Um dia chato, chuvoso, não com aquela chuva diluviana, nas com uma chuva miudinha e chata, daquela que se entranha até aos ossos, e tu…
…estavas ali, sentada, de perna cruzada, casual como sempre, vestida para passar despercebida e aparentemente toda contente, alheia à confusão e sem sequer saberes que me tinhas na mão, especado a olhar para ti, feito parvo a olhar para ti ali sentada, a oitava maravilha do mundo moderno, com um ar sereno e intelectual, com uma descontracção que não era normal, alheia ao que estava em volta, despretensiosa e solta, não havia ninguém que não desse por ti, o mundo parou por ti e é verdade que estáva frio em Lisboa,…
…mas eu estava quente por dentro!
E tudo o que eu queria naquele momento era a intervenção de um qualquer santo que descesse do céu e me desse um olhar teu!
Até me fizeste acreditar em Deus, cair de joelhos, olhar para os céus e só eu sei o que passei para conseguir um olhar teu…
A seus lábios aflorados pelos lábios dela, num pequeno toque, suave, mas com um sentido de urgência, e depois outro beijo e outro, até os lábios se colarem, se apartarem e as línguas se envolverem num tango complexo e cheio de desejo, cheio de urgência, obrigando os olhos a fecharem-se para que todos os sentidos e sensações se concentrem apenas naquela dança, e os corpos tocam-se, comprimem-se um contra o outro, como se se quisessem fundir, as mãos libertas exploram os contornos e as formas ao mesmo tempo que encontram maneiras de libertar os corpos das fronteiras tecidas entre ambos, e a pele toca-se, sente-se, o calor repassa e alimenta ainda mais o desejo de ambos e a vontade de se tornarem um só, as bocas apartam-se e os lábios percorrem a pele, milímetro a milímetro, provocando, saboreando, enaltecendo a vontade que se sente do outro, com a urgência animal e a calma do sentimento, os lábios tocam sexos, sentem o sabor, a textura ansiada, alimentam a ansiedade de se terem, promovem picos de intensidade, orgasmos ditos, prometidos, e por fim os corpos fundem-se num só, num só desejo, num só acto, o ego eliminado, o prazer supremos que chega para ambos para saciar momentaneamente um fome que não pode ser saciada...
 
 
 
 
…e que desperta logo em seguida!