Todas as Mulheres têm uma fantasia...

Olhou para o número na porta e parou. Respirou fundo. Sentia uma curiosidade enorme pelo que estaria do lado de lá, mas sentia a incerteza do desconhecido.

De manhã, quando se levantara, não pensava que poderia estar aqui, agora, a meio da tarde, num corredor deserto de um hotel em frente a uma porta.

A insegurança tomou conta de sí e reviu mentalmente os passos que a haviam trazido até aqui.

A chegada ao trabalho esta manhã tinha sido como em qualquer outro dia. A diferença é que, por causa das graves de transportes, o edifício estava quase vazio, com apenas meia dúzia de pessoas que moravam perto a comparecer.

Sentou-se no seu local, em frente ao seu computador, reviu as poucas coisas que tinham transitado para o dia de hoje, tentou fazer alguns telefonemas para outras empresas e para fornecedores, mas a situação era a mesma em todo o lado.

Ao fim de pouco tempo acabou por desistir.

Resolveu entreter-se a navegar na Internet, sem rumo, de uma página para a outra…

…parou num blog de contos eróticos.

Leu um conto, e depois outro, deixou-se levar pelas palavras, sentiu-as, como se fossem dirigidas a si, sentiu a calor a espalhar-se pelo corpo, a despertá-lo, sentiu desejo.

Não quis deixar comentários, mas enviou um e-mail da sua conta pessoal a elogiar as palavras do autor do blog. Recebeu uma mensagem de resposta logo em seguida, a agradecer os elogios e com um convite para um chat.

Olhou algo desconfiada, mas a falta de proximidade, a impessoalidade da maquina que tinha à sua frente deu-lhe confiança e acabou por aceitar. Assim que entrou no chat apareceu uma mensagem.

“olá”

“olá”

“queria apenas agradecer de uma forma mais pessoal as palavras do e-mail. Gostei muito dos elogios. Obrigado”

“de nada. Adorei o que li. Foi a primeira vez que visitei o blog”

“então ainda mais agradeço. A primeira vez?”

“sim, por norma estou muito ocupada para viajar na net, mas com as greves e metade dos sítios a trabalhar a meio gás, hoje tive um bocadinho, comecei a andar de página em página e nem sei como cheguei lá, mas adorei”

“Obrigado, sinceramente. Ainda bem que tiveste algum tempo, então J. Posso perguntar quais os textos que leste?”

Embrenharam-se numa conversa que foi fluindo com facilidade, mais facilidade do que ela esperava. Pelo caminho foi notando algumas insinuações elegantes às quais ela ficava com dúvidas se seriam isso mesmo, ou se seria impressão sua pelo fogo ateado pelos textos que tinha lido. De qualquer forma sentia-se solta a falar com aquele estranho que guiava a conversa subtilmente para campos cada vez mais pessoais.

Deu consigo a confessar que os textos a haviam excitado bastante, confisão essa que foi acolhida com agrado e gratidão do outro lado.

Dai a não muito tempo descreviam-se fisicamente um ao outro, e eis que chega a pergunta:

“posso saber como é que estás vestida?”

“podes. Mas porquê?”

“para imaginar melhor…”

“não estou nada de especial, para ser franca. Tenho uma camisa branca, uma saia preta travada pelo joelho, meias de mousse pretas, sapatos de salto, e embora tenha o cabelo comprido, está apanhado.”

“só te falta uns óculos para te dar um ar de secretária executiva…”

“não faltam, e é isso mesmo que eu sou.”

“A sério?”

“mesmo”

“LOL

Mas olha, não descreveste o resto…”

“o resto?”

“Sim, falaste-me do exterior, mas tens mais coisas vestidas não tens?”

Ficou a olhar para o monitor, sem saber se havia de jogar este jogo ou não…

…mas sentiu-se marota, uma miúda a fazer uma travessura...

…e resolveu responder.

“tou a usar um soutien branco, rendado, com suporte, para não se notar por debaixo da camisa branca. A parte de baixo é um fio dental, a condizer, porque a saia é justa e não gosto do efeito que as outras cuequinhas fazem, aqueles vincos no rabo por debaixo da saia.”

“parece-me interessante. Com suporte?”

“sim, o meu peito é algo… como dizer… volumoso?”

“hummm! Boa descrição. Quase consigo imaginar. Ainda para mais se o que leste te excitou, deves ter os mamilos rijinhos e a querer furar o soutien…”

“não tanto, mas já estive em melhor estado.”

“assim como já estiveste em pior…”

“Sim”

“e queres ficar em pior?”

Aquela pergunta arrancou-lhe um sorriso, tal como a fez erguer o sobrolho enquanto parou para ler devagar as palavras. Qual o mal de ser inconsequente? O anonimato podia permitir tudo.

“porque não?” – acabou por responder.

“estás sozinha?”

“hoje estou. Por causa da greve não apareceu mais ninguém…”

“…mais vale só…”

“mas não estou propriamente só. Tenho a tua companhia, ainda que apenas virtual”

“verdade. E diz-me, sentes-te atrevida?”

“neste momento, sim…”

“como é que tens abotoada a camisa?”

“Até acima, como manda o decoro. Só não está abotoado o último botão.”

“…e não queres desabotoar?”

“não queres que eu abra aqui a camisa, assim, pois não?”

“Não, só quero que desabotoes até abaixo do peito. Para fazeres um decote.”

“gostas de ver uma camisa assim desabotoada”

“bastante. É sempre uma promessa velada. Sabes que o que fica à imaginação é bem mais excitante do que o que é explicito. Pelo menos para mim…”

“para mim também, embora eu não goste de me expor.”

“mas neste momento não te estás a expor. Afinal estás sozinha…”

Era verdade. Ainda assim hesitou um momento. Mas depois começou a desabotoar os botões uma a um. Quando chegou ao sitio desejado parou e ajeitou a camisa. O volume do seu peito fez com que o decote se abrisse naturalmente.

“já está” acabou por lhe dizer.

“consigo imaginar. Diz lá que não te sentes mais sexy?”

“por acaso, já que falas nisso, sim, sinto-me mais sexy”

E eis que se sobressalta quando batem à porta do seu gabinete. Tenta compor-se um pouco.

-Entre. – disse.

Um jovem, um dos auxiliares, entra com alguns papeis para lhe entregar.

-Bom dia, onde é que posso deixar isto?

-Pode deixar ai em cima da secretária. – respondeu ela, tentando não dar atenção ou sequer olhar para o jovem.

Ele aproximou-se, pousou os papeis e foi notória a sua perturbação quando olhou para ela, mais concretamente para o decote, tendo ruborizado. Envergonhado, saiu muito rapidamente, fechando a porta atrás de si.

“vais-te rir” – disse ela para o desconhecido.

“então?”

“tinha acabado de ajeitar o decote quando entrou um moço para me deixar uns papeis.”

“e então?”

“se visses a expressão dele LOL”

“calculo. Deve ter ficado em bom estado, o rapaz”

“se calhar…”

“e tu? Diz lá que não te sentiste bem… Poderosa, talvez?”

“sim, admito”

“ficaste mais excitada ainda?”

“com o moço? Não.”

“não com o moço, mas com o facto de despertares tão facilmente a atenção. Polimento ao ego LOL”

“bem, sim, isso admito”

“Vou-te fazer um desafio”

“não sei se quero ser mais desafiada…”

“fica nas tuas mãos”

“então diz”

“levanta-te e vai trancar a porta do gabinete.”

Ela olhou para o relógio, era praticamente hora do almoço e tinha de admitir que este estranho a deixava curiosa. E se é verdade que a curiosidade matou o gato, também o é que quem não arrisca não petisca. Levantou-se, dirigiu-se à porta, trancou-a por dentro, voltou a sentar-se.

“já está. E agora?”

“agora toca-te por dentro da camisa. Sente o teu peito. Gostas de te tocar?”

Ela fez isso mesmo, sem questionar. Pôs uma mão por dentro da camisa e começou a acariciar o seu peito por cima do soutien. Soube-lhe bem, mas não só o toque, também a sensação de proibido que tudo aquilo lhe estava a proporcionar. O toque soube-lhe a pouco.

“gosto de me tocar” escreveu vagarosamente com a mão disponível.

Fez descer um pouco o soutien de um dos lados por forma a destapar o mamilo e começou a acariciá-lo sentindo-o cada vez mais duro à medida que a excitação se apossava dela.

“diz-me o que estas a fazer”

“desci um pouco o soutien e estou a acariciar o mamilo”

“molha os dedos com a língua e ensaliva o mamilo”

Ela obedeceu.

“já está”

“agora sopra…”

Ela fê-lo e o mamilo endureceu ainda mais com o frio do ar que passava sobre o molhado. Sentia o seu sexo a pulsar, sentia-se molhada.

“…é bom?”

“muito”

“estás ainda mais excitada?”

“sim”

“Estás com tesão? Apetecia-te foder”

“tanto”

“toca-te”

Ela nem pensou, levou as mãos ao meio das penas e começou a comprimir o clitóris ritmadamente por cima das meias e do fio dental que tinha vestido.

“estás a tocar-te?”

“sim” teclou com algum custo. Cada vez mais era difícil concentrar-se.

“como?”

“por cima da roupa, mas estou tão molhada que sinto a humidade nos dedos”

“mete a mão por debaixo da roupa e masturba-te para mim”

“e tu?”

“eu estou a tocar-me para ti”

Ela fê-lo, recostou-se na cadeira, abandonou-se à sensação, libertou os sentidos e deixou-se embalar até um orgasmo pulsante que a fez ignorar por completo o sitio onde estava.

Quando finalmente recuperou a compostura ele estava “offline” e ela ficou sem saber o que fazer. Mas acabou por sorrir, encolheu os ombros, levantou-se, arranjou-se, recuperou o ar profissional, mas não deixava de olhar para o chat e para o e-mail, à espera de algo mais.

Ao fim de uma hora, nada tinha acontecido. Este desconhecido espicaçava-lhe mesmo a curiosidade. Acabou por se decidir a enviar um e-mail.

“obrigado pela pedrada na monotonia” dizia simplesmente.

Trinta segundos depois tinha a resposta.

“Hotel X, quarto 415, às 16:00 Horas. Bate à porta. Espero-te”

Deu uma gargalhada quando leu o e-mail.

-Vai sonhando… - disse em voz alta.

Mas a verdade é que à medida que as horas iam passando a curiosidade ia aumentando e a luxúria e a tesão que tinha sentido não desapareciam, parecia que, antes pelo contrário se intensificavam, como se o convite explícito lhe causasse aquele fogo.

Passava pouco das três e meia quando se levantou, vestiu o casaco e saiu porta fora em direcção ao hotel…



No elevador tinha repetido de diversas formas uma qualquer espécie de apresentação ao desconhecido que a aguardava, ensaiado sorrisos, gestos, mas de alguma forma todos pareciam ocos e artificiais.

Afinal de contas, nada se adequava às circunstâncias. Não sabia o que esperar, sentia medo, mas ao mesmo tempo uma curiosa excitação.

E eis que se encontrava agora aqui, à porta do quarto indicado, sem saber o que fazer. Olhou para o relógio. Passavam dois minutos da hora marcada.

Respirou fundo.

Bateu à porta meio a medo e esperou uns instantes.

-Está aberta. - Ouviu uma voz abafada do outro lado.

Ficou a pensar que esperava um pouco mais de cavalheirismo, mas, por outro lado não fazia ideia do que estaria para lá da porta.

Abriu a porta.

A sala tinha as paredes brancas, dois sofás de veludo para uma pessoa em tons encarnado escuro, e uma pequena mesa de suporte com uma garrafa de vinho tinto e alguns copos, estando apenas um deles cheio.

Um homem, elegante, vestido num fato azul-escuro, levanta-se quando ela entra, dirige-se a ela de uma forma absolutamente calma.

-Perdoe-me o facto de não lhe vir abrir a porta, mas queria que a escolha de entrar ou não fosse única e exclusivamente sua. – disse, e cumprimentou-a de forma cordial, formal mesmo.

-Não faz mal. Compreendo.

-Aceita um copo de vinho?

-Sim pode ser.

-Sempre ajuda a descontrair, não é? – perguntou ele enquanto servia o copo.

Ela sorriu, algo nervosa.

Ele acabou de servir o copo dela, mas pousou-o na mesa. Voltou-se para ela.

-Não quer tirar o casaco? Parece estar pronta a fugir…

Ela assentiu com a cabeça e ela aproximou-se e num gesto delicado ajudou-a a tirar o casaco, pendurando-o em seguida num bengaleiro próximo. Depois, convidou-a a sentar-se no local que não estava antes ocupado, o que ela fez, pegaram nos copos. Ele fez um pequeno gesto de saúde e beberricou. Ela, talvez fruto do nervoso, sorveu o liquido de uma vez, sentindo logo em seguida as faces ruborizar.

Ele sorriu e, quando ela pousou o copo, limitou-se a servi-la novamente. Ela voltou a pegar nele e desta vez deu apenas um pequeno gole. Olhou para ele, e viu um homem com um ar jovial, com uma maneira de estar e de ser a um tempo soltas e desprendidas, mas também perfeitamente suaves e cavalheirescas. Não era brusco, nem no olhar, nem no movimento, mas era absolutamente intenso e, contrastando consigo própria, não aparentava estar minimamente nervoso.

Olhou então em volta, percebendo que aquela sala era apenas a antecâmara do resto do quarto e para além de um pequeno corredor estava uma enorme cama.

Ele limitou-se a observá-la em silêncio e ela sentia-se constrangida, sem saber como agir. Resolveu-se a falar, por fim.

-Peço desculpa mas, como deve calcular, toda esta situação é uma novidade para mim…

-Acredito, mas não tem porque estar constrangida.

-Sabe, sou casada, adoro o meu marido…

-Percebe-se. No entanto, todas as mulheres têm uma fantasia, não é? Não é excepção…

-Mas nem sei como agir…

Ele sorriu.

-Porque é que não começa por fazer um strip?

-Para si?

-Não. Para si.

Ela pegou no copo, deu um gole pequeno, mas não se conteve e bebeu o resto de uma só vez em seguida. Ele sorriu do nervosismo dela, levantou-se e abriu uma porta completamente espelhada por trás, no lado completamente oposto aos sofás, naquela divisão. Depois, estendeu-lhe a mão, convidando-a a ir para junto dele.

Ela hesitou por uns momentos, mas acabou por ceder, levantando-se e juntando-se a ele. Ele guiou-a ate estar em frente ao espelho, pôs-se por trás dela, colocando-lhe as mãos nos ombros e olhando-a profundamente no reflexo dos seus olhos.

-É uma mulher lindíssima, madura e sensual. Quando foi a ultima vez que se despiu apreciando-se? Mas apreciando-se devidamente?

Ela não tinha resposta. Não se lembrava. Se calhar nunca.

Ele saiu de trás de si, voltou ao sofá e sentou-se, observando tanto as suas costas como o seu reflexo no espelho. Ela olhou-se de alta abaixo. Sentia-se sexy.

Nervosamente, começou a desapertar a camisa. Resolveu levar o seu tempo, não o fazendo de forma automática mas sim deliberadamente, abrindo a camisa a cada botão, vendo-se, vendo a pele a ficar destapada, sentindo-se mais solta a cada gesto deliberado. Acaba de desabotoar a camisa, mas deixa-a vestida, soltando o cabelo e abanando a cabeça para fazer o cabelo ficar mais natural, e só em seguida desaperta os botões dos punhos. Concentra-se só em si, embora esteja consciente da presença dele. Exibe-se a ambos, enquanto tira a camisa de costas bem erguidas, erguendo o peito e apercebe-se, num exercício puramente narcisistico que é apetecível.

Num gasto lento, penosamente lento e sensual, desaperta a saia e fá-la deslizar ao longo das pernas, até ao chão, curvando-se, exibindo-se e sentindo o contorno das suas pernas. Ergueu-se novamente, deu um pequeno passo atrás para sair de dentro da saia. Apreciou-se vestida apenas de saltos altos, maias pretas com cinto de ligas, fio dental e soutien brancos. Estava excitada. Olhou para o reflexo dele no espelho e era óbvio que estava cativo de cada movimento seu. Liberta, provocou-o deliberadamente enquanto tirava o soutien languidamente, até deixar os seus peitos desnudos e soltos.

Observou-se ao espelho. Sentia-se molhada e pronta para se deitar com ele, e o sentimento só a excitava ainda mais…

…e eis que os seus pensamentos são interrompidos quando alguém bate à porta.

Sobressaltou-se, olhou para a porta e olhou para ele, que continuava a exibir uma calma e um controle fora do comum, calma essa que a confundia. Era obvio que ele, enquanto ela se despia, apreciava cada movimento, cada centímetro do seu corpo, e no entanto não havia nele qualquer reacção que não fosse de puro cavalheirismo.

E agora, neste momento, limitou-se a levantar-se e caminhou em direcção a ela e à porta. Ao chegar ao pé dela limitou-se a dizer com um sorriso:

-Não se preocupe, é apenas a minha mulher.

Ela ficou sim pingo de sangue.

-O quê? – perguntou enquanto se baixava rapidamente para apanhar a camisa para se cobrir.

-A sério, não se preocupe. – voltou a afirmar enquanto se virava para abrir a porta não lhe dando tempo para vestir a camisa. Ela limitou-se a pô-la atabalhoadamente à sua frente, cobrindo o peito enquanto ele abria a porta e deixava entrar uma mulher.

A mulher era loura, com o cabelo comprido a cair numa cascata de caracóis largos até quase à cintura, pequena e magra, com uma pele branca que lhe dava um ar de boneca de porcelana, um ar frágil e tímido. O rosto era lindíssimo, como se tivesse sido finamente desenhado, com uns lábios carnudos realçados por um batom de um encarnado vivo que fazia parecer que todo o seu sangue se concentrava ali. A maquilhagem suave que usava era perfeita para realçar os olhos verde jade, lindos e intensos, mas que espelhavam toda a timidez dela.

Vestia uma gabardine comprida que a tapava por completo até bem abaixo do joelho, com um cito que a ajustava à sua silhueta, o que deixava adivinhar que seria magra mas não deixava adivinhar as suas formas.

Trazia consigo uma caixa embrulhada.

Deram os dois um suave beijo nos lábios, ele fechou a porta e voltou a sentar-se no sofá. A mulher voltou-se finalmente para ela.

-Olá, eu sou a Rute. – disse numa voz quase apagada.

-Olá. Eu sou a Ana. – respondeu ela sem fazer a mínima ideia de como reagir à situação.

A mulher apresentou-lhe a caixa embrulhada.

-É uma prenda para si.

Ela agarrou a caixa com uma mão, mantendo a outra a agarrar a camisa que a cobria.

-Obrigada.

-Não quer abrir?

Ela assentiu. Dirigiu-se até ao sofá que estava desocupado e sentou-se, sempre sem largar a camisa, pousou a caixa na mesa, ao lado dos copos de vinho e abriu o embrulho apenas com a mão livre. A caixa no interior era de uma conhecida marca de langerie.

-Só pude tentar adivinhar o seu tamanho pela conversa que teve com o meu marido. Espero que lhe sirva…

Ana abriu a caixa e lá dentro estava uma deslumbrante combinação de cetim branco.

-É linda. Obrigado.

-Não a quer experimentar? – Perguntou a Rute.

Ana corou. Olhou para o homem de quem nem sabia ainda o nome que acenou afirmativamente com um sorriso calmo.

Respirou fundo, levantou-se, largou finalmente a camisa, expondo-se aos olhos dos dois, tirou a combinação da caixa e apreciou-a. Depois, pôs-se de pé e dirigiu-se ao espelho, vestindo-a e observando-se. A medida era perfeita e a peça pereceu moldar-se ao seu corpo. Sentiu-se deslumbrante e pôde ver o ar de aprovação de ambos os elementos do casal.

-Acho que estou bem, não estou?

-Está linda. - Afirmou Rute.

-Mas sinto-me… deslocada.

-Porquê?

-Sou a única pessoa aqui nestes preparos…

Rute aproximou-se dela.

-Compreendo.

Desapertou o cinto que lhe cingia a gabardine, desabotoou-a e abriu-a revelando que por baixo da mesma havia apenas um corpete com ligas encarnado bem escuro, aveludado, que lhe segurava as meias de seda, e um fio dental que fazia conjunto. As peças adornavam um corpo absolutamente pecaminoso, antes insuspeito por baixo da gabardine.

-Ainda se sente deslocada? – Perguntou Rute fixando-a nos olhos.

-Não, já não. Não me leva a mal se eu lhe disser que é uma mulher deslumbrante?

-Nada, mas olhe que a Ana não fica atrás…

-Ora. Não será assim tanto…

-Acha que não? Basta ver a expressão do meu marido…

Rute aproximou-se de Ana pondo-se ao seu lado e envolvendo-a pela cintura, ficando as duas voltadas para ele, ambas um puro contraste uma da outra, mas ambas deslumbrantes.

-Vê? – Perguntou Rute. – O olhar dele não nos larga.

Ana sorriu. Sentia-se absolutamente deliciada com a atenção que recebia, sentia-se plena e mulher, sensual e apreciava o momento. Sorriu ao homem e olhou para Rute, que tinha o olhar fixo em si, ficando com o olhar preso no dela.

Rute aproximou-se de Ana, chegando com o seu rosto bem perto do dela, e Ana, ao vê-la aproximar sentiu em si uma hesitação e vacilou. Rute deixou os seus lábios bem próximos dos dela, esperou um pouco para ver se a indecisão se desvanecia e acabou por sussurrar apenas… - Confia - …e com isto foi como se algo levantasse entre elas e os lábios de ambas colaram-se num beijo…

A sensação daqueles lábios nos seus foi estranha ao inicio, o sabor a cereja do batom, a suavidade do beijo, mas fechou os olhos e deixou-se levar, sentiu-se abraçada, envolvida, e abraçou, envolveu, perdeu o pudor, e aquele algo no fundo da sua mente que lhe dizia que isto não era normal, natural, foi subjugado por um mar de sensações que a invadiu e a electrizou, excitou-a, talvez apenas o facto de ser um fruto proibido ou então foi a suavidade com que foi tocada, acarinhada, a maneira como sentiu aquelas mãos femininas a explorar o seu corpo sem a urgência tão presente no toque masculino, com a calma da certeza de se ter todo o tempo do mundo, o facto de naquela envolvência não haver uma batalha mas antes o serenar da alma, sentir uma mão a percorrer o sei seio e tocá-la em todos os pontos certos…

…e, quase sem dar por isso, estava envolvida numa dança em que a musica parecia ser apenas ouvida pelas duas.

Esqueceu-se completamente da presença masculina que não dava qualquer sinal da sua existência, e atreveu-se a explorar, também ela, aquele corpo feminino que estava à sua disposição, e percebeu o quanto era natural a maneira como recebia e provocava um mar de sensações suaves mas avassaladoras.

Sentiu uma mão dela sobre o seu sexo, ainda por cima do tecido, a toca-la com uma lentidão e uma calma que faziam com que quisesse mais, que a faziam gemer baixinho, uma doce tortura…

…sentiu-se a querer um clímax ali, mas sentiu que não era urgente tê-lo, e quis tocá-la também e pela primeira vez sentir um sexo feminino nos seus dedos que não o seu, e tocou-a e deu-lhe prazer, sentiu o prazer dela…

Perdeu a noção de quanto tempo esteve entre beijos e toques, completamente envolvida pela calma, como se flutuassem as duas acima do chão…

…e depois sentiu um corpo quente que se colou às suas costas, que a envolveu, uns lábios que lhe beijaram o pescoço, umas mãos diferentes, mais agrestes, que lhe tocaram o peito, , e quebrou o beijo com ela para procurar os lábios dele enquanto sentia a excitação dele, a sua carne pulsante colada às suas nádegas…

-Vamos? – perguntou ele às duas num sussurro quando o beijo quebrou e a resposta não chegou em palavras mas em actos, seguindo todos eles em direcção à cama…

Êxtase.

A única palavra capaz de definir o que sentia naqueles instantes depois de uma série de orgasmos como não tinha memória provocados pelas bocas que percorreram todo o seu corpo procurando cada centímetro da sua pele, bocas que se haviam alternado no seu sexo, ora lambendo e sugando de forma meiga, ora de forma mais forte, que lhe procuraram os lábios, o peito...

Nem nos seus sonhos mais eróticos se atrevera a pensar que esta sensação podia ser tão envolvente e forte, e ao mesmo tempo calma e doce. O casal parecia estar ali apenas para si, para lhe proporcionar o prazer que ela recebia e lhes dava de volta.

Completamente cansada pedira-lhes para parar por alguns instantes e observava agora a atenção que Rute dava ao marido sorvendo-lhe o sexo meigamente, e sentia a gula de fazer o mesmo. Apesar do cansaço do corpo, a luxúria falou mais alto e chegou perto de Rute que prontamente partilhou o sexo dele, de quem ela nem sequer sabia o nome, com ela, fazendo com que ele fosse agora o centro das atenções.

Ele, deitado na cama, olhava-as apreciando cada movimento das bocas delas, cada movimento das línguas, os beijos que elas iam trocando ocasionalmente…

Rute levantou-se, levando-a consigo num beijo carregado de desejo e, num convite explícito, ofereceu-lhe o sexo do marido. Ela, por cima, fê-lo deslizar para dentro de si, numa tentativa de apagar o fogo que ainda lhe consumia o ventre.

-Devagar. – disse ele, querendo prolongar o prazer e o momento e ela fez-lhe a vontade, fazendo movimentos lentos com as suas ancas, recebendo-o profundamente, fodendo-o com calma, apreciando.

Rute oferece o seu sexo à boca do marido, ficando de frente para ela e cola a boca à sua, levando as mãos às suas nádegas e auxiliando e controlando os movimentos dela.

Ela e Rute acabam por ter um orgasmo quase simultâneo, abraçadas uma à outra, mas não quebram o auto-controle do homem que continua a fazer amor com ambas com desejo.

Ainda assim, saem ambas de cima dele e ela, com uma curiosidade que crescia a cada momento dentro de si, mas também com o receio de não saber o que fazer, faz com que Rute se deite ao lado do marido, prova-lhe o sexo, explora e deleita-se na experiência, sentindo-se realizada de uma forma diferente ao provocar-lhe um orgasmo.

Por fim, decidem fazer quebrar o homem o voltam a deleitar-se com o sexo dele nas suas bocas até provarem o precioso liquido…



***



Já vestida, eles acompanham-na até à porta do quarto. As despedidas são breves e ela sai.

Entra no elevador, vê-se ao espelho e repara no quanto o seu rosto reflecte um brilho de felicidade…

…e só então se lembra do marido e uma ponta de culpa aparece no seu rosto.

O caminho para casa é feito já com lágrimas nos olhos, sem saber o que fazer.

Evita sequer olhá-lo nos olhos, mesmo ao jantar e durante o resto do serão.

Já deitados, no escuro, ela diz:

-Tenho uma coisa para te contar…

-Diz.

-É grave…

Ele acende a luz e olha para ela, vê as marcas das lágrimas nos seus olhos.

-Fala.

-Primeiro que tudo, quero que saibas que te amo e que és a pessoa que eu quero ter ao meu lado, sempre.

Ele olha-a com um ar sério e expectante.

Ela conta-lhe resumidamente tudo o que aconteceu e explode num choro, esperando a reacção dele.

Ele abraça-a, espera que ela se acalme. Por fim ela olha para ele.

-Não dizes nada?

Ele olha-a, sorri-lhe de uma forma carinhosa e pergunta:

-Foi bom?

Ela, aliviada pela expressão dele, sorri também e responde:

-Extasiante…

Ele afaga-lhe o rosto, beija-a com suavidade, aninha-se a ela.

-E não queres contar com pormenores de requinte? – pergunta enquanto a afaga com suavidade.

-Queres mesmo que conte?

-Claro. – responde ele enquanto faz uma mão deslizar para o sexo dela.

Ela solta um suspiro enquanto se sente a acender novamente e começa:

-Bem, como te disse tudo começou por causa da greve…

8 comentários:

Anónimo disse...

Gostei tanto de reler como da primeira vez...

Vício de Ti disse...

Já o tinhas publicado? :) Por vezes há fantasias que só temos consciência que as queremos quando se realizam :)

Anónimo disse...

Ana B.,

Que mais posso eu dizer senão...

...Obrigado!

:)

Anónimo disse...

Vicio de ti,

estes ultimos textos que tenho publicado são coisas antigas por cá. Este em particular foi publicado há mais ou menos 2 anos em sete partes.

A diferença é que agora estão aqui num unico folego...
(se bem que acho que não vai haver muita gente com paciencia para ler "posts" tão grandes...LOL)

Em resposta ao teu comentário, há um ditado popular muito antigo e que é infalivel:
-A ocasião faz o ladrão...

:)

Ly disse...

delirante
um sussurro

Malena disse...

Todas...

Beijo

Anónimo disse...

O Sussurrar do corpo,

...menos delirante do que possas pensar...

:)

Anónimo disse...

Malena,

...eu sei... 3:)