Um homem de palavra

A cena:
Ela, deitada no sofa, de frente para ele. Ele ajoelhado no chão, penetrando-a frenéticamente, ambos bem perto do orgásmo.
Ela: Ai, amor, apalpa-me...
Ele: Não, que eu disse ao teu marido que jamais te poria as mãos em cima...

Uma longa Viagem (Para Fábrica de Letras)

…e havia todo o entusiasmo, toda a doçura, toda a gula de te querer, de te provar, de te ter para mim, enquanto percorria o teu corpo suavemente, com o meu braço que te envolvia a fazer as pontas dos meus dedos deslizar na pele das tuas costas, suavemente, indolentemente, intemporalmente, sem que nada mais precisasse de ti do que aquele momento, enquanto sentia o cheiro do teu cabelo tão próximo de mim, a tua cabeça apoiada no meu ombro, olhos fechados, respiração suave, o teu braço atravessado no meu peito e a tua pele com aquela sensação quente, quase magnética e os meus dedos a percorrer-te de pólo a pólo, uma longa viagem porque lenta mas cheia de sensações, desde o teu cabelo que afago, massajando a tua cabeça ao de leve, descendo depois pelo teu pescoço, contornando o teu ombro, descendo pelo teu lado, roçando o teu seio desnudo que se pressiona contra a minha pele, percorrendo-te num semi-arco desenhado pelo alcance do me braço e que acaba ao fundo das tuas costas, na base da tua espinha e, incontida, ofereces-me os teus lábios molhados da tua saliva doce, fazes a tua língua dançar na minha, fazes-me sentir o pulsar do teu sexo contra a minha perna, fazes-me querer-te, desejar-te e viro-me para ti e abraço-te e beijo-te e sento o teu peito colar-se ao meu, a tua perna a passar por cima da minha, o teu sexo a oferecer-se-me despudorado, roçando no meu entumecido, e sinto o teu calor, a tua excitação húmida, o teu gemido e o meu braço puxa-te para mim, enquanto o outro desce até à tua nádega e te puxa para mim enquanto pressionamos o sexo um contra o outro, nos roçamos, nos sentimos, nos excitamos e a saliva se derrama de uma boca para a outra e a vontade aumenta ainda mais, e, num momento de pura impaciência nos fundimos, nos oferecemos um ao outro, e sinto o teu sexo deslizar ao longo do meu, devagar, pedaço a pedaço, como se eu fosse imenso, quebras o beijo, mordes o lábio, fazes força de olhos fechados, gemes mais, dás mais, queres mais, e no limite paras, deslizas em sentido contrário, devagar também para te empurrares para mim de seguida, com força, fazendo com que um espasmo de prazer suba pela minha espinha, como se fosse uma descarga eléctrica e agarro-te, não te deixo afastar, púbis coladas, enclausurado de livre vontade em ti, as bocas colam-se novamente, as mãos afagam e o pulsar do teu sexo no meu tolda-me os sentidos, a visão e sinto-me em ti, num universo muito para além da carne, mas é nesse momento, enquanto a carne se funde, que os espíritos encetam uma longa viagem em direcção ao êxtase e ao nirvana…



Para Fábrica de Letras