Momento de pausa

Ficas parada à porta a olhar para mim com um sorriso.

Esperava-te na incerteza. Virias ou não?

A tua presença é por si só uma confirmação. Sorrio-te.

Avanças com uma falsa calma em direcção a mim. A aparência apenas é traída pelo leve tremor nas mãos que não consegues disfarçar. Dás a volta à secretária.

Eu largo o que estou a fazer, levanto-me da cadeira, recebo-te com um abraço, os meus olhos mergulham nos teus e depois, fecho-os à medida que mergulho em ti e nos fundimos num beijo desejado.

As nossas línguas procuram-se, tocam-se, envolvem-se…

O meu braço direito fica a envolver-te, a segurar-te firmemente contra mim, como se tivesse medo de que te quisesses afastar, mas a minha mão esquerda desliza pelas tuas costas com suavidade, sobe pelo teu lado, procura o teu seio, toca-o ao de leve, por cima da roupa, massaja-o, massaja-o, procura sentir a tua excitação, sentir se queres…

…o teu beijo torna-se mais dedicado, mais voraz ao meu toque, passas o braço por detrás do meu pescoço puxando-me para ti, o teu corpo cola-se mais ao meu…

…queres, inequivocamente!

Eu também.

A minha mão desce pelo teu lado, pelos contornos do teu corpo, sinto-te na ponta dos dedos, passo pela tua nádega, forço a tua perna a subir, deixando-te apoiada apenas num pé, deslizo ao longo da tua perna, até ao joelho, sentindo-te…

…envolvendo-te…

A mão sobe ao longo da perna, mas desliza para debaixo do teu vestido, procurando mais de ti, repousando por sobre o tecido que cobre o teu sexo, fazendo pressão…

…tu gemes…

A tua perna fraqueja e agarras-te mais a mim para não perderes o equilíbrio. Eu amparo-te, seguro-te.

Desvio o tecido, passo os dedos ao longo da tua cona que está ansiosa, pronta, molhada, sinal da tesão que sentes. Masturbo-te e tu quebras finalmente o beijo por causa dos gemidos que não consegues conter. Eu beijo-te o pescoço e os ombros que tu me ofereces para eu provar…

Mas eu quero provar muito mais. Sinto-te perto de um orgasmo, e por isso, paro, deixando-te com um olhar desconcertado. Depois, ajoelho-me aos teus pés, faço as mãos subir pelas tuas pernas e o mais delicadamente que posso faço descer o fio dental que vejo finalmente. Levantas um pé de cada vez, para te poderes desembaraçar dele, e eu pouso-o na secretária. Levanto-te o vestido, olhando para a tua cona molhada, desejosa de mais atenção que um simples olhar.

Levanto-te, sento-te na secretária, sento-me eu na cadeira giratória, mergulho no meio das tuas pernas, toco-te ao de leve com a minha língua, sentindo o teu sabor agridoce, gemes de aceitação, agarras-me na cabeça, puxas-me para ti, faço deslizar a língua ao longo dos teus lábios, faço-a mergulhar em ti, gósto, preenches-me com o teu sabor, subo, colo o meus lábios à volta do teu clítoris, sorvo-o, toco-lhe com a língua, sinto-te a chegar ao ponto a que te quero levar, fustigo-te com a minha língua espalmada enquanto te chupo, quero-te, as tuas ancas impulsionam-te contra a minha boca, a tua cona pulsa, contrai-se num ritmo que a minha língua acompanha, tentas conter o grito na tua garganta, prende-lo, abandonas-te, explodes, vens-te inundando-me a boca com teu prazer e eu acompanho-te sorvendo-te deleitado e sem quaisquer intenções de parar até te sentir a desfalecer deitada de costas sobre a secretária e o teu corpo a voltar à acalmar.

Levanto-me, levo a minha boca à tua, dou-te o sabor do teu orgasmo.

Depois, deixo-me cair na cadeira e espero-te.

Ergues-te com um ar absolutamente satisfeito e radiante, sais de cima da cadeira, ajeitas o vestido e falas finalmente:

-Agora tenho de ir, mas isto não vai ficar só por aqui.

Agarro no teu fio dental, que ainda está em cima da secretária. Estendes a mão para que eu te o dê, mas eu recolho a mão e a peça de roupa.

-Até tu voltares, fico-te com isto refém. Fui eu que te o despi, e sou eu que te o vou voltar a vestir.

Sorris, compões-te e sais.

Eu volto ao que estava a fazer, embora esteja completamente desconcentrado. Apenas consigo pensar no momento em que vais voltar a entrar pela porta…



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Voltas umas horas depois, quando eu já tinha desistido de te esperar.

Entras pela porta com um olhar guloso, absolutamente felino, tal como o teu andar, chegas ao pé de mim e perguntas:

-Sabes o que fizeste? As consequências de há bocado?

-O que é que eu fiz? – Inquiri, quase temendo o fogo que se espalhava no teu olhar e que abrasava tudo o que tocava.

Agarras-me a mão, sem cerimónias e guia-la para debaixo do vestido, para o meio das tuas penas. Estas completamente encharcada.

-Vês? Achas que isto se faz?

-Acho que ainda se faz pior?

-Promessa?

-Constatação.

Colas os lábios aos meus, a tua língua invade a minha boca de forma faminta, da mesma forma que dois dos meus dedos te invadem e te fazem soltar um gemido absolutamente carregado de tesão.

Agarras novamente na minha mão, tira-la do sitio onde ela está tão bem, levas os dedos à tua boca, lambes avidamente, levas a tua mão ao meu cinto, desaperta-lo, despertas as calças, puxa-las para baixo deixando evidenciado o volume nos meus boxers do qual já não consegues tirar o olhar, puxas os boxers para baixo, tocas a minha tesão, masturbas-me devagar, sentindo-me na tua mão, acaricias-me, sinto a suavidade do teu toque, a maneira como me mimas…

-Pareces feliz por me ver… - dizes, agarrando-me com força, o que parece fazer-me aumentar ainda mais de tamanho.

-Imensamente feliz.

-Nota-se!

E aproximas-te da minha glande, tocas-lhe coma língua húmida e quente, colas os lábio só na ponta, como que para me torturar, mas não aguentas o que tu própria sentes, e sentes imensamente o que eu quero, prometido desde há umas horas atrás, e de uma vez só fazes-me deslizar para a tua boca, ao longo da tua língua, envolvendo-me o mais que podes, sugando com suavidade, apertando-me o caralho entra a língua e o palato, enches-me de sensações, agarro-te o cabelo, massajo a tua cabeça, acompanho os movimentos enquanto me fodes suavemente com a tua boca, vibro com a sensação, ao mesmo tempo que reúno esforços para me conter, para não inundar a tua boca, embora o queira fazer ao ponto de deixar de pensar e só sentir, e tu sabe-lo, e sentes na tua boca.

Paras, levantas-te, sentas-te na secretária, puxas-me para o meio das tuas pernas, eu faço um esforço sobre-humano para não entrar em ti, colo o meu sexo ao teu, faço o meu caralho deslizar na tua nona encharcada, foço pressão contra o teu clítoris e apeteces-me…

…tanto…

…mas tanto…

-Mete… - pedes languidamente.

Não acedo ao teu desejo e continuo.

-Mete… - insistes, mas eu continuo a não o fazer.

-Fode-me. – Ordenas imperiosamente, e eu acedo a tua ordem e entro em ti, todo, de uma só vez, sem contemplações, deslizo ao longo da tua cona inundada mas apertada, fundo, colando as nossas púbis, deixando-me ficar dentro de ti, provocando-te um grito que é um misto de dor, paixão e tesão, sinto a tua cona a dilatar para me albergar, sinto a tua respiração entrecortada, tremes, expiras finalmente, gemes…

-Foda-se…

…dizes baixinho, a tua cona contrai-se à volta do meu caralho, massaja-o, como se o quisesse deglutir, comer, gemes ainda mais, pulsas e vens-te e eu deleito-me com o teu orgasmo, saio quase todo, volto a entrar com ânsia de ti, com a tesão acumulada da espera e fodo-te, de forma animalesca, quero que me sintas inteiro em ti, deliro com a tua cona, com os teus sons de prazer, quero vir-me contigo e em ti, entro em ti o mais que posso a cada movimento, sinto-te, sei que o teu orgasmo chega galopante e…

…acompanho-te…

…venho-me copiosamente dentro de ti…

…e quando acabo, ajoelho-me aos teus pés, lambo-te, limpo-te, sugo-te até teres um novo orgasmo contorcendo-te em cima da secretária, e levo, por fim, a minha boca à tua carregada com o sabor de ambos.

Descansamos um pouco lado a lado a tu teres tensões de te erguer.

-Tenho de ir… - dizes com pena na voz.

-Eu sei, mas espera.

Pego no fio dental, faço-o deslizar ao longo das tuas pernas até onde posso. Depois, tu pões-te de pé e eu acabo de te o vestir.

-Uma promessa é uma promessa. – Digo-te com um piscar de olho.

-Sim, … - respondes tu - …e tu cumpres sempre as tuas…

Encarnação

Entraram no bar as duas e pareceu que tinha havido uma pequena pausa.

Deixem-me falar um pouco delas.

A loura entrou à frente. O cabelo, brilhante, cuidado, levemente ondulado, caia-lhe em cascata até um pouco abaixo do meio das costas e emoldurava o rosto de um anjo, pele branca e imaculada, lábios muito bem delineados e uns olhos azuis límpidos, rosto desenhado por um qualquer pintor renascentista.

Vestida para a noite, sensual, botas de salto um pouco abaixo do joelho, calças justas, coladas a um corpo com todas as medidas certas, uma camisa que lhe assentava larga e meio esvoaçante e que deixava tudo à imaginação e que tomava forma quando chegava ao peito com as proporções exactas…

Toda a gente se virou para ela conforme entrou e teve o título de rainha do bar. Pelo menos durante uns dez segundos porque depois passou a ser uma gaja exactamente igual às outras todas. É que atrás dela, vinha a amiga.

Se me pedissem uma definição de luxúria e sensualidade, apontava para ela e a resposta estaria dada.

O corpo!

Uma pernas que pareciam não acabar, metidas numas boas de salto alto de cabedal preto, justo à pele, desenhando-lhe o contorno da perna até um pouco acima do joelho, partindo dai umas meias de rede que paravam abruptamente, com grande pena de todos os que a observavam, uns centímetros mais acima onde começava um vestido preto completamente colado ao corpo, elástico, que não só lhe realçava as proporções divinais como acompanhava a fluidez do seu movimento, e que subia até acabar num generoso decote que lhe cobria os seios livres cujos mamilos ameaçavam furar o tecido leve, deixando a partir dai ver a pele contrastantemente bronzeada por um qualquer sol exótico, dando-lhe uma compleição morena que fazia com que os olhos azuis, intensos, límpidos, faiscantes fluorescentes ficassem realçados no meio daquele rosto que era lindo, um rosto de mulher, um rosto que embora suave estava longe de ser angelical, tinha antes algo tentador, convidava à perdição, ainda para mais emoldurado como estava pelo cabelo longo, escorrido, brilhante, ruivo claro, louro escuro, não consigo precisar, mas que parecia fogo liquido enquanto ela andava.

Todas as mulheres que estavam no bar, incluindo a amiga, deixaram de existir e tiveram plena consciência disso.

Deixem-me desde já esclarecer uma coisa; eu, embora seja um empedernido exemplar heterossexual masculino, não tenho o hábito de olhar para uma mulher e babar. Mas adoro apreciar a forma, da mesma maneira que gosto de contemplar uma obra de arte, uma pintura ou escultura que me prendam os sentidos e me fascinem com a forma. A forma feminina, pela beleza, suavidade e fluidez, merecem a minha contemplação enquanto definição de beleza…

…tal como, por exemplo, o quadro da Mona Lisa, de Da Vinci. E nunca me passou pela cabeça fazer sexo com o quadro.

Isto não faz com que a mulher seja vista por mim como um objecto. De forma alguma. Mas é vista como um poema em movimento.

Mas a história não começa aqui!

Para contar esta história tenho que ir mais atrás.

Uns meses antes o meu telefone tocara inesperadamente, como era seu costume, aliás, e eu, como era habito meu quando semelhante coisa acontecia, atendi.

-Eu queria falar com o Ulisses, por favor… - disse uma voz feminina do outro lado.

-É o próprio!

-Olá. Não me conheces, mas eu sou a R., e sou irmão da P.

A P. era uma moça que eu conhecia há já algum tempo. Já tinha visto a R. de relance, mas nunca tínhamos falado. Fiquei surpreendido de ela me estar a ligar, mas não comentei. Ela continuou.

-Olha, eu sei que é esquisito estar a ligar-te assim, mas precisava de um favor…

-É sexo? – Perguntei eu aparentando uma seriedade absoluta.

Do outro lado ficou um silêncio embaraçoso, embaraçado, uma longa pausa de alguém que não sabia o que dizer. Finalmente respondeu.

-Não…!!!

-Ainda bem, porque se fosse eu não estava disponível.

Soltou uma gargalhada sonora quando percebeu que apenas brincava com ela. Eu perguntei:

-De que é que precisas então?

-É assim. Estive a falar com o M. porque precisava de gravar um CD com umas coisas para a faculdade, mas ele não pode e disse-me que talvez tu pudesses…

Para esclarecer digo desde já que isto se passou há tanto tempo que os gravadores de CD eram algo extraordinariamente raro, mais ainda do que os Tigres de Bengala, mais do que o Lince da serra da Malcata, e tão estupidamente caros que custavam o dobro do preço do computador onde eram encaixados que não era, já de si, muito barato.

-Claro, sabes onde é que eu moro?

Lá lhe dei as indicações e meia hora depois ela chegava a minha casa. Era uma miúda gira, muito gira. Não era o protótipo da gaja boa, embora fosse bem torneada, mas aquilo que chamava mesmo a atenção nela eram os olhos vivos e inteligentes e o sorriso fácil. E depois, falar com ela era um gosto. Fazia um uso peculiar de um sentido de humor carregado de ironia.

Ficamos amigos nesse dia, mesmo amigos. Descobrimos alguém com quem falar francamente, e não fora eu andar perdido em elevadores na altura em que a conheci, creio que não a teria deixado escapar. Apreciava mesmo a sua companhia, e acho que ela apreciava a minha.

Começamos a sair juntos algumas vezes, em noites em que eu não estava ocupado, e íamos a um bar ou outro ver música ao vivo e ganhávamos horas de conversa.

Foi precisamente numa dessas saídas, já uns meses depois de eu deixar de andar perdido em elevadores, numa noite em que tinha recebido uma chamada de um dos elementos da banda que estava a tocar a perguntar que eu queria ir ver o concerto de lançamento do álbum deles e a tinha convidado, que vi pela primeira vez aquelas duas amigas.

Estávamos os dois em amena cavaqueira quando eu me virei para ela e perguntei:

-Desculpa lá, mas vocês, as mulheres, são umas verdadeiras cabras umas para as outras, não são?

-Porque é que perguntas isso?

-Pá, se eu estivesse aqui sentado, sozinho, ninguém me ligava patavina, mas como estou aqui contigo e tu até estas arranjadita e até pareces girinha, já houve umas quantas a olhar para mim e a pensar “hummm!”…

-Pá, estúpido… Mas estou gira hoje não estou?

-Pá, eu comia-te na boa…

-Obrigada. Vindo de ti é um elogio.

E foi nesta altura que elas entraram e ela vê a ruiva e volta-se para mim com um ar completamente aparvalhado e diz:

-Pois olha que eu não gosto de mulheres, mas comia aquela ruiva!

O que me levou a olhar e a ficar parado a pensar se olhava para uma bússola de forma a poder ajoelhar-me no chão virado para meca e agradecia a Ala, embora não seja muçulmano, se dava a existência dela como prova concreta de que Deus existia a uma qualquer sociedade científica, ou se, pela súbita e invulgar tesão que senti, a admitia como encarnação de uma qualquer criatura infernal que teria vindo apenas para puxar mais umas quantas almas para o inferno…

Com a dúvida sobre as várias hipóteses era imensa, optei pelo mais sensato e fiquei quieto, parado e calado, preso a cada movimento daquela criatura…

…o que me leva, finalmente à história…

O que mais me fascina num grupo de pessoas são as interacções, e, quando estamos atentos, há sempre algo que sobressai.

Uma mulher como aquela ruiva, no meio de um bar, roubando todas as atenções para si e ofuscando todas as outras presenças femininas, tem um efeito estranho.

Após o embate inicial em que todas as mulheres se sentem chutadas para canto, a verdade é que a competitividade acaba por emergir e de repente todas querem ser melhores que ela, e, para isso, acabam por vezes por tomar opções que não tomariam e de que se arrependem mais tarde e por consumir mais álcool do que o que seria normal, na esperança de se tornarem mais afoitas e de libertarem a “sex symbol” que vive no interior de cada uma delas.

É minha firme opinião que deveria ser obrigatório por lei que cada bar tivesse em cada noite em que está aberto uma mulher assim. E porquê?

A mera presença dela aumentava astronomicamente as hipóteses de qualquer homem que ali estava sozinho de sair acompanhado, e dos que estavam acompanhados de chegar a porto seguro nessa noite. De repente todas as mulheres do bar queriam ser sensuais e glamourosas, numa tentativa de prender as atenções que estavam concentradas apenas naquela fêmea…

…e que fêmea.

Mas a minha história não continua aqui, neste bar, nesta noite, embora tenha sido a noite em que a observei, curioso, bem como à criatura angelical e desprezada que a acompanhava. E apesar do primeiro impacto me ter deixado deslumbrado, o facto de estar ali com uma excelente companhia e de não estar à procura de nada, fez com que passado pouco tempo a presença dela se começasse a desvanecer do meu espírito. Não que não olhasse para ela. Era impossível não o fazer. Mas não olhava com qualquer intenção de me aproximar ou com qualquer outra intenção que não fosse observar a rara beleza estética e harmonia de movimentos que ela tinha.

A minha história continua uma semana depois.

Fui sozinho para o Jardim do Tabaco para ver a banda de bares desses mesmos meus amigos. Cheguei cedo, como era meu costume. Muitas vezes chegava quando a banda ainda estava a fazer o ensaio de som, ajudava, e saia com eles para ir jantar e estarmos “na bacorada”.

Dessa vez, no entanto, quando cheguei não estava ninguém, pelo que, estando o bar praticamente vazio, escolhi uma mesa mais ou menos recatada que me desse uma boa visão do palco e do resto do bar. Estranhei a disposição das mesas, sendo que em frente ao palco havia uma correnteza delas com um cartão de “reservado”, mas não liguei muito.

Pedi uma bebida e deixei-me ficar apreciando o espaço, decorado com muito bom gosto, na companhia dos poucos que por ali estavam, e perdendo-me nos meus pensamentos.

O bar foi enchendo sem que eu desse por isso, de tão perdido que estava, até ao momento em que chegaram os meus amigos, as estrelas da festa. Entraram, viram-me e vieram direitos a mim.

-Olha o que anda por aqui hoje… Não me digas que atravessaste a ponte só para nos vir ver…

-É verdade, pá. Estava aborrecido e resolvi sair para ouvir barulho…

-Sim, que se estas na esperança de ouvir alguma coisa parecida com musica hoje, ouvi dizer que os “não-sei-quantos” estão a tocar em Santa Iria. – Brincou um deles.

-Não, vim mesmo só para ouvir barulho, por isso acho que estou no sítio certo.

-Mas estás sozinho ou ela foi retocar a maquilhagem?

-Não, estou sozinho, mesmo.

-Pá então não ficas ai.

-Então?

-Vens para ali para a frente, para a mesa VIP. É que hoje temos ai o pessoal da editora e mais uns quantos gajos, e por isso é que aquelas mesas estão ali. Sentas-te lá. Sempre ficas com o barulho mais próximo.

Aceitei a sugestão. A mesa, aliás o conjunto de mesas era comprido pelo que me sentei numa das pontas que ainda estava vazia sendo que a outra tinha já algumas pessoas que eu não conhecia e deixei-me estar.

Rapidamente foi chegando mais gente e a mesa foi sendo preenchida. E qual não foi o meu espanto quando percebi que estava à mesma mesa com o Joaquim de Almeida, que fumava o seu charuto e bebia um whisky, dois ou três jogadores do Futebol Clube do Porto que estavam ali porque tinham tido jogo com o Benfica nessa tarde, e com mais algumas pessoas que aparentemente eram conhecidas de toda a gente, embora eu não fizesse ideia de quem fossem. Nunca liguei muito ao “Jet Set”…

Mas foi então que elas chegaram, para meu espanto, causando o impacto que eu já tinha visto na semana anterior e se sentaram na mesma mesa que eu a muito pouca distância…

Tenho de o afirmar:

A verdade é que a própria proximidade daquela mulher me incomodava, ao ponto de eu quase não conseguir olhar para ela.

Ela sentia o poder que tinha e divertia-se com isso, deleitava-se, alimentava-se disso.

O concerto foi decorrendo, o som alto demais para me aperceber de conversas que pudesse haver entre elas e as outras pessoas que estavam ao pé de mim e que as conheciam. O meu incómodo e fascínio por ela não desvaneciam. Até que…

Houve uma altura em que os nossos olhares se cruzaram e ficaram. E foi ai que eu percebi. E o fascínio, de repente, desvaneceu-se. Ela não era, afinal, nenhum avatar, nenhuma deusa encarnada. Era uma casca, uma aparência, alguém que tinha investido tanto no que parecia que descurar tudo o resto. Para lá da aparência, do aspecto, do charme, havia algo que falhava, embora, se me perguntassem, eu não conseguisse dizer o quê.

Mas, fosse o que fosse, tinha-se quebrado o encanto e, aos meus olhos ela saiu do pedestal e passou a ser apenas mais uma mulher no meio de tantas outras que por ali havia. E o engraçado é que ela notou essa mudança em mim e reparei o quanto, subtilmente, isso lhe abalou a confiança. E daquele momento em diante deixei de me sentir incomodado pela presença dela, deixei de não conseguir tirar os olhos dela, e voltei a ser eu próprio, sem fascínios nem deslumbramentos.

A amiga, o anjo louro que a acompanhava, notou também qualquer coisa de diferente após o nosso cruzar de olhares e pareceu intrigada.

A noite continuou, comigo a ir travando conhecimento com as pessoas mais próximas, no que fui ajudado pelo intervalo no concerto em que os artistas desceram do palco e, enquanto o vocalista e o baixista foram ter com pessoas do outro lado da mesa, o resto veio para o pé de mim. Uma vez que não havia lugares sentados para todos, levantei-me e ficamos ali, na conversa, com piadas de músico que mais ninguém entende, e às vezes nem os próprios músicos, num momento de pura descompressão, para eles, e descontracção para mim.

Quando eles voltaram para o palco, ao sentar-me, olhei para os olhos do anjo, e ai sim, descobri algo de raro e precioso. A personalidade doce passava num olhar límpido, e no entanto, bem lá no fundo, por baixo daqueles lagos azuis queimava um fogo que lutava por se libertar. Tinha algo de intangível e que, suspeitava eu, se mantinha contido pela contínua presença da amiga. Ela, embora fosse lindíssima, sentia-se sempre o patinho feio. Mas hoje não era. Para mim não era. E ela percebeu. E sorriu. E eu também…

Mal suou o ultimo acorde do concerto a música de dança invadiu o espaço tornando aquilo que parecia um bar de rock numa autentica discoteca. A mutação do ambiente fez com que este deixasse de combinar com a minha personalidade, e deixou-me algo desconfortável. Ainda assim, deixei-me ficar porque tinha já oferecido a minha ajuda para arrumar o palco e carregar o material da banda para a carrinha.

Enquanto eles ainda descontraiam falando com os amigos e conhecidos após o concerto, eu subi ao palco e fui-me entretendo a enrolar cabos, escudado pelos amplificadores dos instrumentos. Dali tinha uma panorâmica sobre tudo o que se passava no bar.

O espaço que estava para além das mesas tinha-se transformado rapidamente numa pista de dança. Lá, a ruiva era a rainha indisputada de todas as atenções…

…excepto da minha.

Ao lado dela o anjo loiro dançava de forma mais contida e menos exuberante. Repararam ambas que eu as observava. A ruiva, talvez porque tivesse notado que há pouco tinha deixado de lhe dar importância, quis acentuar o meu interesse insinuando-se, olhando directamente para mim como que dizendo “sei que me estas a ver” e dançando de uma forma que estava a fazer crescer a água na boca de quase todos os homens ali presente…

…e de algumas mulheres também.

A loura reparou também que eu olhava, mas, vendo a reacção da amiga, acanhava-se. Creio no entanto que foi percebendo que o meu olhar repousava mais sobre ela do que sobre a amiga.

Fui pagar a minha despesa e sai com a banda pela porta lateral enquanto os ajudava a carregar o material para a carrinha que os levaria de volta a casa. Estava a carrinha já carregada quando elas saíram e se dirigiram a nós. Conheciam os elementos da banda e deram-lhes os parabéns pelo concerto, falaram riram…

Se por um lado me apetecia entrar na conversa, por outro lado a minha vontade de chegar à loura podia levar a interpretações da parte dela e da ruiva que eu não queria. Assim sendo, fui fumando o meu cigarro com calma enquanto observava o desenrolar da conversa.

Mas, costuma-se dizer que tudo o que tem de ser tem mesmo de ser e não há volta a dar. E não houve.

Aquando das despedidas a ruiva volta-se para o pessoal da banda e pergunta:

-Vocês por acaso não podiam dar boleia à Ana?

E eis que soube o nome do anjo.

-Não, pá, temos a carrinha completamente atulhada…

-É pena. Se pudessem sempre evitava ir e voltar à margem sul…

E eu falei finalmente e dirigi-me directamente à Ana.

-Pá, eu vou para a margem sul. Se quiseres vir comigo…

-Não quero dar trabalho…

-Não dás, de maneira nenhuma. Até aproveito a companhia. Ia sozinho, de qualquer maneira…

Ela, relutantemente, acabou por aceitar, e, após as despedidas, levei-a até ao meu carro, onde não tive qualquer gesto de cavalheirismo em relação a ela.

Ela entrou, apertamos os cintos de segurança, arranquei o motor do carro para ir aquecendo um pouco, coloquei uma música suave, porque já bastava o assalto sonoro a que nos tínhamos submetido durante toda a noite, e arrancamos.

Seguimos em silêncio até ao tabuleiro da ponte. Foi ela quem o quebrou.

-Podes perguntar…

-O quê?

-Aquilo que queres perguntar…

-Vais ter que me esclarecer, porque eu perdi-me!

-Aposto que estás curioso acerca da Júlia.

-A tua amiga?

-Sim.

-Não, não estou. Era suposto estar?

-Normalmente toda a gente está. Porque é que tu havias de ser uma excepção?

-Não sei se sou ou não, mas de facto não estou.

-Porquê?

-Porque é que não estou?

-Sim!

-Porque acho que já sei tudo dela que me interessaria saber. Não te vou dizer que ela não causou impacto, quando a vi. É de uma beleza arrebatadora. Mas, infelizmente, não há nada para além disso.

Ela fitou-me surpreendida.

-Achas mesmo isso?

-Acho. Acho inclusivamente que tu és bem mais interessante que ela…

Ela corou, mas olhou para mim desconfiada. Percebia-a perfeitamente. Quantos não teriam sido já os tipos que tinham dado em cima dela, não por ela, mas pela amiga?

-Porquê?

Olhei para ela com o sobrolho levantado.

-Sabes, podes estar habituada a estar em segundo plano, e se calhar até gostas disso. Chateiam-te menos. Mas a verdade é que és uma mulher extremamente bonita e há algo em ti… Nem te sei dizer bem o que é, mas é extremamente apelativo.

Ela corou ainda mais e calou-se.

Parei nas bombas de gasolina, quase logo a seguir, para ir comprar tabaco.

-Queres ir beber um café? – Perguntei-lhe – Estou a precisar de um.

-Não, obrigada.

-E fazes companhia?

-Faço, isso faço.

Entramos, eu comprei o tabaco e bebi o café, voltamos ao carro.

O nosso olhar cruzou-se quando abríamos as portas.

Entramos.

Sentamo-nos.

Passei-lhe o braço por detrás, puxei-a para mim sem esforço, uma vez que ela se entregou e os nossos lábios colaram-se enquanto as nossas línguas iniciaram um bailado angelical…

…e quando finalmente quebramos o beijo ficamos olhos nos olhos, completamente afogueados e assoberbados a olhar um para o outro sem saber como reagir.

Fui eu o primeiro a falar.

-Se calhar é melhor sairmos daqui, não?

Ela sorriu.

-É melhor…

Arranquei e sai da estação de serviço e entrei novamente na auto-estrada. Os olhos dela refugiam ao meu lado, o seu sorriso por demais lindo…

-Leva-me a um sítio bonito!

Eu sorri. Dei-lhe a mão.

E, por uma vez, fui um mocinho bem mandado…



---



Parei o carro, puxei o travão de mão, desliguei o motor e com isso matei as luzes e a música de uma assentada. Olhei para ela, olhos nos olhos, com um sorriso.

-Sai. – Pedi-lhe, enquanto abria a minha porta.

Saímos os dois e ela esbugalhou os olhos.

-Lindo! – Exclamou com um sorriso suave.

Estávamos parados exactamente a meio da única pequena recta que corre ao longo da crista da Serra da Arrábida, submergidos na mais completa escuridão pontilhada na distância por um céu carregado das estrelas que desaparecem sob a luz das cidades, e vendo todas as pequenas luzes ordenadas no chão em linhas que se entrecruzam e criam luzes maiores na distância, com todas as suas cores, brilhos, intensidades, uma manta de retalhos que de estende a norte até onde a vista consegue alcançar através do vale do Tejo, e a sul pelo Sado, as luzes de Tróia e o mar mais adiante. O som era apenas o daquele ambiente semi-selvagem.

-É bonito o suficiente?

-Nunca pensei que isto existisse. Claro que gostava da serra, mas este sítio… É como estar no topo do mundo.

-Neste momento estás no topo do meu mundo.

Ela olhou para mim com uma candura que me tirou, literalmente, o fôlego.

Cheguei-me a ela, puxei-a para mim pela cintura, envolvi-a e beijei-a com vontade, e senti-me puxado por ela, atraído, envolvido, rendido, subjugado. Era um beijo voraz mas calmo, intenso mas lento, tentador, solto mas chegado.

Não sei quanto tempo tivemos ali, perdidos naquele beijo, tapados por um manto de estrelas. Depois, acabámos por voltar ao carro e ficamos um pouco em silêncio a apreciar a paisagem através da janela. Mas o apelo por ela era grande, e os beijos voltaram e começaram as caricias, mãos percorrendo o cabelo, afagando o pescoço, e depois tornando-se mais afoitas e começando a explorar o corpo, aos poucos, meio a medo, testando para sentir a reacção…

…o passar ao mão por sobre o peito, sentir a aceitação…

…o começar a desembaraçar da roupa, devagar, sempre à espera da altura de parar…

…e a fazer uma prece silenciosa para não ter de o fazer…

…sentir a pele, o arrepio do primeiro toque…

…admirá-la desnuda, soberba, linda…

…olhar o rosto desenhado e ver o fogo a crescer nos olhos enquanto se sente esse fogo a acender num mamilo entumecido que se ergue respondendo ao toque e querendo mais…

…sentir a roupa como algo de supérfluo, e abandonarmo-nos à nudez, revelando-nos um ao outro…

…sentir o seu primeiro toque, meio a medo, nervoso de excitação em mim…

…tocá-la e senti-la, suave, quente, muito quente, sentir a vontade dela…

…parar como que a perguntar “Queres mesmo isto?”, procurar a certeza da certeza que nos falta…

…ter a certeza num sorriso doce de resposta, numa afirmação, numa vontade escrita a fogo no olhar…

…confirmar essa vontade num beijo apaixonado…

…mergulhar um no outro e sentir…

…êxtase?!?

Fazer amor de uma forma tão lenta, o habituar dos corpos, devagar a fundirem-se…

…o não querer que aquilo que se sente cá dentro nunca mais acabe, que nunca parta de nós…

… a inevitabilidade do fim que se tenta atrasar até ao limite, tanto que quando, não mais se consegue conter o corpo, se tenta atrasar o tempo…

…perceber o que é a eternidade…

…perceber o que é a unicidade…

…fazermos sentido!

E depois?

Depois é o prolongar da sensação nas caricias sentidas, nos beijos que não se consegue evitar.

Foi este o dia em que percebi o que é ser tocado por um anjo!

Não mais voltei a estar só…

Todas as Mulheres têm uma fantasia...

Olhou para o número na porta e parou. Respirou fundo. Sentia uma curiosidade enorme pelo que estaria do lado de lá, mas sentia a incerteza do desconhecido.

De manhã, quando se levantara, não pensava que poderia estar aqui, agora, a meio da tarde, num corredor deserto de um hotel em frente a uma porta.

A insegurança tomou conta de sí e reviu mentalmente os passos que a haviam trazido até aqui.

A chegada ao trabalho esta manhã tinha sido como em qualquer outro dia. A diferença é que, por causa das graves de transportes, o edifício estava quase vazio, com apenas meia dúzia de pessoas que moravam perto a comparecer.

Sentou-se no seu local, em frente ao seu computador, reviu as poucas coisas que tinham transitado para o dia de hoje, tentou fazer alguns telefonemas para outras empresas e para fornecedores, mas a situação era a mesma em todo o lado.

Ao fim de pouco tempo acabou por desistir.

Resolveu entreter-se a navegar na Internet, sem rumo, de uma página para a outra…

…parou num blog de contos eróticos.

Leu um conto, e depois outro, deixou-se levar pelas palavras, sentiu-as, como se fossem dirigidas a si, sentiu a calor a espalhar-se pelo corpo, a despertá-lo, sentiu desejo.

Não quis deixar comentários, mas enviou um e-mail da sua conta pessoal a elogiar as palavras do autor do blog. Recebeu uma mensagem de resposta logo em seguida, a agradecer os elogios e com um convite para um chat.

Olhou algo desconfiada, mas a falta de proximidade, a impessoalidade da maquina que tinha à sua frente deu-lhe confiança e acabou por aceitar. Assim que entrou no chat apareceu uma mensagem.

“olá”

“olá”

“queria apenas agradecer de uma forma mais pessoal as palavras do e-mail. Gostei muito dos elogios. Obrigado”

“de nada. Adorei o que li. Foi a primeira vez que visitei o blog”

“então ainda mais agradeço. A primeira vez?”

“sim, por norma estou muito ocupada para viajar na net, mas com as greves e metade dos sítios a trabalhar a meio gás, hoje tive um bocadinho, comecei a andar de página em página e nem sei como cheguei lá, mas adorei”

“Obrigado, sinceramente. Ainda bem que tiveste algum tempo, então J. Posso perguntar quais os textos que leste?”

Embrenharam-se numa conversa que foi fluindo com facilidade, mais facilidade do que ela esperava. Pelo caminho foi notando algumas insinuações elegantes às quais ela ficava com dúvidas se seriam isso mesmo, ou se seria impressão sua pelo fogo ateado pelos textos que tinha lido. De qualquer forma sentia-se solta a falar com aquele estranho que guiava a conversa subtilmente para campos cada vez mais pessoais.

Deu consigo a confessar que os textos a haviam excitado bastante, confisão essa que foi acolhida com agrado e gratidão do outro lado.

Dai a não muito tempo descreviam-se fisicamente um ao outro, e eis que chega a pergunta:

“posso saber como é que estás vestida?”

“podes. Mas porquê?”

“para imaginar melhor…”

“não estou nada de especial, para ser franca. Tenho uma camisa branca, uma saia preta travada pelo joelho, meias de mousse pretas, sapatos de salto, e embora tenha o cabelo comprido, está apanhado.”

“só te falta uns óculos para te dar um ar de secretária executiva…”

“não faltam, e é isso mesmo que eu sou.”

“A sério?”

“mesmo”

“LOL

Mas olha, não descreveste o resto…”

“o resto?”

“Sim, falaste-me do exterior, mas tens mais coisas vestidas não tens?”

Ficou a olhar para o monitor, sem saber se havia de jogar este jogo ou não…

…mas sentiu-se marota, uma miúda a fazer uma travessura...

…e resolveu responder.

“tou a usar um soutien branco, rendado, com suporte, para não se notar por debaixo da camisa branca. A parte de baixo é um fio dental, a condizer, porque a saia é justa e não gosto do efeito que as outras cuequinhas fazem, aqueles vincos no rabo por debaixo da saia.”

“parece-me interessante. Com suporte?”

“sim, o meu peito é algo… como dizer… volumoso?”

“hummm! Boa descrição. Quase consigo imaginar. Ainda para mais se o que leste te excitou, deves ter os mamilos rijinhos e a querer furar o soutien…”

“não tanto, mas já estive em melhor estado.”

“assim como já estiveste em pior…”

“Sim”

“e queres ficar em pior?”

Aquela pergunta arrancou-lhe um sorriso, tal como a fez erguer o sobrolho enquanto parou para ler devagar as palavras. Qual o mal de ser inconsequente? O anonimato podia permitir tudo.

“porque não?” – acabou por responder.

“estás sozinha?”

“hoje estou. Por causa da greve não apareceu mais ninguém…”

“…mais vale só…”

“mas não estou propriamente só. Tenho a tua companhia, ainda que apenas virtual”

“verdade. E diz-me, sentes-te atrevida?”

“neste momento, sim…”

“como é que tens abotoada a camisa?”

“Até acima, como manda o decoro. Só não está abotoado o último botão.”

“…e não queres desabotoar?”

“não queres que eu abra aqui a camisa, assim, pois não?”

“Não, só quero que desabotoes até abaixo do peito. Para fazeres um decote.”

“gostas de ver uma camisa assim desabotoada”

“bastante. É sempre uma promessa velada. Sabes que o que fica à imaginação é bem mais excitante do que o que é explicito. Pelo menos para mim…”

“para mim também, embora eu não goste de me expor.”

“mas neste momento não te estás a expor. Afinal estás sozinha…”

Era verdade. Ainda assim hesitou um momento. Mas depois começou a desabotoar os botões uma a um. Quando chegou ao sitio desejado parou e ajeitou a camisa. O volume do seu peito fez com que o decote se abrisse naturalmente.

“já está” acabou por lhe dizer.

“consigo imaginar. Diz lá que não te sentes mais sexy?”

“por acaso, já que falas nisso, sim, sinto-me mais sexy”

E eis que se sobressalta quando batem à porta do seu gabinete. Tenta compor-se um pouco.

-Entre. – disse.

Um jovem, um dos auxiliares, entra com alguns papeis para lhe entregar.

-Bom dia, onde é que posso deixar isto?

-Pode deixar ai em cima da secretária. – respondeu ela, tentando não dar atenção ou sequer olhar para o jovem.

Ele aproximou-se, pousou os papeis e foi notória a sua perturbação quando olhou para ela, mais concretamente para o decote, tendo ruborizado. Envergonhado, saiu muito rapidamente, fechando a porta atrás de si.

“vais-te rir” – disse ela para o desconhecido.

“então?”

“tinha acabado de ajeitar o decote quando entrou um moço para me deixar uns papeis.”

“e então?”

“se visses a expressão dele LOL”

“calculo. Deve ter ficado em bom estado, o rapaz”

“se calhar…”

“e tu? Diz lá que não te sentiste bem… Poderosa, talvez?”

“sim, admito”

“ficaste mais excitada ainda?”

“com o moço? Não.”

“não com o moço, mas com o facto de despertares tão facilmente a atenção. Polimento ao ego LOL”

“bem, sim, isso admito”

“Vou-te fazer um desafio”

“não sei se quero ser mais desafiada…”

“fica nas tuas mãos”

“então diz”

“levanta-te e vai trancar a porta do gabinete.”

Ela olhou para o relógio, era praticamente hora do almoço e tinha de admitir que este estranho a deixava curiosa. E se é verdade que a curiosidade matou o gato, também o é que quem não arrisca não petisca. Levantou-se, dirigiu-se à porta, trancou-a por dentro, voltou a sentar-se.

“já está. E agora?”

“agora toca-te por dentro da camisa. Sente o teu peito. Gostas de te tocar?”

Ela fez isso mesmo, sem questionar. Pôs uma mão por dentro da camisa e começou a acariciar o seu peito por cima do soutien. Soube-lhe bem, mas não só o toque, também a sensação de proibido que tudo aquilo lhe estava a proporcionar. O toque soube-lhe a pouco.

“gosto de me tocar” escreveu vagarosamente com a mão disponível.

Fez descer um pouco o soutien de um dos lados por forma a destapar o mamilo e começou a acariciá-lo sentindo-o cada vez mais duro à medida que a excitação se apossava dela.

“diz-me o que estas a fazer”

“desci um pouco o soutien e estou a acariciar o mamilo”

“molha os dedos com a língua e ensaliva o mamilo”

Ela obedeceu.

“já está”

“agora sopra…”

Ela fê-lo e o mamilo endureceu ainda mais com o frio do ar que passava sobre o molhado. Sentia o seu sexo a pulsar, sentia-se molhada.

“…é bom?”

“muito”

“estás ainda mais excitada?”

“sim”

“Estás com tesão? Apetecia-te foder”

“tanto”

“toca-te”

Ela nem pensou, levou as mãos ao meio das penas e começou a comprimir o clitóris ritmadamente por cima das meias e do fio dental que tinha vestido.

“estás a tocar-te?”

“sim” teclou com algum custo. Cada vez mais era difícil concentrar-se.

“como?”

“por cima da roupa, mas estou tão molhada que sinto a humidade nos dedos”

“mete a mão por debaixo da roupa e masturba-te para mim”

“e tu?”

“eu estou a tocar-me para ti”

Ela fê-lo, recostou-se na cadeira, abandonou-se à sensação, libertou os sentidos e deixou-se embalar até um orgasmo pulsante que a fez ignorar por completo o sitio onde estava.

Quando finalmente recuperou a compostura ele estava “offline” e ela ficou sem saber o que fazer. Mas acabou por sorrir, encolheu os ombros, levantou-se, arranjou-se, recuperou o ar profissional, mas não deixava de olhar para o chat e para o e-mail, à espera de algo mais.

Ao fim de uma hora, nada tinha acontecido. Este desconhecido espicaçava-lhe mesmo a curiosidade. Acabou por se decidir a enviar um e-mail.

“obrigado pela pedrada na monotonia” dizia simplesmente.

Trinta segundos depois tinha a resposta.

“Hotel X, quarto 415, às 16:00 Horas. Bate à porta. Espero-te”

Deu uma gargalhada quando leu o e-mail.

-Vai sonhando… - disse em voz alta.

Mas a verdade é que à medida que as horas iam passando a curiosidade ia aumentando e a luxúria e a tesão que tinha sentido não desapareciam, parecia que, antes pelo contrário se intensificavam, como se o convite explícito lhe causasse aquele fogo.

Passava pouco das três e meia quando se levantou, vestiu o casaco e saiu porta fora em direcção ao hotel…



No elevador tinha repetido de diversas formas uma qualquer espécie de apresentação ao desconhecido que a aguardava, ensaiado sorrisos, gestos, mas de alguma forma todos pareciam ocos e artificiais.

Afinal de contas, nada se adequava às circunstâncias. Não sabia o que esperar, sentia medo, mas ao mesmo tempo uma curiosa excitação.

E eis que se encontrava agora aqui, à porta do quarto indicado, sem saber o que fazer. Olhou para o relógio. Passavam dois minutos da hora marcada.

Respirou fundo.

Bateu à porta meio a medo e esperou uns instantes.

-Está aberta. - Ouviu uma voz abafada do outro lado.

Ficou a pensar que esperava um pouco mais de cavalheirismo, mas, por outro lado não fazia ideia do que estaria para lá da porta.

Abriu a porta.

A sala tinha as paredes brancas, dois sofás de veludo para uma pessoa em tons encarnado escuro, e uma pequena mesa de suporte com uma garrafa de vinho tinto e alguns copos, estando apenas um deles cheio.

Um homem, elegante, vestido num fato azul-escuro, levanta-se quando ela entra, dirige-se a ela de uma forma absolutamente calma.

-Perdoe-me o facto de não lhe vir abrir a porta, mas queria que a escolha de entrar ou não fosse única e exclusivamente sua. – disse, e cumprimentou-a de forma cordial, formal mesmo.

-Não faz mal. Compreendo.

-Aceita um copo de vinho?

-Sim pode ser.

-Sempre ajuda a descontrair, não é? – perguntou ele enquanto servia o copo.

Ela sorriu, algo nervosa.

Ele acabou de servir o copo dela, mas pousou-o na mesa. Voltou-se para ela.

-Não quer tirar o casaco? Parece estar pronta a fugir…

Ela assentiu com a cabeça e ela aproximou-se e num gesto delicado ajudou-a a tirar o casaco, pendurando-o em seguida num bengaleiro próximo. Depois, convidou-a a sentar-se no local que não estava antes ocupado, o que ela fez, pegaram nos copos. Ele fez um pequeno gesto de saúde e beberricou. Ela, talvez fruto do nervoso, sorveu o liquido de uma vez, sentindo logo em seguida as faces ruborizar.

Ele sorriu e, quando ela pousou o copo, limitou-se a servi-la novamente. Ela voltou a pegar nele e desta vez deu apenas um pequeno gole. Olhou para ele, e viu um homem com um ar jovial, com uma maneira de estar e de ser a um tempo soltas e desprendidas, mas também perfeitamente suaves e cavalheirescas. Não era brusco, nem no olhar, nem no movimento, mas era absolutamente intenso e, contrastando consigo própria, não aparentava estar minimamente nervoso.

Olhou então em volta, percebendo que aquela sala era apenas a antecâmara do resto do quarto e para além de um pequeno corredor estava uma enorme cama.

Ele limitou-se a observá-la em silêncio e ela sentia-se constrangida, sem saber como agir. Resolveu-se a falar, por fim.

-Peço desculpa mas, como deve calcular, toda esta situação é uma novidade para mim…

-Acredito, mas não tem porque estar constrangida.

-Sabe, sou casada, adoro o meu marido…

-Percebe-se. No entanto, todas as mulheres têm uma fantasia, não é? Não é excepção…

-Mas nem sei como agir…

Ele sorriu.

-Porque é que não começa por fazer um strip?

-Para si?

-Não. Para si.

Ela pegou no copo, deu um gole pequeno, mas não se conteve e bebeu o resto de uma só vez em seguida. Ele sorriu do nervosismo dela, levantou-se e abriu uma porta completamente espelhada por trás, no lado completamente oposto aos sofás, naquela divisão. Depois, estendeu-lhe a mão, convidando-a a ir para junto dele.

Ela hesitou por uns momentos, mas acabou por ceder, levantando-se e juntando-se a ele. Ele guiou-a ate estar em frente ao espelho, pôs-se por trás dela, colocando-lhe as mãos nos ombros e olhando-a profundamente no reflexo dos seus olhos.

-É uma mulher lindíssima, madura e sensual. Quando foi a ultima vez que se despiu apreciando-se? Mas apreciando-se devidamente?

Ela não tinha resposta. Não se lembrava. Se calhar nunca.

Ele saiu de trás de si, voltou ao sofá e sentou-se, observando tanto as suas costas como o seu reflexo no espelho. Ela olhou-se de alta abaixo. Sentia-se sexy.

Nervosamente, começou a desapertar a camisa. Resolveu levar o seu tempo, não o fazendo de forma automática mas sim deliberadamente, abrindo a camisa a cada botão, vendo-se, vendo a pele a ficar destapada, sentindo-se mais solta a cada gesto deliberado. Acaba de desabotoar a camisa, mas deixa-a vestida, soltando o cabelo e abanando a cabeça para fazer o cabelo ficar mais natural, e só em seguida desaperta os botões dos punhos. Concentra-se só em si, embora esteja consciente da presença dele. Exibe-se a ambos, enquanto tira a camisa de costas bem erguidas, erguendo o peito e apercebe-se, num exercício puramente narcisistico que é apetecível.

Num gasto lento, penosamente lento e sensual, desaperta a saia e fá-la deslizar ao longo das pernas, até ao chão, curvando-se, exibindo-se e sentindo o contorno das suas pernas. Ergueu-se novamente, deu um pequeno passo atrás para sair de dentro da saia. Apreciou-se vestida apenas de saltos altos, maias pretas com cinto de ligas, fio dental e soutien brancos. Estava excitada. Olhou para o reflexo dele no espelho e era óbvio que estava cativo de cada movimento seu. Liberta, provocou-o deliberadamente enquanto tirava o soutien languidamente, até deixar os seus peitos desnudos e soltos.

Observou-se ao espelho. Sentia-se molhada e pronta para se deitar com ele, e o sentimento só a excitava ainda mais…

…e eis que os seus pensamentos são interrompidos quando alguém bate à porta.

Sobressaltou-se, olhou para a porta e olhou para ele, que continuava a exibir uma calma e um controle fora do comum, calma essa que a confundia. Era obvio que ele, enquanto ela se despia, apreciava cada movimento, cada centímetro do seu corpo, e no entanto não havia nele qualquer reacção que não fosse de puro cavalheirismo.

E agora, neste momento, limitou-se a levantar-se e caminhou em direcção a ela e à porta. Ao chegar ao pé dela limitou-se a dizer com um sorriso:

-Não se preocupe, é apenas a minha mulher.

Ela ficou sim pingo de sangue.

-O quê? – perguntou enquanto se baixava rapidamente para apanhar a camisa para se cobrir.

-A sério, não se preocupe. – voltou a afirmar enquanto se virava para abrir a porta não lhe dando tempo para vestir a camisa. Ela limitou-se a pô-la atabalhoadamente à sua frente, cobrindo o peito enquanto ele abria a porta e deixava entrar uma mulher.

A mulher era loura, com o cabelo comprido a cair numa cascata de caracóis largos até quase à cintura, pequena e magra, com uma pele branca que lhe dava um ar de boneca de porcelana, um ar frágil e tímido. O rosto era lindíssimo, como se tivesse sido finamente desenhado, com uns lábios carnudos realçados por um batom de um encarnado vivo que fazia parecer que todo o seu sangue se concentrava ali. A maquilhagem suave que usava era perfeita para realçar os olhos verde jade, lindos e intensos, mas que espelhavam toda a timidez dela.

Vestia uma gabardine comprida que a tapava por completo até bem abaixo do joelho, com um cito que a ajustava à sua silhueta, o que deixava adivinhar que seria magra mas não deixava adivinhar as suas formas.

Trazia consigo uma caixa embrulhada.

Deram os dois um suave beijo nos lábios, ele fechou a porta e voltou a sentar-se no sofá. A mulher voltou-se finalmente para ela.

-Olá, eu sou a Rute. – disse numa voz quase apagada.

-Olá. Eu sou a Ana. – respondeu ela sem fazer a mínima ideia de como reagir à situação.

A mulher apresentou-lhe a caixa embrulhada.

-É uma prenda para si.

Ela agarrou a caixa com uma mão, mantendo a outra a agarrar a camisa que a cobria.

-Obrigada.

-Não quer abrir?

Ela assentiu. Dirigiu-se até ao sofá que estava desocupado e sentou-se, sempre sem largar a camisa, pousou a caixa na mesa, ao lado dos copos de vinho e abriu o embrulho apenas com a mão livre. A caixa no interior era de uma conhecida marca de langerie.

-Só pude tentar adivinhar o seu tamanho pela conversa que teve com o meu marido. Espero que lhe sirva…

Ana abriu a caixa e lá dentro estava uma deslumbrante combinação de cetim branco.

-É linda. Obrigado.

-Não a quer experimentar? – Perguntou a Rute.

Ana corou. Olhou para o homem de quem nem sabia ainda o nome que acenou afirmativamente com um sorriso calmo.

Respirou fundo, levantou-se, largou finalmente a camisa, expondo-se aos olhos dos dois, tirou a combinação da caixa e apreciou-a. Depois, pôs-se de pé e dirigiu-se ao espelho, vestindo-a e observando-se. A medida era perfeita e a peça pereceu moldar-se ao seu corpo. Sentiu-se deslumbrante e pôde ver o ar de aprovação de ambos os elementos do casal.

-Acho que estou bem, não estou?

-Está linda. - Afirmou Rute.

-Mas sinto-me… deslocada.

-Porquê?

-Sou a única pessoa aqui nestes preparos…

Rute aproximou-se dela.

-Compreendo.

Desapertou o cinto que lhe cingia a gabardine, desabotoou-a e abriu-a revelando que por baixo da mesma havia apenas um corpete com ligas encarnado bem escuro, aveludado, que lhe segurava as meias de seda, e um fio dental que fazia conjunto. As peças adornavam um corpo absolutamente pecaminoso, antes insuspeito por baixo da gabardine.

-Ainda se sente deslocada? – Perguntou Rute fixando-a nos olhos.

-Não, já não. Não me leva a mal se eu lhe disser que é uma mulher deslumbrante?

-Nada, mas olhe que a Ana não fica atrás…

-Ora. Não será assim tanto…

-Acha que não? Basta ver a expressão do meu marido…

Rute aproximou-se de Ana pondo-se ao seu lado e envolvendo-a pela cintura, ficando as duas voltadas para ele, ambas um puro contraste uma da outra, mas ambas deslumbrantes.

-Vê? – Perguntou Rute. – O olhar dele não nos larga.

Ana sorriu. Sentia-se absolutamente deliciada com a atenção que recebia, sentia-se plena e mulher, sensual e apreciava o momento. Sorriu ao homem e olhou para Rute, que tinha o olhar fixo em si, ficando com o olhar preso no dela.

Rute aproximou-se de Ana, chegando com o seu rosto bem perto do dela, e Ana, ao vê-la aproximar sentiu em si uma hesitação e vacilou. Rute deixou os seus lábios bem próximos dos dela, esperou um pouco para ver se a indecisão se desvanecia e acabou por sussurrar apenas… - Confia - …e com isto foi como se algo levantasse entre elas e os lábios de ambas colaram-se num beijo…

A sensação daqueles lábios nos seus foi estranha ao inicio, o sabor a cereja do batom, a suavidade do beijo, mas fechou os olhos e deixou-se levar, sentiu-se abraçada, envolvida, e abraçou, envolveu, perdeu o pudor, e aquele algo no fundo da sua mente que lhe dizia que isto não era normal, natural, foi subjugado por um mar de sensações que a invadiu e a electrizou, excitou-a, talvez apenas o facto de ser um fruto proibido ou então foi a suavidade com que foi tocada, acarinhada, a maneira como sentiu aquelas mãos femininas a explorar o seu corpo sem a urgência tão presente no toque masculino, com a calma da certeza de se ter todo o tempo do mundo, o facto de naquela envolvência não haver uma batalha mas antes o serenar da alma, sentir uma mão a percorrer o sei seio e tocá-la em todos os pontos certos…

…e, quase sem dar por isso, estava envolvida numa dança em que a musica parecia ser apenas ouvida pelas duas.

Esqueceu-se completamente da presença masculina que não dava qualquer sinal da sua existência, e atreveu-se a explorar, também ela, aquele corpo feminino que estava à sua disposição, e percebeu o quanto era natural a maneira como recebia e provocava um mar de sensações suaves mas avassaladoras.

Sentiu uma mão dela sobre o seu sexo, ainda por cima do tecido, a toca-la com uma lentidão e uma calma que faziam com que quisesse mais, que a faziam gemer baixinho, uma doce tortura…

…sentiu-se a querer um clímax ali, mas sentiu que não era urgente tê-lo, e quis tocá-la também e pela primeira vez sentir um sexo feminino nos seus dedos que não o seu, e tocou-a e deu-lhe prazer, sentiu o prazer dela…

Perdeu a noção de quanto tempo esteve entre beijos e toques, completamente envolvida pela calma, como se flutuassem as duas acima do chão…

…e depois sentiu um corpo quente que se colou às suas costas, que a envolveu, uns lábios que lhe beijaram o pescoço, umas mãos diferentes, mais agrestes, que lhe tocaram o peito, , e quebrou o beijo com ela para procurar os lábios dele enquanto sentia a excitação dele, a sua carne pulsante colada às suas nádegas…

-Vamos? – perguntou ele às duas num sussurro quando o beijo quebrou e a resposta não chegou em palavras mas em actos, seguindo todos eles em direcção à cama…

Êxtase.

A única palavra capaz de definir o que sentia naqueles instantes depois de uma série de orgasmos como não tinha memória provocados pelas bocas que percorreram todo o seu corpo procurando cada centímetro da sua pele, bocas que se haviam alternado no seu sexo, ora lambendo e sugando de forma meiga, ora de forma mais forte, que lhe procuraram os lábios, o peito...

Nem nos seus sonhos mais eróticos se atrevera a pensar que esta sensação podia ser tão envolvente e forte, e ao mesmo tempo calma e doce. O casal parecia estar ali apenas para si, para lhe proporcionar o prazer que ela recebia e lhes dava de volta.

Completamente cansada pedira-lhes para parar por alguns instantes e observava agora a atenção que Rute dava ao marido sorvendo-lhe o sexo meigamente, e sentia a gula de fazer o mesmo. Apesar do cansaço do corpo, a luxúria falou mais alto e chegou perto de Rute que prontamente partilhou o sexo dele, de quem ela nem sequer sabia o nome, com ela, fazendo com que ele fosse agora o centro das atenções.

Ele, deitado na cama, olhava-as apreciando cada movimento das bocas delas, cada movimento das línguas, os beijos que elas iam trocando ocasionalmente…

Rute levantou-se, levando-a consigo num beijo carregado de desejo e, num convite explícito, ofereceu-lhe o sexo do marido. Ela, por cima, fê-lo deslizar para dentro de si, numa tentativa de apagar o fogo que ainda lhe consumia o ventre.

-Devagar. – disse ele, querendo prolongar o prazer e o momento e ela fez-lhe a vontade, fazendo movimentos lentos com as suas ancas, recebendo-o profundamente, fodendo-o com calma, apreciando.

Rute oferece o seu sexo à boca do marido, ficando de frente para ela e cola a boca à sua, levando as mãos às suas nádegas e auxiliando e controlando os movimentos dela.

Ela e Rute acabam por ter um orgasmo quase simultâneo, abraçadas uma à outra, mas não quebram o auto-controle do homem que continua a fazer amor com ambas com desejo.

Ainda assim, saem ambas de cima dele e ela, com uma curiosidade que crescia a cada momento dentro de si, mas também com o receio de não saber o que fazer, faz com que Rute se deite ao lado do marido, prova-lhe o sexo, explora e deleita-se na experiência, sentindo-se realizada de uma forma diferente ao provocar-lhe um orgasmo.

Por fim, decidem fazer quebrar o homem o voltam a deleitar-se com o sexo dele nas suas bocas até provarem o precioso liquido…



***



Já vestida, eles acompanham-na até à porta do quarto. As despedidas são breves e ela sai.

Entra no elevador, vê-se ao espelho e repara no quanto o seu rosto reflecte um brilho de felicidade…

…e só então se lembra do marido e uma ponta de culpa aparece no seu rosto.

O caminho para casa é feito já com lágrimas nos olhos, sem saber o que fazer.

Evita sequer olhá-lo nos olhos, mesmo ao jantar e durante o resto do serão.

Já deitados, no escuro, ela diz:

-Tenho uma coisa para te contar…

-Diz.

-É grave…

Ele acende a luz e olha para ela, vê as marcas das lágrimas nos seus olhos.

-Fala.

-Primeiro que tudo, quero que saibas que te amo e que és a pessoa que eu quero ter ao meu lado, sempre.

Ele olha-a com um ar sério e expectante.

Ela conta-lhe resumidamente tudo o que aconteceu e explode num choro, esperando a reacção dele.

Ele abraça-a, espera que ela se acalme. Por fim ela olha para ele.

-Não dizes nada?

Ele olha-a, sorri-lhe de uma forma carinhosa e pergunta:

-Foi bom?

Ela, aliviada pela expressão dele, sorri também e responde:

-Extasiante…

Ele afaga-lhe o rosto, beija-a com suavidade, aninha-se a ela.

-E não queres contar com pormenores de requinte? – pergunta enquanto a afaga com suavidade.

-Queres mesmo que conte?

-Claro. – responde ele enquanto faz uma mão deslizar para o sexo dela.

Ela solta um suspiro enquanto se sente a acender novamente e começa:

-Bem, como te disse tudo começou por causa da greve…

Sublimação

Numa outra noite qualquer em que a minha companheira chegaria novamente tarde, ficamos de nos encontrar num café onde parava a maior parte do pessoal com que nos dávamos.

Cheguei por volta das dez, e embora fosse relativamente cedo, o ambiente estava já bem carregado de álcool. Cumprimentei-a, sentei-me ao lado dela, olhei-lhe para os olhos e percebi que também estava bem tocada, mas mantinha a compostura, como sempre, com uma classe absoluta.

Na mesa, connosco, estava o pseudo-namorado dela, o tipo com quem ela volta e meia dava umas, e que tinha a cabeça aterrada em cima dos braços, na mesa, completamente embriagado.

-Daqui não levo nada hoje… - Comentou ela piscando-me o olho.

-Realmente, não me parece.

-Levas-me a casa?

-Queres ir?

-Já não estou muito bem e não estou aqui a fazer nada. Leva-me. Pelo menos acordo fresca amanhã.

Levantei-me.

-Vamos. – Disse-lhe.

-Ela procurou a minha mão para se equilibrar a levantar, e assim que se ergueu largou-me sentindo-se já segura e saímos do café em passos mais calmos que lentos em direcção ao meu carro.

Abri-lhe a porta e ajudei-a a sentar, e dei a volta ao carro para entrar eu.

Levei-a a casa. Ela limitou-se a seguir de olhos fechados e não trocamos uma palavra pelo caminho. De relance, contemplava-a. Era uma criatura magnífica, a mulher mais poderosa que conhecera até então, apenas pela consciência que tinha do seu poder.

Cheguei à porta do prédio dela e estacionei. Ela abriu o olhos e olhou-me languidamente, meio entorpecida.

Sorri-lhe.

Ela atirou-se suavemente para o meu colo, repousando de costas para mim, com a cabeça assente no meu braço esquerdo.

A minha mão direita, livre, fazia-lhe festas no cabelo.

Baixei-me e beijei-a no rosto.

Quando me ia a afastar, ela virou a cara, os seus lábios procurando os meus…

…e aprisionando-os, enlevando-os, envolvendo-os, a língua macia desliza, procura, quer, dá-se, os lábios colam-se e aquele beijo começa sem vontade de acabar, a sua mão direita procura a minha, encontra-a, leva-a ao seio, guia-me na maneira como quer que eu a toque, com os dedos entrelaçados e o beijo continua doce, calmo, suave, quente, intenso, vibrante, pulsante…

Após uma brevíssima eternidade o beijo acabou. Ficamos os dois, olhos nos olhos, parados, sérios, estáticos, a respirar pesadamente.

Ela movimentou-se para se levantar, eu deixei-a, ela encosta-se no banco, leva a mão à porta, como que para a abrir, para, arrepende-se, olha para mim, séria, sedutora, tentadora, libidinosa, e diz:

-Mais!

Aquilo soou-me a uma súplica, um pedido, um comando, uma ordem inquestionável, uma vontade, e o carro arrancou sem destino e enquanto eu pensava onde queria ir o carro decidiu e rumou à fonte da telha, a alguns quilómetros de onde nos encontrávamos.

Ela encostou a cabeça no meu ombro e acariciava-me o peito com a mão enquanto eu conduzia. Sabia-me bem senti-la ali.

A mão dela desceu, vagarosamente, até chegar ao meu cinto que desapertou num movimento fluido, desapertou os botões das calças um a um, escorregou pela abertura dos boxers, fazendo-me ficar liberto, agarrou-me, sentindo-me duro na sua mão, disputando avidamente a minha atenção à estrada que corria velozmente debaixo de nós.

Queria parar para a apreciar, mas queria chegar para a apreciar ainda mais e isso fazia que eu continuasse a condução e me deixasse sujeitar a tortura.

Ela percebeu, a minha dualidade de sentimentos, divertiu-se, mais, deleitou-se nisso, baixou-se e tomou-me na sua boca, deslizou suavemente, sugando-me, envolvendo-me…

…fodendo-me!

-Ainda me fazes ter uma coisinha má… - Disse eu, incapaz de tomar outra decisão que não fosse continuar.

-Tem… - disse ela.

Com a minha súbita decisão de a querer, de querer tê-la, de querer satisfazer-lhe a luxúria, saciá-la, o motor do carro protestou e fez a estrada rolar mais depressa debaixo do carro.

O caminho foi rápido, mas demorei uma eternidade a chegar ao alto da arriba. E eis que chegado, com os sentidos sobrecarregados, me sinto a derramar por sobre a visão que me entra pelos olhos, e perco-me na imensidão do oceano banhado pelo luar, carregado de sulcos e reflexos, com as ondas salpicadas do branco mais puro, e ela recebe o meu despreendimento de forma sedenta, ansiosa, oferecendo-se a mim.

É ainda com o corpo sobrecarregado de emoções que estaciono, solto o cinto de segurança, desço os dois bancos, chego-me a ela, e retomo o beijo que abandonáramos antes, agora carregado do meu sabor, e acho que pela primeira vez perdi a consciência de ser eu, mas também não tomei consciência de ser outro qualquer…

…apenas fiquei num limbo intemporal, e abandonei-me.

As minhas mão percorreram a sua vastidão, ela que era simplesmente o meu mundo neste instante, retirando botão a botão das suas calças, procurando-a, tocando-a e sentindo a medida da sua excitação na humidade que aflorava do seu sexo.

Ansioso por reavivar a memória do ser sabor retirei a mão e levei-a à minha boca, provando-a.

-Dá-me. – ordenou ela.

Dei e ela provou-se e lambeu os meus dedos até ter tido para si todos os vestígios do seu sabor, devolvendo-mos a seguir com a sua língua na minha.

Os meus dedos desapertavam-lhe a camisa, ansiosos por a libertar e poderem tocar aquele peito suave. Mas a ansiedade era calma e graciosa, não se permitindo a que a pressa destruísse a intemporalidade do momento.

As línguas continuavam a dançar um tango em que ambos lideravam e eram submissos, nenhuma querendo o protagonismo, nenhuma procurando mais do que era procurada, de forma incontida, quando os dedos afloraram o mamilo que se erguia orgulhosamente suplicante pela caricia que tinha com certa.

A mão dela desceu sentindo-me percebendo o quanto tudo isto me elevava. A minha desceu, tentando libertá-la das calças que eram obstáculo à sublimação…

…e quando a tive livre descei os meus dedos deslizar nela, senti-la quente, desejosa, penetrá-la e sentir toda a sua textura, e baixei-me e provei-a e tive o seu gosto e quis que ela sentisse o que eu sentia e deixou de haver algo no universo que não fosse o prazer que eu lhe queria dar e o prazer que ela recebia. E que ela recebeu. E que deu de volta…

…inundando-me, dando-me o pleno do seu sabor, enchendo o meu paladar, pulmões plenos do seu odor…

…e quis tê-la, dando-me, e tomei-a, por inteiro e ela, sentindo o meu assalto arqueou as costas e respirou fundo, procurando ar e tornando-se uma muralha que eu tinha de conquistar…

…e dediquei-me, assalto após assalto, investida após investida até a conquistar e a ter rendida por completo ao prazer que era nosso e que eu quis ter, tempo após tempo, caminhando para a sublimação…

…e de repente diluímo-nos no mar ali ao lado e fugimos do tempo e esquecemos a existência.

Lembro-me de dar por mim, depois, com a boca colada à dela, corpo colado ao dela, oferecendo-nos um ao outro uma sensual explosão de luxúria, a pele a arrepiar das sensações, a tesão saciada, mas a vontade da alma absolutamente intacta e ainda mais emergente.

E depois…

Depois o mundo apanhou-nos de volta e o tempo voltou a fluir e tivemos de nos afastar.

Despedi-me dela com um beijo pleno de desejo saciado à porta do seu prédio.



Há momentos que nos definem, únicos, em que sabemos que éramos uma pessoa antes e passamos a ser alguém diferente, momentos que são uma evolução brusca nos nossos padrões de pensamento.

Este foi um deles.

O mundo deixou de ter uma forma definitiva para passar a ser algo extremamente moldável…

Menage

-Mas estamos aqui para nos olharmos ou para foder?

Fiquei sem qualquer reacção ao ouvir esta pergunta. Limitei-me olhar para a minha companheira e esperar por uma reacção dela.

Deixem-me falar-vos dessa minha companheira, que o foi ainda durante alguns anos. Um metro e setenta de mulher voluptuosa, loura, com o cabelo escorrido até ao fundo das costas, pele alva e que parecia cetim ao toque, rosto esculpido e lindo nos quais uns olhos castanhos luminosos residiam. Metaleira, tal como eu o era, usava sempre botas de “gaja” até ao joelho e, ou calças de ganga elásticas ou mini saias justas, um pouco acima do joelho e que deixavam pouco a descoberto daquelas pernas lindas, mas abriam o apetite de tentar descobrir o resto.

Já estava com ela há um ano e nunca tinha estado tanto tempo com alguém.

À nossa frente estava quem nos fez a pergunta.

Um metro e setenta e cinco do mais puro pedaço de mau caminho que já tinha visto. Cabelo preto e luzidio como as penas de um corvo, completamente liso e pelos ombros, com uma franja absolutamente direita pela altura das sobrancelhas perfeitamente desenhadas. Tez morena e um ar de miúda travessa e ao mesmo tempo de mulher absolutamente vivida, ou seja, a mulher mais perigosa que eu já conheci. Falava sempre com um tom de voz e uma pronúncia perfeita e com uma compostura que nunca se alterava. Tinha classe, muita classe. Era dona de um corpo esguio e curvilíneo que não deixava ninguém indiferente e era, nas suas próprias palavras “perfeita, absoluta e assumidamente puta”. Gostava de foder, e pronto. Mas sempre nos seus próprios termos. Não era engatada, engatava. Não era comida, comia.

Mas volto um pouco atrás, umas quantas horas.

Era o aniversário da minha companheira e combinamos estar com alguns amigos em casa. O objectivo era esperarmos por ela, visto que fazia um biscate como “barmaid” de um bar nas noites de fim de semana e só chegaria por volta das quatro da manhã.

O pessoal que era para aparecer cortou-se à ultima da hora, mas ela veio e ficou. Tinha-a conhecido duas semanas antes. Era amiga de uma amiga com quem eu tinha dado umas fodas valentes algum tempo antes. Ficamos amigos com uma velocidade espantosa e gostávamos realmente da companhia um do outro, de falarmos e trocarmos ideias.

Claro que não sou santo, e desde que a conheci que não me saia da cabeça a ideia de a levar para a cama, ou para o banco de trás do carro, ou para um banco de jardim, ou fosse para onde fosse, desde que a pudesse desfrutar. E fui-me apercebendo que a ideia não lhe desagradava de todo. No entanto havia a minha companheira que também se tinha tornado amiga dela e, por respeito, contínhamo-nos.

Nessa noite de Sábado, enquanto esperávamos pela minha companheira, vimos filmes, bebemos bem, muito bem mesmo, e, a partir das duas da manhã resolvemos jogar à copa. Regras simples: cada dez pontos acumulados faziam com que se tivesse de tirar uma peça de roupa. Uma vez que a dama de espadas por si só valia dez pontos, a cada ronda alguém tinha de tirar uma peça de roupa. O jogo acabava quando alguém já não tivesse mais roupa para tirar.

Parti em desvantagem, visto que tinha muito menos peças e adornos que ela, mas ainda assim ganhei o jogo. Consegui manter os meus boxers quando ela teve de tirar o seu fio dental preto de renda entre muitos protestos e choradinhos de “não me vais mesmo obrigar a ficar aqui nua à tua frente pois não?” e “não é justo, pá…”.

Escusado será dizer que não me levantei da cadeira. Se o fizesse a tesão que sentia e o estado em que estava enquanto a via fazer descer a peça de roupa ao longo das suas longas pernas seria notório e evidente.

-Pronto, estás satisfeito? – disse ela, nua à minha frente com um olhar desafiador.

-Quase… - disse eu.

Pediu-me um robe para se tapar. Disse-lhe que havia um pendurado atrás da porta do quarto. Ela sorriu ao ver que não me levantava e olhou directamente para a minha zona genital.

-Gostava de te ter ganho o jogo…

-Porquê?

-Porque o resultado da vitória parecia ser interessante…

Rimo-nos. Ela pegou no robe e cobriu-se, muito contra a minha vontade.

Com isto passava já das quatro, estávamos alcoolicamente alegres, já tínhamos fumado uns charros e a minha companheira não havia meio de chegar.

-Olha, vou-me encostar um bocadinho na cama enquanto ela não chega. Estou cansada… Não te importas, pois não?

-Não, fica à vontade.

Ela foi e eu fiquei a ver televisão enquanto esperava.

Dez minutos depois resolvi levantar-me e fui espreitá-la ao quarto. Ela estava estendida por cima da colcha, com o robe aberto. Sentiu-me a abrir a porta do quarto, olhou para mim e fez um sorriso matreiro e doce. Eu entrei no quarto e sentei-me ao lado dela. Ela virou-se para mim. A minha mão foi direita ao seu peito enquanto os meus lábios se colaram aos dela. A sua mão foi direita ao volume que havia nos meus boxers.

A minha mão desceu do seu peito e passou pelo rabo firma antes de se depositar na coninha imaculadamente rapada, suberbamente molhada e afirmativamente esfomeada de atenção. A sua encontrou a abertura dos meus boxers e agarrava-me agora o caralho rubro de tesão, masturbando-o.

-Eu sabia que valia a pena ganhar o jogo… - disse quando separamos os lábios.

-Gostas?

-Bastante…

-Queres?

-Na coninha, que eu já tou tão quente que só me apetece foder.

Levantei-lhe a perna e aproximei-me. Ela, sem me largar guiou-me. Assim que sentiu a minha glande, puxou-me com a perna e encaixou-se toda em mim.

Só posso dizer uma coisa: que fêmea sublime.

E foi neste momento que ouvi a porta da rua a abrir…

“Oh puta de sorte…” pensei. “Não se podia ter atrasado mais meia hora, caralho…”

Sentei-me rapidamente ao fundo da cama e arrumei-me da melhor forma possível enquanto ela se limitou a cobrir-se com o robe.

O ar, sereno como sempre, não dava o mínimo indicio de que segundos antes estava ser ser fodida por mim, o melhor que eu sabia e podia. Tirou um cigarro do maço que tinha deixado em cima da mesa-de-cabeceira e acendeu-o quando a minha companheira entrava no quarto.

-Só estão vocês os dois? – Perguntou ela com um olhar estranho, meio desconfiado.

-Só. – respondi eu. – o resto do pessoal cortou-se…

-Yá, também só consegui chegar a esta hora. Caraças, pá, que noite estúpida.

-Então?

-Houve para lá porrada e meteu policia e tudo…

-Mas está tudo bem contigo?

-Está. Só estou chateada por ter saído de lá tão tarde. E vocês?

-Olha, bebemos, fumamos, vimos filmes, jogamos à copa…

-Versão “strip” pelos vistos…

-Ya…

Nem era preciso camuflar ou negar. Já não era a primeira vez que jogávamos juntos, éramos adultos e sabia que ela não levava a mal. Se ela tivesse estado tínhamos jogado na mesma.

-E pelos vistos ganhaste tu…

-Foi.

A nossa convidada limitava-se a assistir à nossa conversa enquanto fumava calma e descontraidamente o seu cigarro.

-Bem, - disse a minha companheira – isto hoje foi complicado e estou mesmo a precisar de descansar umas horinhas. – Olhou directamente para mim – Vamos fechar os olhos por um bocadinho?

-Claro, se estas cansada…

E levantei-me da cama para a seguir. Ela saiu e quando eu ia a sair do quarto olhei para o monumento que apagava o cigarro e se espreguiçava na cama. Ela olhou-me com um sorriso, encolheu os ombros e piscou-me o olho.

Esticamo-nos em cima da cama do quarto ao lado. A minha companheira adormeceu quase de imediato. Já eu não conseguia. Parecia sentir humidade daquela cona divinal a envolver o meu caralho. Limitei-me a ficar ali acordado.

Eram uma onze da manhã quando a porta do quarto abriu, ela espreitou e me viu acordado.

-Posso pedir-te um favor? – Perguntou num sussurro.

-Claro.

-Levas-me? Combinei um almoço com o meu pai e odiava faltar…

-Na boa, dá-me só um minuto para me vestir.

Entramos no carro e arrancamos. É mau hábito conduzir com a mão na alavanca da caixa de velocidades. É um mau hábito, eu sei, mas há piores. A mão dela veio depositar-se em cima da minha.

-És um gajo mesmo fixe, sabias?

-Deixa-te de tretas…

-Não, a sério… Porque é que quando conheço gajos como tu já estão apanhados?

Ri-me.

-Não te rias. Adoro mesmo falar contigo, pá.

-E eu contigo. Não és só uma gaja boa. Também és uma gaja boa, o que é muito diferente.

E era verdade. Disse-o com toda a sinceridade.

-És um querido. Eu não digo?

Chegamos a um semáforo vermelho. Parei e conforme o fiz virei-me para ela, as nossas bocas colaram-se e este beijo foi diferente dos outros de há pouco. Não era tanto a tesão que ainda estávamos a sentir um pelo outro, mas também a amizade e o carinho.

Quebramos o beijo forçadamente quando os carros atrás de nós começaram a buzinar.

-Onde é que queres que te deixe?

-Por mim, qualquer sítio nestas vizinhanças está bem…

-Tenho de ir ali ao supermercado. Ficas por ali?

-Pode ser…

Ainda não tinha puxado o travão de mão e já estávamos envolvidos na continuação do que fora interrompido lá atrás.

-Tens noção de que quero mesmo foder-te, independentemente do resto, não tens? – Perguntei-lhe.

-Se tenho. Aliás, senti bem essa noção há pouco.

-Pena que tenhas de almoçar com o teu pai. Podias ter almoçado connosco…

-Mas posso aparecer por lá a meio da tarde. Que é que achas?

-Acho bem.

Saímos do carro. Abraçamo-nos, eu envolvi-a, demos um beijo tórrido no meio da rua, ela passa a mão no meu rabo, apalpando-me descaradamente e diz:

-Então até logo. – Afastando-se em seguida.

O polícia que estava de serviço à porta do supermercado olhou para mim com um sorriso que tinha a legenda “Se soubesses a puta de inveja que tenho de ti…”

Eu devolvi o sorriso com outra legenda: “quem pode, pode. Quem não pode, sai de cima…”

Eram umas quatro e meia da tarde quando ela apareceu. Ficamos sentados na sala a conversar os três, acerca de trivialidades e banalidades. A dada altura a minha companheira retirou-se para ir ao WC, e nós ficamos sozinhos. Não resisti, aproximei-me dela e beijei-a. Um beijo leve e solto, furtivo. Depois ficamos em silêncio a aguardar que a minha companheira voltasse.

Passaram uns dez minutos e não havia meio de ela voltar.

-Xiça, - disse eu – cá para mim caiu pela sanita…

Ela levantou-se.

-Eu vou lá ver…

E foi.

Aproveitei para fechar um pouco os olhos e descansar a vista, cansado como estava da directa que tinha feito. Devo ter perdido a noção do tempo, porque não sei mesmo quanto tempo passou.

Abri os olhos quando elas entraram na sala de mãos dadas. Passaram por mim, foram direitas ao quarto. A minha companheira olhou para mim e perguntou:

-Vens?

Pergunta estúpida, que nem mereceu resposta. Claro que fui.

Sentamo-nos os três na cama a olhar uns para os outros, eu completamente a leste. E eis que aparece a pergunta:

-Mas estamos aqui para nos olharmos ou para foder?

Fiquei sem pinga de sangue, a olhar para a minha companheira. Devo ter ficado lívido. Sem pinga de sangue na face, porque este desviou-se por completo para outra parte da minha anatomia que ficou “firme e hirta como uma barra de ferro” de repente.

A minha companheira olhou para mim e respondeu:

-Para foder, claro.

Dito isto agarrou-a e deu-lhe um beijo nos lábios e depois outro e depois um linguado e outro beijo e as bocas uniram-se e colaram-se e as peças de roupa começaram a voar para o chão do quarto e quando dei por isso tinha a minha companheira deitada de costas à minha frente a ser lambida e fodida, muito bem fodida por aquela mulher cheia de classe que tanto me apetecia.

Tirei a roupa, deitei-me de lado, ao lado da minha companheira e beijei-a, lambi-lhe e suguei-lhe o peito, lambi-lhe o pescoço, os lóbulos das orelhas. Ela só gemia enquanto me abraçava com um braço e com o outro segurava a cabeça dela enquanto ela lhe chupava o clítoris.

Ela, enquanto chupava a minha companheira, agarrou o meu caralho e masturbava-o lentamente, com suavidade. Depois tirou a boca daquela cona deliciosa que eu tão bem conhecia e continuou a fodê-la com dois dedos enquanto me começou a chupar.

Que sensação fenomenal, estarmos os dois a ser fodidos por ela.

Depois largou-me por completo e dedicou-se à minha companheira por inteiro, lambeu, chupou, até que, por fim, a minha companheira não aguentando mais lhe inundou a boca com um orgasmo maravilhoso.

-És tão boa… - foram as primeiras palavras que a minha companheira disse quando conseguiu articular algo de inteligível.

Ainda não tinham terminado os espasmos quando ela saiu do meio das pernas e me puxou para o lugar onde tinha estado.

Enterrei o meu caralho naquela cona alagada sem quaisquer cerimónias, cego de tesão como estava. A minha companheira fervia.

-Queres comer a minha cona? – Perguntou ela à minha companheira? – Queres?

-Sim… - foi a resposta suspirada.

Ela pôs-se de pernas abertas por cima da boca da minha companheira que primeiro apenas timidamente mas depois com muita vontade começou a chupá-la enquanto me sentia a deslizar na cona.

Ter aquelas mamas perfeitas à frente era mais do que uma tentação e eu ia-a beijando, chupando, lambendo, à medida que as minhas estocadas ficavam cada vez mais fortes.

As duas chegaram a um orgasmo quase simultâneo e eu não aguentei a tesão, vindo-me logo em seguida na cona da minha companheira. Sai de dentro dela ainda bem duro e a nossa convidada não se fez rogada, atirando-se a mim e fodendo-me com a boca, limpando o meu caralho na perfeição. Depois beijou a minha companheira, dando-lhe os nossos sabores.

De seguida deitar na da cama.

-É a minha vez. – Disse enquanto se sentava fazendo o meu caralho entrar naquela cona por inteiro. A minha companheira sorriu ao vê-la a começar a foder-me.

-Ele tem um caralho tão bom não tem?

-Divinal. – disse ela – Estava-me a saber tão bem hoje de manhã quando entraste…

-Desculpa ter interrompido.

-Não faz mal. Assim até foi bem melhor.

Eu estava nas nuvens e ao mesmo tempo estupefacto. Limitei-me a deixar-me ir na corrente. Também não conseguia pensar o suficiente para articular qualquer palavra, por isso…

A minha companheira levantou-se e pôs-se por cima da minha cara. Comecei de imediato a lambê-la e, elas beijavam-se e apalpavam-se e abraçavam-se e lambiam-se e desfrutavam-se…

Não há sensação igual a estar a lamber uma cona e a ser fodido por outra. A sobrecarga sensorial era demais e não demoramos a ter outro orgasmo quase simultâneo.

Arrastei-me para fora da cama e acendi um cigarro enquanto elas se dedicaram a um sessenta e nove delicioso. O quarto tresandava a sexo e os orgasmos que elas iam tendo sem parar uns atrás dos outros. Finalmente recomposto, voltei a juntar-me a elas e continuamos.

Nesse dia jantámos à meia-noite fazendo um intervalo nas nossas actividades e voltamos para a cama.

Aquelas duas fizeram-me ter oito orgasmos, coisa para mim inédita até então e que até à data ainda não se voltou a repetir.

Já não estou com a minha companheira e nos últimos anos apenas a vi a ela duas ou três vezes, mas quando relembro isto tudo ainda sinto uma pena de não poder voltar atrás no tempo…



Mesmo MUITO simpática...

Eram umas dez e meia da noite e eu não ia ficar.
Não que não quisesse (e pelos vistos a amiga da tua irmã também queria…), mas porque tinhas lá a tua irmã, os teus sobrinhos, a tua filha, a amiga da tua irmã…
Ainda mais, com a maneira como a amiga da tua irmã me olhava e com a vontade expressa dela…
“Porque é que ele não fica? Espalhávamos umas mantas aqui no chão da sala e podíamos ficar aqui todos, na boa…”
Claro que eu, quando ouvi isto, levantei o sobrolho.
Claro que tu, mais do que eu.
Claro que arranjaste logo maneira de me despachar dali para fora, porque estavas mesmo a ver que se eu ficasse ia haver salganhada. Não que tu te importasses. Aliás, notei como tu olhaste para a amiga da tua irmã, e o olhar não foi de todo inocente. E o dela também não. O problema é que a tua irmã também ali estava.
E como se isso já não bastasse, espalhaste-te ao comprido quando lhes disseste “…ele é só um bom amigo que me tem ajudado bastante. Não se passa nada entre nós…”. Foi o suficiente para a moça começar a tentar seduzir-me descaradamente.
Para te ser franco, depois do que disseste, e que me desagradou profundamente, até me estava a divertir com as tentativas da moça. Mas o que me divertia mesmo era olhar para a tua cara, com um sorriso amarelo estampado no rosto, e os olhos absolutamente furiosos…
…mais ainda quando eu olhava para ti com a minha expressão “Sim?!? Passa-se alguma coisa?”. Eu sei, eu às vezes (muitas vezes) consigo ser um grande filho da mãe…
…mas tu também!
Depois do jantar já tardio, no qual eu não bebi muito pois já sabia que não ia ficar, lá fomos todos beber o café ao pé da baia. Estivemos numa esplanada durante pouco tempo e voltamos para a tua casa, ou quase, uma vez que quando chegámos à porta eu anunciei que já ia indo.

-Já vais? – perguntou a amiga da tua irmã – Que pena, podias ficar mais um bocadinho…

-Não, ele tem mesmo de ir. – disseste tu, a disfarçar mal a fúria e o ciúme. Quase desatei à gargalhada ali mesmo. – Eu faço-te companhia até ao carro. Queres?

-Claro. – respondi eu, bastante divertido.

O resto do pessoal ficou em casa e tu vieste comigo até ao carro. Assim que viramos a primeira esquina tu não te contiveste mais.

-Aquela tipa é uma oferecida…

-Achas? Eu por acaso achei-a bem simpática… Isto para além de ser boa que até dói. Tu viste aquele corpinho?

-Vi, vi. – disseste tu irritada. – Por acaso não a estas a achar simpática demais?

-Achas?

-Acho.

-Bem, amor, quem semeia ventos, colhe tempestades…

-Que é que queres dizer com isso?

-Se tivesses sido sincera quando estiveste na conversa com ela e com a tua irmã na cozinha, ela teria sido menos “simpática”…

-Tu ouviste isso? Mas não estavas a dormir?

-Não, estava a descansar…

Ela calou-se. Acabaram-se-lhe os argumentos, sabia que não tinha nenhuma razão e isso estava a ser um sapo difícil de engolir…
…e eu, absolutamente divertido (já disse que, às vezes, consigo ser um grande filho da mãe? Claro que disse, mas reitero…).
Chegamos ao carro. Abracei-a e beijei-a, pronto para arrancar de volta para minha casa.

-Não queres fumar um cigarrito antes de ires?

-Claro.

Destranquei o carro, entramos, liguei o rádio, puxamos dos cigarro, acendemos, fomos fumando na calma, sem sequer conversar. Ela chegou-se para mim, eu abracei-a e, enquanto íamos fumando, meti a mão por dentro da t-shirt dela e ia-lhe acariciando os seios. Não me atrevia a mais visto que, apesar do adiantado da hora, nesta altura, quase verão, a rua, alem de bem iluminada, era ponto de passagem para quase toda a gente. Quer dizer, não passava ali uma multidão, mas nunca estava vazia.
Acabamos de fumar.
Ela virou-se para mim e beijou-me. Eu envolvi-a, esperando uma despedida. Ela chegou-se mais. Eu também.
Os beijos foram ficando cada vez mais quentes, mais envolventes, mais molhados. As nossas línguas recusavam-se a ser separadas. Os seus mamilos começaram-se a notar (ainda mais) por debaixo da t-shirt, sendo obvio que estava a ficar excitada.
Eu também, diga-se. O volume nas minhas calças era cada vez mais notório, tanto que, talvez devido à posição em que estava, comecei a ficar bastante apertado, ao ponto quase de me doer.
Empurrei-a para trás, no banco, olhei para um lado e para o outro, para ver quem passava lá fora, subi-lhe a t-shirt rapidamente e atirei-me aos seus mamilos duros e deliciosos, lambi-os, suguei-os, massajei-os. Ela gemia enquanto olhava para um lado e para o outro a ver quem passava, e se representava algum perigo de sermos vistos.
Paramos devido a alguém que passava, voltando a colar os lábios num beijo absolutamente carregado de volúpia.
A minha excitação não lhe tinha passado desapercebida, tal como a dela a mim, e ela agarrava-me o caralho por cima das calças, pondo-o ainda mais duro, se é que isso era possível.
Desapertou-me os botões das calças um a um, com destreza, meteu a mão por dentro das calças, procurou a abertura dos meus boxers, encontrou-me, agarrou-me e libertou-me da minha prisão. O meu caralho ficou ali, fora das calças, completamente duro e a pulsar de tanta tesão.
Quebrou o beijo para me olhar. Pude ver gulodice nos seus olhos, que brilhavam como os de uma criança a ver os brinquedos na manhã de natal.
Agarrou numa flanela, cobriu-me, e a sua boca voltou a colar-se à minha enquanto me masturbava. As pessoas passavam, algumas olhavam, umas com inveja, outras com desdém, quando se apercebiam do que se estava ali a passar.
A tesão era mesmo demais, e eu já não queria mesmo saber de nada.
De repente, quebrou o beijo, tirou a flanela e levou a tua boca direita ao meu caralho, fez-me deslizar até à garganta, fodeu-me com intensidade, chupou-me, comeu-me inteiro.
Não consegui aguentar muito e vim-me copiosamente na sua boca. Não parou enquanto não sentiu que a minha tesão quebrava e que começava a voltar ao normal.
Quando o sentiu, arrumou-me para dentro das calças enquanto colou a sua boca à minha para partilharmos os dois o meu sémen num beijo que podia derreter a Antárctida, mesmo sem o buraco no ozono.
Quando acalmamos, acendemos outro cigarro e ela preparou-se para sair.
Olhei para ela com um sorriso malandro.

-Em que é que estás a pensar? – perguntou ela ao olhar para mim.

-Queres mesmo saber?

-Claro que quero.

-E não te chateias com o que eu disser?

-Claro que não, amor.

-Estava a pensar que às vezes consegues ser mesmo puta…

Ela olhou-me com um ar de miúda marota.

-Pois consigo. – disse calmamente – Mas tens de admitir que sou uma puta simpática…

-Muito simpática…

Demos mais um beijo, ela saiu e foi de volta para casa e eu arranquei…