também.
A loura reparou também que eu olhava, mas, vendo a reacção da amiga, acanhava-se. Creio no entanto que foi percebendo que o meu olhar repousava mais sobre ela do que sobre a amiga.
Fui pagar a minha despesa e sai com a banda pela porta lateral enquanto os ajudava a carregar o material para a carrinha que os levaria de volta a casa. Estava a carrinha já carregada quando elas saíram e se dirigiram a nós. Conheciam os elementos da banda e deram-lhes os parabéns pelo concerto, falaram riram…
Se por um lado me apetecia entrar na conversa, por outro lado a minha vontade de chegar à loura podia levar a interpretações da parte dela e da ruiva que eu não queria. Assim sendo, fui fumando o meu cigarro com calma enquanto observava o desenrolar da conversa.
Mas, costuma-se dizer que tudo o que tem de ser tem mesmo de ser e não há volta a dar. E não houve.
Aquando das despedidas a ruiva volta-se para o pessoal da banda e pergunta:
-Vocês por acaso não podiam dar boleia à Ana?
E eis que soube o nome do anjo.
-Não, pá, temos a carrinha completamente atulhada…
-É pena. Se pudessem sempre evitava ir e voltar à margem sul…
E eu falei finalmente e dirigi-me directamente à Ana.
-Pá, eu vou para a margem sul. Se quiseres vir comigo…
-Não quero dar trabalho…
-Não dás, de maneira nenhuma. Até aproveito a companhia. Ia sozinho, de qualquer maneira…
Ela, relutantemente, acabou por aceitar, e, após as despedidas, levei-a até ao meu carro, onde não tive qualquer gesto de cavalheirismo em relação a ela.
Ela entrou, apertamos os cintos de segurança, arranquei o motor do carro para ir aquecendo um pouco, coloquei uma música suave, porque já bastava o assalto sonoro a que nos tínhamos submetido durante toda a noite, e arrancamos.
Seguimos em silêncio até ao tabuleiro da ponte. Foi ela quem o quebrou.
-Podes perguntar…
-O quê?
-Aquilo que queres perguntar…
-Vais ter que me esclarecer, porque eu perdi-me!
-Aposto que estás curioso acerca da Júlia.
-A tua amiga?
-Sim.
-Não, não estou. Era suposto estar?
-Normalmente toda a gente está. Porque é que tu havias de ser uma excepção?
-Não sei se sou ou não, mas de facto não estou.
-Porquê?
-Porque é que não estou?
-Sim!
-Porque acho que já sei tudo dela que me interessaria saber. Não te vou dizer que ela não causou impacto, quando a vi. É de uma beleza arrebatadora. Mas, infelizmente, não há nada para além disso.
Ela fitou-me surpreendida.
-Achas mesmo isso?
-Acho. Acho inclusivamente que tu és bem mais interessante que ela…
Ela corou, mas olhou para mim desconfiada. Percebia-a perfeitamente. Quantos não teriam sido já os tipos que tinham dado em cima dela, não por ela, mas pela amiga?
-Porquê?
Olhei para ela com o sobrolho levantado.
-Sabes, podes estar habituada a estar em segundo plano, e se calhar até gostas disso. Chateiam-te menos. Mas a verdade é que és uma mulher extremamente bonita e há algo em ti… Nem te sei dizer bem o que é, mas é extremamente apelativo.
Ela corou ainda mais e calou-se.
Parei nas bombas de gasolina, quase logo a seguir, para ir comprar tabaco.
-Queres ir beber um café? – Perguntei-lhe – Estou a precisar de um.
-Não, obrigada.
-E fazes companhia?
-Faço, isso faço.
Entramos, eu comprei o tabaco e bebi o café, voltamos ao carro.
O nosso olhar cruzou-se quando abríamos as portas.
Entramos.
Sentamo-nos.
Passei-lhe o braço por detrás, puxei-a para mim sem esforço, uma vez que ela se entregou e os nossos lábios colaram-se enquanto as nossas línguas iniciaram um bailado angelical…
…e quando finalmente quebramos o beijo ficamos olhos nos olhos, completamente afogueados e assoberbados a olhar um para o outro sem saber como reagir.
Fui eu o primeiro a falar.
-Se calhar é melhor sairmos daqui, não?
Ela sorriu.
-É melhor…
Arranquei e sai da estação de serviço e entrei novamente na auto-estrada. Os olhos dela refugiam ao meu lado, o seu sorriso por demais lindo…
-Leva-me a um sítio bonito!
Eu sorri. Dei-lhe a mão.
E, por uma vez, fui um mocinho bem mandado…
Enquanto eles ainda descontraiam falando com os amigos e conhecidos após o concerto, eu subi ao palco e fui-me entretendo a enrolar cabos, escudado pelos amplificadores dos instrumentos. Dali tinha uma panorâmica sobre tudo o que se passava no bar.
O espaço que estava para além das mesas tinha-se transformado rapidamente numa pista de dança. Lá, a ruiva era a rainha indisputada de todas as atenções…
…excepto da minha.
Ao lado dela o anjo loiro dançava de forma mais contida e menos exuberante. Repararam ambas que eu as observava. A ruiva, talvez porque tivesse notado que há pouco tinha deixado de lhe dar importância, quis acentuar o meu interesse insinuando-se, olhando directamente para mim como que dizendo “sei que me estas a ver” e dançando de uma forma que estava a fazer crescer a água na boca de quase todos os homens ali presente…
…e de algumas mulheres também.
A loura reparou também que eu olhava, mas, vendo a reacção da amiga, acanhava-se. Creio no entanto que foi percebendo que o meu olhar repousava mais sobre ela do que sobre a amiga.
Fui pagar a minha despesa e sai com a banda pela porta lateral enquanto os ajudava a carregar o material para a carrinha que os levaria de volta a casa. Estava a carrinha já carregada quando elas saíram e se dirigiram a nós. Conheciam os elementos da banda e deram-lhes os parabéns pelo concerto, falaram riram…
Se por um lado me apetecia entrar na conversa, por outro lado a minha vontade de chegar à loura podia levar a interpretações da parte dela e da ruiva que eu não queria. Assim sendo, fui fumando o meu cigarro com calma enquanto observava o desenrolar da conversa.
Mas, costuma-se dizer que tudo o que tem de ser tem mesmo de ser e não há volta a dar. E não houve.
Aquando das despedidas a ruiva volta-se para o pessoal da banda e pergunta:
-Vocês por acaso não podiam dar boleia à Ana?
E eis que soube o nome do anjo.
-Não, pá, temos a carrinha completamente atulhada…
-É pena. Se pudessem sempre evitava ir e voltar à margem sul…
E eu falei finalmente e dirigi-me directamente à Ana.
-Pá, eu vou para a margem sul. Se quiseres vir comigo…
-Não quero dar trabalho…
-Não dás, de maneira nenhuma. Até aproveito a companhia. Ia sozinho, de qualquer maneira…
Ela, relutantemente, acabou por aceitar, e, após as despedidas, levei-a até ao meu carro, onde não tive qualquer gesto de cavalheirismo em relação a ela.
Ela entrou, apertamos os cintos de segurança, arranquei o motor do carro para ir aquecendo um pouco, coloquei uma música suave, porque já bastava o assalto sonoro a que nos tínhamos submetido durante toda a noite, e arrancamos.
Seguimos em silêncio até ao tabuleiro da ponte. Foi ela quem o quebrou.
-Podes perguntar…
-O quê?
-Aquilo que queres perguntar…
-Vais ter que me esclarecer, porque eu perdi-me!
-Aposto que estás curioso acerca da Júlia.
-A tua amiga?
-Sim.
-Não, não estou. Era suposto estar?
-Normalmente toda a gente está. Porque é que tu havias de ser uma excepção?
-Não sei se sou ou não, mas de facto não estou.
-Porquê?
-Porque é que não estou?
-Sim!
-Porque acho que já sei tudo dela que me interessaria saber. Não te vou dizer que ela não causou impacto, quando a vi. É de uma beleza arrebatadora. Mas, infelizmente, não há nada para além disso.
Ela fitou-me surpreendida.
-Achas mesmo isso?
-Acho. Acho inclusivamente que tu és bem mais interessante que ela…
Ela corou, mas olhou para mim desconfiada. Percebia-a perfeitamente. Quantos não teriam sido já os tipos que tinham dado em cima dela, não por ela, mas pela amiga?
-Porquê?
Olhei para ela com o sobrolho levantado.
-Sabes, podes estar habituada a estar em segundo plano, e se calhar até gostas disso. Chateiam-te menos. Mas a verdade é que és uma mulher extremamente bonita e há algo em ti… Nem te sei dizer bem o que é, mas é extremamente apelativo.
Ela corou ainda mais e calou-se.
Parei nas bombas de gasolina, quase logo a seguir, para ir comprar tabaco.
-Queres ir beber um café? – Perguntei-lhe – Estou a precisar de um.
-Não, obrigada.
-E fazes companhia?
-Faço, isso faço.
Entramos, eu comprei o tabaco e bebi o café, voltamos ao carro.
O nosso olhar cruzou-se quando abríamos as portas.
Entramos.
Sentamo-nos.
Passei-lhe o braço por detrás, puxei-a para mim sem esforço, uma vez que ela se entregou e os nossos lábios colaram-se enquanto as nossas línguas iniciaram um bailado angelical…
…e quando finalmente quebramos o beijo ficamos olhos nos olhos, completamente afogueados e assoberbados a olhar um para o outro sem saber como reagir.
Fui eu o primeiro a falar.
-Se calhar é melhor sairmos daqui, não?
Ela sorriu.
-É melhor…
Arranquei e sai da estação de serviço e entrei novamente na auto-estrada. Os olhos dela refugiam ao meu lado, o seu sorriso por demais lindo…
-Leva-me a um sítio bonito!
Eu sorri. Dei-lhe a mão.
E, por uma vez, fui um mocinho bem mandado…
7 comentários:
Vi-me completamente nesse cenário.
Aguardo ansiosamente pela descrição do sitio bonito...
Louise,
...Também não é dificil. Basta parares nas bombas de gasolina que estão 4 Km depois da ponte sobre o tejo na direcção sul...
(tou a brincar LOL)
Prometo que não te deixo ansiosa por muito tempo... ;)
:)
Li com um sorriso tão... e um piscar de olho como reflexo natural.
Quantas vezes o patinho feio vira Cisne? Basta ir um pouco mais além...
:)
Aguardo mais, como é óbvio.
Um sítio bem bonito, sim? :)
Vontade de,
Vê lá se o que está acima se enquadra na tua definição de beleza...
:)
Libertya,
Olha que este pato não era uma pato...
...era antes um cisne que se sentia um pato porque o cisne ao lado tinha as penas mais brancas...
:)
Isto faz-me lembrar uma provocação gratuita que fiz há lá uns tempos:
http://provocame.blogspot.com/2008/05/provocao-gratuita-15.html
É muito difícil lutar contra a programação genética que nos faz sentir sexualmente atraídos por determinado tipo de pessoas. Mas eu gosto de contrariar isso. E as minhas paixões têm sido provocadas e alimentadas por aspectos muito diferentes. Dá muito mais gozo descobrir novos focos de atracção, lutar contra os estereótipos de beleza e tesão. isso que me dá-me imenso gozo!
(às tantas, já nem precisas de ler o blog, ele vem ter contigo aqui, já viste?)
Enviar um comentário