Perguntáram-me à pouco...

...como é que eu definiria o que sinto pela minha Penelope...


...a resposta foi simples:

-É a unica mulher para quem eu nunca vou ter palavras que cheguem...



Tarde

Estava completamente distraído e tentar escrever qualquer coisa quando ela, como tantas vezes faz, se pôs ao meu lado.

Estava tão absorto no que fazia que nem me dei conta do barulho dos saltos no chão. Ela chegou e ficou, não me interrompeu ou incomodou, não me quebrou a concentração…

…apenas ficou ali, como quem espera.

A presença dela foi-se intensificando no meu espírito e, não vendo como continuar o que estava a fazer, dei-lhe atenção, finalmente, como que para lhe perguntar o que era.

Mas não perguntei.

Os botins creme de salto alto do qual saiam aquelas pernas de que eu tanto gosto envoltas por meias de ligas brancas encimadas por uma mini mini-saia de pregas com um padrão em xadrez preto e branco que estavam ao fundo do corpo coberto apenas por uma camisa de rede larga de pescador vermelha sob o qual se via claramente o soutien púrpura da triumph que lhe tinha oferecido pelo aniversário e que enquadrava todo o seu brilhante sorriso fez-me ficar completamente…

…mudo!

-O que é que achas? – perguntou ela como quem não quer a coisa.

-Que não vais ficar com isso vestido durante muito tempo. – respondi eu. Ela soltou uma gargalhada.

-Pois, é mais ou menos esse o objectivo.

Levantei-me, abracei-a, envolvi-a, beijei-a, acariciei-a, apalpei-a, e ela empurrou-me, agarrou-me com a mão, puxou-me, arrastou-me para o quarto, despiu-me a t-shirt enquanto fazia a língua subir lânguida pelo meu corpo, provocando, tentando, empurrou-me para a cama, desapertou-me o cinto, com os olhos nos meus, desapertou-me as calças com aquelas duas esmeraldas fixas nos meus olhos, tirou-mas provocadora, fez deslizar os meus boxers com o olhar guloso preso no meu sexo, e, sem pedir licença, satisfez a sua gula, lambeu-me, chupou-me, engoliu-me, fodeu-me com a boca, parou, pôs-se de pé, deu a volta à cama, levantou a saia revelando-me a sua nudez por debaixo, a sua cona macia e depilada, subiu para a cama, ajoelhou-se por cima de mim, fez descer o seu clítoris até aos meus lábios já sedentos, debruçou-se e continuou a satisfazer a sua fome do meu sexo à medida que me saciava a gula que tenho sempre por ela, fazendo-me prová-la, lambê-la, dando-me a sua excitação…

…o seu orgasmo que não tardou a chegar de forma avassaladora e que a percorreu como se a percorressem choques eléctricos enquanto os gemidos e gritos eram abafados pelo meu sexo que lhe enchia a boca por completo, até não se conter e se deixar cair em cima de mim como se uma onda de cansaço se abatesse, mas recompôs-se e atacou-me novamente com furia redobrada fazendo-me contrair e fazer um esforço hercúleo para não ter um orgasmo logo ali e ela, pressentindo isso mesmo, pára, levanta-se e faz-se enterrar pelo meu sexo até ao fundo de uma só vez, põe as mãos por cima do meu peito e…

…fode-me, profundamente, devagar, desfruta-me e faz-me desfrutá-la e deixa-se ficar à beira de outro orgasmo enquanto puxa o meu e engasga os gritos na garganta, sente-me a conter-me, crava os olhos nos meus e limita-se a dizer…

…“Vem-te para mim”…

…e eu solto-me e derramo-me nela…



Apetece...

Apetece-me entrar pelo teu gabinete adentro, em silencio, fechar as portas atrás de mim, sem tu sequer reparares, como nunca reparas, porque estás absorvida pelo que estás a fazer e quando estás concentrada…

Apetece-me dar a volta à secretária e olhar para o monitor carregado de números e letras e fórmulas e tretas…

Apetece-me pôr a mão no teu ombro enquanto me sento na secretária e tu nem ligas à minha presença…

Apetece-me deslizar a mão para dentro da tua camisa, pelo colarinho, fazendo com que finalmente dês por mim e digas um “tá quieto”…

Apetece-me não estar e fazer deslizar a mão por dentro do teu soutien, fazer a minha mão moldar-se ao teu peito e ouvir-te dizer “não sejas chato”…

Apetece-me ser chato e continuar as carícias que provocam rubor na tua face que é evidência daquilo que sentes por oposição ao olhar que me mandas e que diz “não vês que estou ocupada?” para te voltares novamente para o monitor e fingires que ainda estas concentrada naquelas torrentes de caracteres…

Apetece-me dar-te uma lambidela suave no pescoço seguida de uma mordidela enquanto te esforças por não esboçar reacção nenhuma…

Apetece-me largar-te, fazer a tua cadeira rodar, para ficares de frente para mim, tomar de assalto os teus lábios enquanto a minha mão desce para o meio das tuas pernas e sentir a tua humidade espalhada a tira de pano que a separa do teu sexo…

Apetece-me fazer-te subir a saia, afastar o tecido com a mão e fazer mergulhar a minha cabeça no teu sexo, provar-te, envolver o teu clítoris com a minha língua, chupar-te e sentir a tua rendição enquanto o telefone começa a tocar…

Apetece-me dizer-te “Atende!” enquanto continuo a lamber-te e a deliciar-me com o teu sabor, ouvir-te tentar fazer a voz mais profissional do mundo enquanto te lambo e senti as pernas tuas pernas a tremer na antecipação do orgasmo que se aproxima…

Apetece-me pegar em ti, mal acabas a chamada, levantar-te, sentar-te na secretária, desapertar as minhas calças, deixar que me agarres e que sejas tu a guiar-me para dentro de ti…

Apetece-me fazer-me deslizar ao longo de ti, devagar mas profundamente e sentir a tua respiração pesada e os gemidos e os gritos a ficarem presos na tua garganta por causa das tuas colegas da sala ao lado…

Apetece-me dizer-te ao ouvido “faz-me vir” enquanto sinto as tuas contracções e o teu orgasmo a chegar numa explosão incontida…

Apetece-me vir-me junto contigo e deixarmo-nos ficar os dois abraçados por uns breves momentos…

Apetece-me ver-te enquanto te recompões e voltas a pôr o teu ar profissional, como se nada se tivesse passado…

Apetece-me olhar para ti, de novo a tentares focar a tua atenção no monitor enquanto te pisco o olho e digo “Até logo.”…

Apeteces-me!

Agora!

Já!



Estou a caminho…



Um homem de palavra

A cena:
Ela, deitada no sofa, de frente para ele. Ele ajoelhado no chão, penetrando-a frenéticamente, ambos bem perto do orgásmo.
Ela: Ai, amor, apalpa-me...
Ele: Não, que eu disse ao teu marido que jamais te poria as mãos em cima...

Uma longa Viagem (Para Fábrica de Letras)

…e havia todo o entusiasmo, toda a doçura, toda a gula de te querer, de te provar, de te ter para mim, enquanto percorria o teu corpo suavemente, com o meu braço que te envolvia a fazer as pontas dos meus dedos deslizar na pele das tuas costas, suavemente, indolentemente, intemporalmente, sem que nada mais precisasse de ti do que aquele momento, enquanto sentia o cheiro do teu cabelo tão próximo de mim, a tua cabeça apoiada no meu ombro, olhos fechados, respiração suave, o teu braço atravessado no meu peito e a tua pele com aquela sensação quente, quase magnética e os meus dedos a percorrer-te de pólo a pólo, uma longa viagem porque lenta mas cheia de sensações, desde o teu cabelo que afago, massajando a tua cabeça ao de leve, descendo depois pelo teu pescoço, contornando o teu ombro, descendo pelo teu lado, roçando o teu seio desnudo que se pressiona contra a minha pele, percorrendo-te num semi-arco desenhado pelo alcance do me braço e que acaba ao fundo das tuas costas, na base da tua espinha e, incontida, ofereces-me os teus lábios molhados da tua saliva doce, fazes a tua língua dançar na minha, fazes-me sentir o pulsar do teu sexo contra a minha perna, fazes-me querer-te, desejar-te e viro-me para ti e abraço-te e beijo-te e sento o teu peito colar-se ao meu, a tua perna a passar por cima da minha, o teu sexo a oferecer-se-me despudorado, roçando no meu entumecido, e sinto o teu calor, a tua excitação húmida, o teu gemido e o meu braço puxa-te para mim, enquanto o outro desce até à tua nádega e te puxa para mim enquanto pressionamos o sexo um contra o outro, nos roçamos, nos sentimos, nos excitamos e a saliva se derrama de uma boca para a outra e a vontade aumenta ainda mais, e, num momento de pura impaciência nos fundimos, nos oferecemos um ao outro, e sinto o teu sexo deslizar ao longo do meu, devagar, pedaço a pedaço, como se eu fosse imenso, quebras o beijo, mordes o lábio, fazes força de olhos fechados, gemes mais, dás mais, queres mais, e no limite paras, deslizas em sentido contrário, devagar também para te empurrares para mim de seguida, com força, fazendo com que um espasmo de prazer suba pela minha espinha, como se fosse uma descarga eléctrica e agarro-te, não te deixo afastar, púbis coladas, enclausurado de livre vontade em ti, as bocas colam-se novamente, as mãos afagam e o pulsar do teu sexo no meu tolda-me os sentidos, a visão e sinto-me em ti, num universo muito para além da carne, mas é nesse momento, enquanto a carne se funde, que os espíritos encetam uma longa viagem em direcção ao êxtase e ao nirvana…



Para Fábrica de Letras



...mesmo, mesmo!

É verdade que estou um bocado arrasado, cansado…
…é lixado estar constipado em pleno verão e passar um dia com arrepios de frio quando toda a gente sua de calor.
Ainda assim, não consigo deixar de pensar no que me apetecia fazer-te cada vez que olho para ti. E apetecia-me fazer-te tanta coisa…
Apetecia-me dar-te um banho…
…de língua. Percorrer-te do corpo devagar, fazer-te cocegas, que ainda não te consegui tirar, e acho que não conseguirei.
Sei que há montanhas de memórias em mim, coisas loucas, outras que nem tanto, mas a verdade é que prefiro olhar para a frente. O olhar para trás só me ajuda a pôr tudo em perspectiva.

Estou aqui a escrever isto, enquanto ouço diálogos idiotas dos protagonistas de uma série acerca de vampiros e dou uma gargalhada quando ouço o protagonista afirmar que nasceu em 1805 em Baton Rouge no Louisiana. Olho para o tipo e não o acho muito parecido com o Brad Pitt. Ou por outro lado, também não acho o Brad Pitt parecido com ele. Esta idiotice quebrou o meu raciocínio…
…onde é que eu ia?

Ah! Um banho de língua. Sim, sem dúvida. Apetecia-me.
Apetecia-me lamber-te, pedaço a pedaço, sentir o sabor da tua pele até me sentir saciado.
Mas acho que nunca me vou saciar de ti.
Nem me apetece fazer amor contigo, para ser franco. Estou mesmo quebrado e febril. Mas apeteces-me. Apetece-me sentir o teu corpo contra o meu, a tua cabeça no meu ombro, a tua perna por cima das minhas, deitada de lado, como gostas tanto de estar, ao longo de mim.

Gosto mesmo que sejas parte da minha vida…

Omega

Eu quase adivinhava. Algo no meu intimo me dizia que nada voltaria a ser com antes a partir daquele dia.
Não é que os indícios não estivessem já lá, por isso não era difícil de adivinhar, não era propriamente um acto de clarividência. Era apenas o resultado de somar um mais um e chegar à conclusão que a soma dava dois.
Tínhamos vindo de alguns dias que passamos sozinhos e longe do mundo, durante os quais se passaram coisas maravilhosas, e outras que nem por isso. No entanto, acho que estávamos ambos abalados.
Estávamos em casa dela, tínhamos chegado a meio da tarde, cansados de uma viagem de cinco horas. Descansamos um pouco, jantamos, e eis que ela recebeu uma chamada da amiga a perguntar se, como tinha uns quantos dias de férias, poderia vir passá-los a Cascais, ao que ela respondeu prontamente e voluntariosamente que sim. A amiga chegaria no dia a seguir, junto com a filha.
Fomos beber café, demos uma volta pelo paredão até ao Estoril e voltamos.
Chegados a casa, abrimos o sofá e recostámo-nos lá a ver um pouco de televisão.
Estava calor e nós quase sem roupa. Ela, aninhada a mim, com o corpo ao longo do meu, cabeça em cima do meu ombro e envolvida pelo meu abraço, fazia-me festas no peito. Eu, com o braço que a envolvia, deslizava a mão ao longo do seu lado e acariciava-lhe o seio desnudo descendo depois até às suas nádegas…
…estávamos ambos em paz.
Mas a paz entre nós era algo de caótico, e uns leves mimos levavam sempre a outra coisa qualquer…
…e aqueles mimos levaram a beijos…
…e os beijos a carícias mais intensas…
…e as carícias a mais beijos…
…e a mão dela, que até então estava circunscrita ao meu peito começou a explorar mais e mais, até entrar por dentro dos meus boxers e me começar a masturbar com suavidade.
Ela adorava sentir-me a crescer na mão dela. Adorava ver, também, por isso puxou-me os boxers para baixo e continuou a acariciar-me, com suavidade, enquanto me sentia e me via a crescer até uma erecção plena.
Deu-me um beijo suave, leve e olhou-me com aqueles olhos felinos para me dizer:
-Adoro olhar para o teu caralho, sabias?
-Porquê? – Perguntei eu em resposta.
-Porque é, sei lá, bonito…
Ri-me da resposta dela, não a percebendo totalmente, mas apenas parcialmente. Também eu gostava de olhar para a cona dela, afastar-lhe os grandes lábios e contemplá-la quando estava bem excitada e observar o clítoris a pulsar de desejo…
Agarrou-me pela base, apertou e ficou a olhar para mim com um ar de miúda que olha para uma montra de doces…
…e depois não se conteve, desaninhou-se e desceu, levando a boca directamente à minha glande e chupando-me por um momento, para depois me começar a lamber com suavidade, ao longo de mim…
…e depois engoliu-se de uma só vez, fazendo-me deslizar ao longo da boca, até à garganta…
…adorava quando ela me fazia isto…
Não aguentei e puxei-a para cima de mim. Também eu me deliciava a lambê-la e ela sabia disso. Começamos a deliciar-nos num sessenta e nove sem pressas. Ela queria tanto desfrutar-me como eu queria desfrutá-la.
Nem sei quanto tempo estivemos assim, a torturarmo-nos com doçura, mas estivemos até ela me dizer:
-Hoje quero que te venhas na minha boca.
A minha resposta foi aumentar a intensidade e fazê-la ter, finalmente, um orgasmo na minha, que talvez por todo o tempo que tinha passado a torturá-la foi intensíssimo, e eu lambi-a, chupei-a, bebi-a até à última gota, até ela desfalecer em cima de mim.
-Queres o leitinho na tua boca? – Perguntei em seguida.
-Quero. – Afirmou ela atirando-se novamente ao meu caralho e fodendo-me com mestria.
-Eu dou-to, mas quero a tua coninha primeiro.
Parecia que era o que ela queria ouvir. Chegou-se para baixo, levantando-se e ficando de costas para mim, agarrou-me com a mão e, num único impulso, enterrou-me nela até ao fundo, tremeu, suspirou, e começou a foder-me com uma tesão louca.
-Foda-se, … - dizia - … que caralho bom!
E eu auxiliava, com as mão nas nádegas, ajudando-a a subir para ela se deixar cair novamente em seguida, enquanto me tentava controlar ao máximo para não ter um orgasmo logo ali. Queria continuar a senti-la, assim, a deslizar ao longo de mim, a engolir-me. Adorava quando era ela a foder-me desta maneira tão selvagem, pouco pudica, pouco condizente com aquilo que ela aparentava ser…
...e adorava os palavrões que ela soltava, apenas e só nestas alturas, porque noutras era uma senhora, uma verdadeira senhora. Só na cama se dava ao luxo de ser…
…puta!
Saiu de cima de mim.
-já tenho as penas cansadas amor. – Disse ela enquanto se punha de gatas ao meu lado. – Fodes-me como eu gosto?
Não respondi. Levantei-me, pus-me atrás dela, agarrei-a pelas ancas e encaixei-me todo nela, completamente, deixando-me ficar assim por um bocado. Ela agarrou uma das almofadas, abraçou-se a ela, enfiou lá a cara abafando o grito que dava pelo que sentia, não fosse a vizinha de cima reclamar novamente
…e veio-se assim, comigo quieto, bem enterrado nela, e pude sentir os espasmos da sua cona a querer provocar-me um orgasmo também, e aguentei o mais que pude, até não conseguir mais…
…e sai dela, a tentar controlar o meu corpo e o que sentia, com o meu cérebro a querer desligar, a sentir-me à beira do orgasmo…
…que consegui finalmente controlar, e respirei fundo, e voltei a entrar nela, mas fazendo apenas a minha glande entrar…
…ela queria mais…
…mas as minhas mão, nas suas ancas não deixaram, e comecei a fodê-la assim, devagar, só com a glande, praticamente só a fazer-me ondular levemente…
…ela gemia…
…escorria…
…e eu, finalmente, de uma só vez enterrei-me novamente para me retirar a seguir…
…ela não o esperava e o grito não foi abafado…
…e voltei ao inicio, a fazer-lhe isto novamente…
…e quando a sentia perto de um orgasmo, acelerava o ritmo, fodia-a com força, fazia-a vir-se…
…e depois voltava novamente ao mesmo…
Perdi completamente a noção do tempo, a noção de quantos orgasmos ela tinha tido, mas sei que a derrotei, que foi ela quem me pediu para parar.
-Amor, deves estar para lá de cansado…
E estava. Parecia que tinha acabado de tomar um banho no meu suor…
…ela também.
Obrigou-me a deitar, pôs-se no meio das minhas pernas, agarrou-me e, sem hipótese de resposta limitou-se a quase ordenar:
-E agora vais dar-me o que eu quero.
Voltando novamente a foder-me com a boca, com intensidade, sem me dar hipótese de eu me controlar…
…e eu tive o meu orgasmo que ela sorveu deliciada até à última gota.
Depois voltou a aninhar-se em mim. Ambos precisávamos de um banho mas era impossível levantarmo-nos.
Beijou-me, fazendo-me descobrir que não tinha engolido todo o meu sémen, e partilhava-o agora comigo. E quando o beijo acabou, não me lembro de mais nada que não o acordar com o sol a entrar pelas gretas do estore.
No dia a seguir a amiga chegou, com a filha, e instalaram-se. Passei essa noite em casa dela, mas nada se passou entre nós.
E depois, nunca mais estivemos juntos…



Suavia

Já de há muito tempo que a maneira come ela me olhava me perturbava profundamente. Tanto que eu não conseguia fixar os olhos nela por muito tempo.
O olhar dela parecia que me atravessava de um lado ao outro, que me tornava transparente…
Normalmente seria algo de que eu gostaria, mas neste caso, era complicado.
Ela, embora minha colega, era uma “tia” de Cascais, conhecia meio mundo, andava por festas, vestia roupas de marca, vivia numa vivenda, estava junta com um tipo bastante mais velho mas carregado de Papel, e que embora não fosse construtor civil, tinha o mesmo tipo de mentalidade, Mercedes enorme, ultimo modelo, topo de gama…
Já eu, um desgraçado, pé rapado, “metaleiro” com mau aspecto, numa relação que durava já há uns anos, e que tinha já terminado há bastante tempo embora nenhum dos dois se desse ao trabalho de o admitir. O que me mantinha na relação era o medo do que ela poderia fazer a ela própria, e ela usava esse medo para me manter por perto.
Tinha (e ainda tenho) um carinho enorme por ela, mas já seria impossível nós funcionarmos. Ela tinha uma depressão grave e recusava-se a procurar tratamento e eu, por causa da depressão dela, começava a cair numa.
No meio de todas as minhas dúvidas existenciais à altura, aparece esta criatura que, sem eu conseguir perceber o porquê, se dava ao trabalho de olhar para mim com esta intensidade absurda, como se eu valesse, de facto, alguma coisa. E eu tinha tanto a noção de que não valia que fugia ao seu olhar, não o enfrentava, tentava não lhe responder…
…mas incomodava-me.
Pensava eu, de mim para mim, que raio teria eu para oferecer a uma mulher que tinha, aparentemente, tudo?
Ouvia-a a falar dos sítios para onde ia de férias, da casa de fim-de-semana, da festa da “não-sei-quantas” que tinha sido um arraso…
…do X, do Y, do Z que tinham feito isto e aquilo…
A verdade é que estávamos situados em mundos completamente à parte, tão distantes quanto a distância que vai de um lado ao outro da via láctea. Aparentemente não havia qualquer ponto de contacto…
…a não ser o trabalho.
As conversas entre nós foram fluindo. Encontrávamo-nos no café, de manhã, antes de entrar ao serviço, ou à hora do almoço. Falávamos disto e daquilo…
…e quando eu comecei a reparar no olhar dela, comecei a ficar bastante desconfortável.
No entanto, da primeira vez que nos tínhamos cruzado, houve um momento. Uma pausa. Algo que não consigo definir com estas palavras escritas que são demasiado imperfeitas.
Quando entrei para aquele trabalho ela estava de férias. No dia em que voltou, entrou na sala onde costumava trabalhar e onde eu estava a fazer um pequeno favor a uma colega de sala dela. Conforme entrou o nosso olhar cruzou-se e posso jurar que o meu coração falhou uma batida. Foi algo ínfimo, imperceptível, mas que me fez uma das sensações mais docemente estranhas que tinha vivido até então.
Ela era simplesmente linda. E como se isso já não bastasse tinha uma postura, uma maneira de falar que me agradavam imenso. E embora fosse bastante “tia” detestava que a identificassem como tal.
Fomos ganhando alguma confiança, através de amigos comuns. Sim porque depois desse primeiro dia ela nem se dignava a reconhecer a minha presença num lado qualquer. Um pedido de ajuda dela a um colega que me pediu ajuda a mim para resolver o problema dela foi o nosso ponto de contacto. Fomos falando, fomo-nos conhecendo, até eu começar a reparar naquele olhar insistente.
Como é obvio, tudo isto durou, como sempre dura, até um dia…
Era algures no principio da primavera. Era uma sexta-feira em que, por causa de um feriado no dia anterior, quase ninguém tinha vindo trabalhar. O edifício estava praticamente deserto. Eu tinha vindo. Ela também.
Por volta do meio-dia ligou-me a perguntar se íamos almoçar juntos à cantina, no ultimo andar do edifício. Respondi-lhe que sim e combinamos a hora.
À hora indicada lá estava eu. Ela chegou logo em seguida. Fomos falando, comendo, descontraidamente, sem pressas…
…afinal, nem chefias tínhamos no edifício…
…mas não quisemos abusar. A seguir ao café decidimos ir até à minha sala fumar um cigarro à janela.
Estivemos, fumamos e a conversa continuava a fluir acerca de tudo, mas sobretudo de visões pessoais que tínhamos em relação ao mundo. E aquele olhar não se desviava de mim, e os seus  olhos sempre à procura dos meus e quando eu ganhava coragem para mergulhar nos olhos dela…
Acabei por me sentar na minha cadeira enquanto ela ficou à minha frente, encostada a uma outra secretária, hoje vazia, sempre a afirmar que tinha de ir mas a conversa a nunca acabar, e o olhar sempre presente.
A certa altura não me contive.
-Pá, tens que deixar de olhar assim para mim.
-Assim como? – Perguntou ela com um sorriso sacana, a fazer-se desentendida.
-Assim como olhas, com essa intensidade toda.
-Incomoda-te?
-Um bocadinho.
-Porquê?
Enfrentei o olhar dela, e respondi.
-Porque me fazes passar algumas coisas pela cabeça e não tarda nada tomo alguma atitude, e ainda faço alguma coisa…
-Como por exemplo?
Não respondi.
Levantei-me, com os meus olhos colados nos dela, contornei a minha secretária, fui direito a ela, agarrei-a pela cintura, colando o corpo dela ao meu, envolvi-a e respondi por fim – Isto! – enquanto mergulhava em direcção aos lábios dela tocando-a com suavidade, mas ao mesmo tempo como se aquele beijo sempre tivesse sido nosso, como se aquele momento fosse absolutamente inevitável na minha vida, e ela recebeu-me com doçura e sem receios, entregando-se a mim, fazendo a língua procurar a minha e ficámos ali, não sei quanto tempo, perdidos num abraço que parecia apenas pecar por tardio, urgente mas calmo, doce, uma doçura que eu intuía existir mas que até então me tinha escapado por completo.
Foi a primeira vez que me perdi por completo num simples beijo.
E quando o beijo acabou, separamo-nos, ela foi em direcção à porta, com um ar sereno, e saiu. Não dissemos uma palavra.
Senti-me absolutamente…
…sei lá…
…incrivelmente estúpido, talvez!
E agora?
Fiquei sem saber o que faria em relação a ela, nem em relação a mim. Sem saber o que fazer quando a visse outra vez. Mas foi ela que solucionou o problema. Umas duas horas depois, entrou-me pela sala, sem bater, veio direita a mim, beijou-me e saiu sorridente dizendo apenas “Até amanhã”…



Toque

Quando cheguei ao pé dela encontrei-a sentada no muro a contemplar a vastidão do oceano sem fim, na casa da Guia, em Cascais. Tive de me conter para não a agarrar logo ali, mas contive. Cumprimentámo-nos como bons amigos que éramos, naturalmente. Sentei-me no muro ao lado dela.
-Não queres beber ou café, ou assim? – Perguntou-me.
-Não, estou bem. Bebi há bocado, antes de sair de casa.
Ela sorriu. Sentia-a melancólica.
-Já viste esta paisagem?
-Já, é absolutamente espectacular.
-Gosto imenso de vir para aqui e ficar só a ver o mar, nestes dias calmos. Parece que o mundo não tem fim…
-Parece que a nossa alma não tem fim. – Disse-lhe eu.
Ela olhou para mim, surpreendida pela minha resposta. Ficou um bocado em silêncio, a contemplar a paisagem, e eu fiz-lhe companhia. Depois virou-se para mim, olhou-me nos olhos durante algum tempo, com um ar absolutamente sério e sereno.
-Queres ir até outro lado qualquer?
-Sim, podemos ir. Por mim, estou contigo.
-Então vamos.
Levantamo-nos, atravessamos a quinta e fomos ao encontro dos nossos carros. O dela estava mais próximo da entrada, pelo que ela me disse a direcção que ia tomar e que me esperava um pouco mais à frente, para sair dali da confusão dos estacionamentos. Eu entrei no meu carro, e segui na direcção indicada, à procura do carro dela. Não demorei a encontrá-la estacionada à beira da estrada, fiz-lhe sinais de luzes e ela arrancou à minha frente.
Passamos o Guincho e suspeitei que ela queria ir para a praia do abano. A minha suspeita era fundada e fundamentada pelo facto de já uma vez lá termos estado antes. Gostei imenso do sítio, sobretudo porque, talvez devido ao facto de o caminho para lá ser bastante difícil, nunca haver lá quase ninguém.
Chegados ao largo, ela estacionou de frente para o mar e eu estacionei do lado esquerdo do carro dela. Como o meu carro era maior, mais espaçoso, e o vento se fazia sentir com intensidade, ela limitou-se a passar do carro dela para o meu. Sentou-se, acendeu um cigarro, eu imitei-a, e ficamos em silêncio enquanto víamos o sol a reflectir no oceano à nossa frente e apreciávamos o fumo.
Quando acabamos os cigarros inclinei-me para ela, e tomei-a nos meus braços, colei a minha boca à dela num beijo cheio de saudade. Também desejo, também paixão, mas principalmente saudade. Um beijo que lhe afirmava o quanto eu a queria e o quanto tinha sentido a sua falta. Um beijo que foi respondido por ela, da mesma maneira, com a mesma intensidade, e tal como a tomei, ela entregou-se totalmente a mim.
Deu a volta no banco para se poder deitar ao meu colo, e ficamos assim, não sei quanto tempo, porque perdi completamente a noção, apenas a mimarmo-nos, a contemplarmo-nos, com beijos de mimo…
…mas cuja intensidade foi subindo…
…e as mão, ávidas, já deslizavam pelos corpos um do outro em busca de algo mais.
A minha mão, mais atrevida, deslizou por debaixo da camisola de lã que ela usava e procurou o seu seio, ainda coberto por uma camisola interior e pelo soutien. Não satisfeita, desentalou a camisola interior das calças de ganga para sentir a sua pele, deslizou novamente ao longo do corpo, introduziu-se por baixo do meio do soutien, levantou-o, libertando o seio, e repousou sobre este, sentindo-o, massajando-o…
…e os beijos tornaram-se ainda mais intensos e sentia o seu mamilo a endurecer contra a palma da minha mão…
Neste momento estava bem assim, não precisava de mais nada, só de lhe dar carinho. Sabia-me bem a envolvência. Mas é ela quem leva a sua mão à minha e a faz deslizar até ao seu ventre, faz com que eu comece a entrar por dentro das suas calças…
…e é ela quem as desaperta para que a minha mão entre e deslize por dentro da sua roupa interior, e procure o seu sexo…
…quebra o beijo com um suspiro longo quando a começo a tocar, a massajar o seu clítoris, e sinto a sua cona completamente molhada, excitada, sem duvida, por toda a envolvência que sentíamos. Depois leva a sua mão ao meu cinto, que desaperta com destreza, abre-me as calças, mete a mão por dentro delas, procura a abertura dos meus boxers e agarra-me, sentindo na sua mão a tesão que sentia já de encontro ao seu corpo, e masturba-me lentamente, provocando-me um calafrio ao longo da espinha, uma sensação doce…
A minha mão intensifica os movimentos. Quero dar-lhe prazer, fazê-la sentir no corpo o que me vai na alma, vou mais longe, penetro-a com um dedo, depois outro, enquanto a palma da minha mão contínua encostada ao seu clítoris, massajando-a…
…ela prende a respiração…
…solta depois um gemido enorme, abre os olhos, fixa-os nos meus, bem fundo, e posso ler neles tudo o que quero ler, vejo-a, sinto-a, quero-a, ela agarra o meu pescoço, puxa-me para ela, cola os lábios aos meus num beijo inexplicável…
…e os meus dedos fazem movimentos de vai vem na sua cona quente, tão quente que me parece impossível, e sinto o movimento das suas ancas a querer que eu vá mais fundo, fodo-a com doçura, com calma, levo-a devagar…
…não quero que o orgasmo dela seja apenas intenso, quero que seja pleno…
…e tudo no mundo à minha volta desaparece, à excepção da sensação dos seus lábios nos meus, da sua língua na minha e da sua cona molhada a envolver os meus dedos…
…e ela solta um gemido que parece arrancado das profundidades da sua alma e prende a respiração e sinto as suas contracções, sinto-a a vir-se, a dar-se…
…e depois sinto-a desfalecer, agarro-a contra mim.
Ficamos assim uns instantes, absolutamente quietos, abraçados.
Depois ela abre os olhos, olha para mim, depois volta-se para ver o meu caralho, sorri, ajeita-se no banco, fazendo com que a minha mão saísse de dentro dela, toca-me com a ponta da língua provando a pequena gota, fruto da excitação que havia entre nos, e depois, sem aviso, cola os lábios à minha glande e começa a fazer a boca deslizar ao longo de mim até me engolir quase por inteiro, arrancando-me um “foda-se” com o que me fez sentir.
Depois começou a foder-me, pura e simplesmente, com a boca, num movimento de vaivém calculado, milimétrico, querendo provocar prazer…
…e conseguindo, sentindo-me cada vem mais excitado…
-Vou-me vir… - Avisei-a quando já não aguentava mais, não sabendo qual seria a sua atitude. A atitude foi intensificar ainda mais a foda que me estava a proporcionar e fazer-me derramar o meu sémen na sua boca, que engoliu deliciada até à ultima gota.
Quando sentiu a minha tesão começar a desfalecer, largou-me finalmente e ajeitou-se para se deitar novamente ao meu colo, e beijamo-nos, longamente, apaixonadamente…
Ainda deitada ao meu colo, fumamos um cigarro enquanto víamos o sol a pôr-se e a deixar a água luminosa com reflexos de fogo.
E por fim, voltou ao seu carro e voltamos as nossas vidas…



...não é?


…e entrar no quarto, estares a arrumar roupa nas gavetas do guarda-fatos, sentada numa cadeira, e chegar-me a ti, baixar-me, beijar-te, levar a mão ao teu seio, massajar-te, pores-te de pé, sem que o beijo se quebre, colares-te a mim, eu fazer as minhas mãos deslizar por dentro do teu calção, das tuas cuequinhas, levá-la ao encontro do teu clítoris, sentir a tua cona molhada, passar o dedo ao longo dela, massajar-te, masturbar-te, sentir o teu beijo ficar mais ansioso, penetrar-te com um dedo, sentir-te a querer, levares a mão ao meu caralho, por cima da roupa, sentir-te a masturbar-me, largares-me só o tempo suficiente para meteres a mão por dentro dos meus boxers, continuares a masturbar-me, eu continuar a foder-te a cona molhada, a escorrer de gozo e de tesão, largar-te, baixar os meus boxers, sentares-te na cadeira, ver a tua boca a dirigir-se ansiosa ao meu caralho, sentir-te a foderes-me com a tua boca, parares para te ajoelhares no chão, engolires-me avidamente, foderes-me com vontade, agarrares-me e masturbares-me enquanto me engoles, chupares-me tão bem que quase me fazes fraquejar as pernas e perder o equilíbrio, fazeres-me vir assim, beberes-me, engolires-me, levantares-te, colares os lábios aos meus cheia do meu sabor enquanto eu levo a minha mão de volta à tua cona e te fodo com um dedo enquanto sinto o meu sabor da tua boca, foder-te, com o meu dedo com ânsia, quebrares o beijo para te agarrares a mim, com a respiração ofegante, sentir as tuas pernas a fraquejar, sentir o teu corpo com pequenas convulsões, enquanto te vens e encharcas a minha mão, abraçada a mim para não caíres, sentir-te acalmar, voltar ao beijo, separarmo-nos, voltares a arrumar a roupa enquanto eu volto a cozinha para beber o meu café e fumar um cigarro, ambos com um sorriso nos lábios, é tão bom…



Pausa no trabalho (Parte II - Conclusão)

Voltas umas horas depois, quando eu já tinha desistido de te esperar.
Entras pela porta com um olhar guloso, absolutamente felino, tal como o teu andar, chegas ao pé de mim e perguntas:
-Sabes o que fizeste? As consequências de há bocado?
-O que é que eu fiz? – Inquiri, quase temendo o fogo que se espalhava no teu olhar e que abrasava tudo o que tocava.
Agarras-me a mão, sem cerimónias e guia-la para debaixo do vestido, para o meio das tuas penas. Estas completamente encharcada.
-Vês? Achas que isto se faz?
-Acho que ainda se faz pior?
-Promessa?
-Constatação.
Colas os lábios aos meus, a tua língua invade a minha boca de forma faminta, da mesma forma que dois dos meus dedos te invadem e te fazem soltar um gemido absolutamente carregado de tesão.
Agarras novamente na minha mão, tira-la do sitio onde ela está tão bem, levas os dedos à tua boca, lambes avidamente, levas a tua mão ao meu cinto, desaperta-lo, despertas as calças, puxa-las para baixo deixando evidenciado o volume nos meus boxers do qual já não consegues tirar o olhar, puxas os boxers para baixo, tocas a minha tesão, masturbas-me devagar, sentindo-me na tua mão, acaricias-me, sinto a suavidade do teu toque, a maneira como me mimas…
-Pareces feliz por me ver… - dizes, agarrando-me com força, o que parece fazer-me aumentar ainda mais de tamanho.
-Imensamente feliz.
-Nota-se!
E aproximas-te da minha glande, tocas-lhe coma língua húmida e quente, colas os lábio só na ponta, como que para me torturar, mas não aguentas o que tu própria sentes, e sentes imensamente o que eu quero, prometido desde há umas horas atrás, e de uma vez só fazes-me deslizar para a tua boca, ao longo da tua língua, envolvendo-me o mais que podes, sugando com suavidade, apertando-me o caralho entra a língua e o palato, enches-me de sensações, agarro-te o cabelo, massajo a tua cabeça, acompanho os movimentos enquanto me fodes suavemente com a tua boca, vibro com a sensação, ao mesmo tempo que reúno esforços para me conter, para não inundar a tua boca, embora o queira fazer ao ponto de deixar de pensar e só sentir, e tu sabe-lo, e sentes na tua boca.
Paras, levantas-te, sentas-te na secretária, puxas-me para o meio das tuas pernas, eu faço um esforço sobre-humano para não entrar em ti, colo o meu sexo ao teu, faço o meu caralho deslizar na tua nona encharcada, foço pressão contra o teu clítoris e apeteces-me…
…tanto…
…mas tanto…
-Mete… - pedes languidamente.
Não acedo ao teu desejo e continuo.
-Mete… - insistes, mas eu continuo a não o fazer.
-Fode-me. – Ordenas imperiosamente, e eu acedo a tua ordem e entro em ti, todo, de uma só vez, sem contemplações, deslizo ao longo da tua cona inundada mas apertada, fundo, colando as nossas púbis, deixando-me ficar dentro de ti, provocando-te um grito que é um misto de dor, paixão e tesão, sinto a tua cona a dilatar para me albergar, sinto a tua respiração entrecortada, tremes, expiras finalmente, gemes…
-Foda-se…
…dizes baixinho, a tua cona contrai-se à volta do meu caralho, massaja-o, como se o quisesse deglutir, comer, gemes ainda mais, pulsas e vens-te e eu deleito-me com o teu orgasmo, saio quase todo, volto a entrar com ânsia de ti, com a tesão acumulada da espera e fodo-te, de forma animalesca, quero que me sintas inteiro em ti, deliro com a tua cona, com os teus sons de prazer, quero vir-me contigo e em ti, entro em ti o mais que posso a cada movimento, sinto-te, sei que o teu orgasmo chega galopante e…
…acompanho-te…
…venho-me copiosamente dentro de ti…
…e quando acabo, ajoelho-me aos teus pés, lambo-te, limpo-te, sugo-te até teres um novo orgasmo contorcendo-te em cima da secretária, e levo, por fim, a minha boca à tua carregada com o sabor de ambos.
Descansamos um pouco lado a lado a tu teres tensões de te erguer.
-Tenho de ir… - dizes com pena na voz.
-Eu sei, mas espera.
Pego no fio dental, faço-o deslizar ao longo das tuas pernas até onde posso. Depois, tu pões-te de pé e eu acabo de te o vestir.
-Uma promessa é uma promessa. – Digo-te com um piscar de olho.
-Sim, … - respondes tu - …e tu cumpres sempre as tuas…



Pausa no trabalho

Ficas parada à porta a olhar para mim com um sorriso.
Esperava-te na incerteza. Virias ou não?
A tua presença é por si só uma confirmação. Sorrio-te.
Avanças com uma falsa calma em direcção a mim. A aparência apenas é traída pelo leve tremor nas mãos que não consegues disfarçar. Dás a volta à secretária.
Eu largo o que estou a fazer, levanto-me da cadeira, recebo-te com um abraço, os meus olhos mergulham nos teus e depois, fecho-os à medida que mergulho em ti e nos fundimos num beijo desejado.
As nossas línguas procuram-se, tocam-se, envolvem-se…
O meu braço direito fica a envolver-te, a segurar-te firmemente contra mim, como se tivesse medo de que te quisesses afastar, mas a minha mão esquerda desliza pelas tuas costas com suavidade, sobe pelo teu lado, procura o teu seio, toca-o ao de leve, por cima da roupa, massaja-o, massaja-o, procura sentir a tua excitação, sentir se queres…
…o teu beijo torna-se mais dedicado, mais voraz ao meu toque, passas o braço por detrás do meu pescoço puxando-me para ti, o teu corpo cola-se mais ao meu…
…queres, inequivocamente!
Eu também.
A minha mão desce pelo teu lado, pelos contornos do teu corpo, sinto-te na ponta dos dedos, passo pela tua nádega, forço a tua perna a subir, deixando-te apoiada apenas num pé, deslizo ao longo da tua perna, até ao joelho, sentindo-te…
…envolvendo-te…
A mão sobe ao longo da perna, mas desliza para debaixo do teu vestido, procurando mais de ti, repousando por sobre o tecido que cobre o teu sexo, fazendo pressão…
…tu gemes…
A tua perna fraqueja e agarras-te mais a mim para não perderes o equilíbrio. Eu amparo-te, seguro-te.
Desvio o tecido, passo os dedos ao longo da tua cona que está ansiosa, pronta, molhada, sinal da tesão que sentes. Masturbo-te e tu quebras finalmente o beijo por causa dos gemidos que não consegues conter. Eu beijo-te o pescoço e os ombros que tu me ofereces para eu provar…
Mas eu quero provar muito mais. Sinto-te perto de um orgasmo, e por isso, paro, deixando-te com um olhar desconcertado. Depois, ajoelho-me aos teus pés, faço as mãos subir pelas tuas pernas e o mais delicadamente que posso faço descer o fio dental que vejo finalmente. Levantas um pé de cada vez, para te poderes desembaraçar dele, e eu pouso-o na secretária. Levanto-te o vestido, olhando para a tua cona molhada, desejosa de mais atenção que um simples olhar.
Levanto-te, sento-te na secretária, sento-me eu na cadeira giratória, mergulho no meio das tuas pernas, toco-te ao de leve com a minha língua, sentindo o teu sabor agridoce, gemes de aceitação, agarras-me na cabeça, puxas-me para ti, faço deslizar a língua ao longo dos teus lábios, faço-a mergulhar em ti, gósto, preenches-me com o teu sabor, subo, colo o meus lábios à volta do teu clítoris, sorvo-o, toco-lhe com a língua, sinto-te a chegar ao ponto a que te quero levar, fustigo-te com a minha língua espalmada enquanto te chupo, quero-te, as tuas ancas impulsionam-te contra a minha boca, a tua cona pulsa, contrai-se num ritmo que a minha língua acompanha, tentas conter o grito na tua garganta, prende-lo, abandonas-te, explodes, vens-te inundando-me a boca com teu prazer e eu acompanho-te sorvendo-te deleitado e sem quaisquer intenções de parar até te sentir a desfalecer deitada de costas sobre a secretária e o teu corpo a voltar à acalmar.
Levanto-me, levo a minha boca à tua, dou-te o sabor do teu orgasmo.
Depois, deixo-me cair na cadeira e espero-te.
Ergues-te com um ar absolutamente satisfeito e radiante, sais de cima da cadeira, ajeitas o vestido e falas finalmente:
-Agora tenho de ir, mas isto não vai ficar só por aqui.
Agarro no teu fio dental, que ainda está em cima da secretária. Estendes a mão para que eu te o dê, mas eu recolho a mão e a peça de roupa.
-Até tu voltares, fico-te com isto refém. Fui eu que te o despi, e sou eu que te o vou voltar a vestir.
Sorris, compões-te e sais.
Eu volto ao que estava a fazer, embora esteja completamente desconcentrado. Apenas consigo pensar no momento em que vais voltar a entrar pela porta…



Sábado (parte II - Conclusão)

Passo o meu braço esquerdo por cima dos seus ombros e por trás do seu pescoço, abraçando-a e servindo-lhe de almofada, e ao mesmo tempo deslizo a minha mão por dentro da camisa e do soutien levando a ponta dos dedos ao encontro do seu mamilo entumecido.
Ela continua de olhos pregados no ecrã, a sua mão em movimentos circulares sobre o clítoris, a respiração a tornar-se mais profunda, a excitação aumenta, a sua face afogueada, as suas ancas a não conterem os movimentos…
Embora se toque com calma, sei que está perto de um orgasmo. Adoro senti-la assim, neste ponto.
Quero-a.
Desvio-lhe a atenção do filme por uns instantes e acaricio a sua língua macia com a minha. Ela cola os lábios aos meus sofregamente, numa demonstração da tesão que está a sentir, respira fundo, geme, abandona-se e finalmente explode, o corpo treme, goza…
O beijo acaba, o corpo sossega. Vejo a sua mão molhada com o seu gozo e não me contenho. Tiro o braço de trás dela, deslizo no sofá, até ao chão, ajoelho-me à sua frente, faço a minha língua deslizar nela, debaixo para cima, desde o ânus até ao clítoris, penetrando-a o mais profundamente que posso, enchendo a minha língua com o seu sabor e com o seu gozo, deslizo ao longo do seu corpo, colo a minha boca à dela oferecendo-lhe o seu sabor, que ela toma avidamente, com sofreguidão.
Depois desço e continuo a prová-la delicadamente, a sorve-la, como se de uma iguaria requintada se tratasse…
…adoro sentir o seu aroma a invadir-me…
…o seu sabor a deliciar-me…
Espalmo a minha língua sobre o seu clítoris e massacro-a na ânsia de mais que não se faz esperar. Agarra-me a cabeça e impulsiona-se contra a minha boca e dá-me o seu gozo novamente. Quando a sinto acalmar, acalmo também as minhas investidas, mas não paro.
No ecrã duas mulheres lindíssimas satisfazem-se num sessenta e nova lânguido e lento. Os olhos dela continuam lá. Eu toco-a apenas com a ponta da língua, suavemente, lentamente, nunca acelerando, frustrando-a quando ela quer acelerar…
…levo-a à beira do orgasmo e paro, negando-lhe o prazer que ela quer sentir novamente. Faco-o repetidas vezes. Adoro fazê-lo. Adoro quando me olha com os olhos carregados de tesão, gozo, prazer, frustração e raiva…
-Foda-se… - diz ela, frustrada de cada vez que eu lhe nego o prazer. Olho-a com um sorriso e volto ao ataque de cada vez. Quero que ela se venha…
…quando eu quiser, nos meus termos…
…mas quero que ela aprecie cada momento antes de lá chegar!
E, quando acho que chegou a altura, colo os meus lábios ao clítoris sorvo-o desenho intrincados arabescos no seu clítoris e faço-a ficar…
…incandescente!
E ela vem-se, abundantemente, longamente, entre gemidos e gritos que se espalham pelo prédio, sons de puro êxtase, que ela tenta abafar cobrindo-se com uma almofada…
…e o orgasmo dura e inunda-me a boca e o palato e sabe-me divinalmente bem…
…e levanto-me, ponho-me de pé, e ela atira-se aos meus boxers, fá-los descer ao longo das minhas pernas, e ainda eles não estão no chão já a sua boca se faz deslizar ao longo do meu caralho que ela tenta engolir…
…e assim que me desenvencilha da peça de roupa, agarra-me e masturba-me enquanto me fode com a boca e sente a minha tesão…
…e sentindo-me assim, pleno, com uma urgência e um olhar de quase loucura, deixa-se cair para trás no sofá, puxa-me com a mão e faz-se penetrar…
…mas apenas lhe concedo uma pequena parte de mim, espero…
-Mais. – pede, ordena ela.
Faço-me deslizar um pouco mais.
-MAIS. TUDO!
E eu, de uma só vez, mas ainda assim com calma, faço-me deslizar por inteiro ao longo dela, sentindo a sua cona dilatar-se com a minha entrada, apertar-me, habituar-se a mim, massajar-me…
…deixo-me ficar inteiro dentro dela por um bocado, só a sentir as suas contracções, colo o meu corpo ao seu, beijo-a, livro-a da camisa, do soutien, levo a minha boca aos seus mamilos, lambo-os…
…sinto-a febril, debaixo de mim.
Deixo-me deslizar devagar até sair dela, e entro em seguida de rompante de uma só vez, bem fundo, até colar as nossas púbis, e ela contorce-se, e geme, e prende a respiração…
…e repito o processo uma e outra e outra vez, sempre com calma, sempre a tentar controlar-me, controlar-nos.
O orgasmo dela torna-se inevitável, o meu próximo, mas quero adiá-lo.
Paro.
Deixo-a foder-me à sua vontade e ela, qual égua com o freio tomado num galope descontrolado, abandona-se ao animal que tem dentro e faz-se deslizar em mim profundamente, com força, freneticamente, quase me fazendo perder a razão também…
…e sinto as suas contracções e vejo o prazer dela, que é o nosso…
Finalmente ela acalma novamente e eu volto ao que estava a fazer, já mais controlado. Agora sou eu que a fodo, como eu gosto, a fazer-me deslizar por inteiro, a gozar a sua textura…
…ela deixa-se ficar, exausta, completamente à minha mercê…
…com eu gosto de a ter…
E desta vez sou eu que me abandono à medida que a sinto a querer cada vez mais…
…levo-a e deixo-me levar…
…até acabarmos num gozo conjunto, forte e intenso…
…inundo-a por completo, apago, abandono-me, venho-me…
…e quando acabo, sentindo-a a querer ainda mais, saio dela, levo novamente a boca à sua cona onde nos provo, acarinho-a até que ela acalme, e quando finalmente acontece, levo a minha boca à dela, que nos prova com gulodice, lambendo-me a língua, os lábios, a face.
Finalmente sossegamos exaustos, com o filme praticamente no fim, mas a sensação de que apenas uns breves minutos teriam passado.
Quando recobro finalmente algumas forças, levanto-me, vou até à banheira onde me limito a passar o chuveiro por cima da pele para tirar o suor que escorre, volto à cozinha.
Preparo um refresco de groselha. Apetece-me algo doce.
Fico à janela a fumar um cigarro.
Ela vem por detrás de mim, abraça-me, beija-me as costas.
-Ficas desde já a saber que estás proibida de sair assim à rua, senão eu não me responsabilizo… - digo-lhe.
Ela ri-se à gargalhada, sabendo que apenas a elogio.
-Vou-me deitar… - Acaba por me dizer.
-Vai. Eu é só acabar o cigarro e já lá vou.
Olho para o relógio…
Acho absolutamente incrível o quanto o tempo é relativo. Às vezes pode-se viver a eternidade num minuto…



Sábado (parte I)

Acho absolutamente incrível o quanto o tempo é relativo. Às vezes pode-se viver uma eternidade num minuto…
Tinha acabado de tomar o meu banho, fumei o meu cigarro à janela, recebendo o fresco da noite, enquanto esperava que o cabelo secasse e que ela tomasse também um duche.
Quis tomar o duche com ela…
…adoro ensaboa-la, deixar as minhas mãos percorrer o seu corpo…
…deixar a água correr sobre nós…
…mas ela não quis!
-Toma o teu banho e espera-me na sala. – Disse-me num tom que não admitia argumentações, mas ao mesmo tempo com um sorriso.
Acabei de fumar o cigarro, vim para a sala, acendi uma vela. Olhei para o PC. Um ficheiro tinha acabado de descarregar. Passei o segundo monitor para a televisão, pus o filme a rodar, o som bem baixo, sentei-me no sofá.
Da TV vinham imagens em tons de cinzento, uma belíssima mulher tocando-se, insinuando-se enquanto passava o genérico inicial.
Ouço os saltos no corredor. Estranho!
Ela entra na sala. Eu olho!
Toda vestida com roupa que eu lhe comprei que nunca usa, com grande pena minha. Ela sabe o quanto eu gosto de a ver “sexy”.
As botas de cano alto comprada na Mango, um pouco acima do joelho…
…a mini-saia preta, rodada, cheia de bicos assimétricos, que nem me lembro onde comprei…
…a camisa Bordeaux da Zara, que achei que realça os seus olhos, desapertada, atada com um nó…
…o soutien púrpura da Intimissimi…
…o cabelo solto, a cair-lhe pelos ombros…
-Gostas? – Perguntou ela com um ar de gozo ao ver a minha cara.
Boa! Se há uma definição de “Boa” é esta. Dá uma voltinha.
-Achas que estou bem?
Só não percebo o porque de tantas perguntas retóricas.
-Que é que estas a ver?
-Paris Chick. É um filme do Blake que acabou de descarregar.
-É bom?
-Não faço ideia. Elas são,… - disse, apontando para o ecrã onde duas mulheres vestidas à Dama Francesa e criada saídas das páginas de Alexandre Dumas satisfazem um nobre vendado, sentado numa cadeira.
Ela sorri!
Senta-se ao meu lado, no “chaise longue” do sofá e recosta-se.
Beijo-a…
Voltamos a dar atenção ao filme que é lento e pausado como todos os filmes do Blake costumam a ser.
-Este tipo poupa uma pipa de massa ao fazer os filmes… - comento com ela.
-Porquê?
-Porque filma uma hora e faz um filme de duas. Não vês que está tudo em câmara lenta? Está a metade da velocidade. É por isso que parece tão… Surreal!
-Sim, mas funciona… - diz ela, puxando a saia para cima e revelando-me a sua, até então, insuspeita nudez por debaixo. Volta a pregar os olhos no ecrã e toca-se…
…geme…
-Vês?
Claramente.
Ela leva os dedos à minha boca e provo-a…
…deliciosa…
…insalivo-a…
…ela volta-se a tocar, devagar, como quem não quer chegar rapidamente a um objectivo, antes quer apreciar todo o caminho para lá chegar.
Quero acompanhá-la…

Encarnação (parte V - Conclusão)


Parei o carro, puxei o travão de mão, desliguei o motor e com isso matei as luzes e a música de uma assentada. Olhei para ela, olhos nos olhos, com um sorriso.
-Sai. – Pedi-lhe, enquanto abria a minha porta.
Saímos os dois e ela esbugalhou os olhos.
-Lindo! – Exclamou com um sorriso suave.
Estávamos parados exactamente a meio da única pequena recta que corre ao longo da crista da Serra da Arrábida, submergidos na mais completa escuridão pontilhada na distância por um céu carregado das estrelas que desaparecem sob a luz das cidades, e vendo todas as pequenas luzes ordenadas no chão em linhas que se entrecruzam e criam luzes maiores na distância, com todas as suas cores, brilhos, intensidades, uma manta de retalhos que de estende a norte até onde a vista consegue alcançar através do vale do Tejo, e a sul pelo Sado, as luzes de Tróia e o mar mais adiante. O som era apenas o daquele ambiente semi-selvagem.
-É bonito o suficiente?
-Nunca pensei que isto existisse. Claro que gostava da serra, mas este sítio… É como estar no topo do mundo.
-Neste momento estás no topo do meu mundo.
Ela olhou para mim com uma candura que me tirou, literalmente, o fôlego.
Cheguei-me a ela, puxei-a para mim pela cintura, envolvi-a e beijei-a com vontade, e senti-me puxado por ela, atraído, envolvido, rendido, subjugado. Era um beijo voraz mas calmo, intenso mas lento, tentador, solto mas chegado.
Não sei quanto tempo tivemos ali, perdidos naquele beijo, tapados por um manto de estrelas. Depois, acabámos por voltar ao carro e ficamos um pouco em silêncio a apreciar a paisagem através da janela. Mas o apelo por ela era grande, e os beijos voltaram e começaram as caricias, mãos percorrendo o cabelo, afagando o pescoço, e depois tornando-se mais afoitas e começando a explorar o corpo, aos poucos, meio a medo, testando para sentir a reacção…
…o passar ao mão por sobre o peito, sentir a aceitação…
…o começar a desembaraçar da roupa, devagar, sempre à espera da altura de parar…
…e a fazer uma prece silenciosa para não ter de o fazer…
…sentir a pele, o arrepio do primeiro toque…
…admirá-la desnuda, soberba, linda…
…olhar o rosto desenhado e ver o fogo a crescer nos olhos enquanto se sente esse fogo a acender num mamilo entumecido que se ergue respondendo ao toque e querendo mais…
…sentir a roupa como algo de supérfluo, e abandonarmo-nos à nudez, revelando-nos um ao outro…
…sentir o seu primeiro toque, meio a medo, nervoso de excitação em mim…
…tocá-la e senti-la, suave, quente, muito quente, sentir a vontade dela…
…parar como que a perguntar “Queres mesmo isto?”, procurar a certeza da certeza que nos falta…
…ter a certeza num sorriso doce de resposta, numa afirmação, numa vontade escrita a fogo no olhar…
…confirmar essa vontade num beijo apaixonado…
…mergulhar um no outro e sentir…
…êxtase?!?
Fazer amor de uma forma tão lenta, o habituar dos corpos, devagar a fundirem-se…
…o não querer que aquilo que se sente cá dentro nunca mais acabe, que nunca parta de nós…
… a inevitabilidade do fim que se tenta atrasar até ao limite, tanto que quando, não mais se consegue conter o corpo, se tenta atrasar o tempo…
…perceber o que é a eternidade…
…perceber o que é a unicidade…
…fazermos sentido!
E depois?
Depois é o prolongar da sensação nas caricias sentidas, nos beijos que não se consegue evitar.
Foi este o dia em que percebi o que é ser tocado por um anjo!
Não mais voltei a estar só…



Encarnação (parte IV)

Mal suou o ultimo acorde do concerto a música de dança invadiu o espaço tornando aquilo que parecia um bar de rock numa autentica discoteca. A mutação do ambiente fez com que este deixasse de combinar com a minha personalidade, e deixou-me algo desconfortável. Ainda assim, deixei-me ficar porque tinha já oferecido a minha ajuda para arrumar o palco e carregar o material da banda para a carrinha.
Enquanto eles ainda descontraiam falando com os amigos e conhecidos após o concerto, eu subi ao palco e fui-me entretendo a enrolar cabos, escudado pelos amplificadores dos instrumentos. Dali tinha uma panorâmica sobre tudo o que se passava no bar.
O espaço que estava para além das mesas tinha-se transformado rapidamente numa pista de dança. Lá, a ruiva era a rainha indisputada de todas as atenções…
…excepto da minha.
Ao lado dela o anjo loiro dançava de forma mais contida e menos exuberante. Repararam ambas que eu as observava. A ruiva, talvez porque tivesse notado que há pouco tinha deixado de lhe dar importância, quis acentuar o meu interesse insinuando-se, olhando directamente para mim como que dizendo “sei que me estas a ver” e dançando de uma forma que estava a fazer crescer a água na boca de quase todos os homens ali presente…
…e de algumas mulheres também.
A loura reparou também que eu olhava, mas, vendo a reacção da amiga, acanhava-se. Creio no entanto que foi percebendo que o meu olhar repousava mais sobre ela do que sobre a amiga.
Fui pagar a minha despesa e sai com a banda pela porta lateral enquanto os ajudava a carregar o material para a carrinha que os levaria de volta a casa. Estava a carrinha já carregada quando elas saíram e se dirigiram a nós. Conheciam os elementos da banda e deram-lhes os parabéns pelo concerto, falaram riram…
Se por um lado me apetecia entrar na conversa, por outro lado a minha vontade de chegar à loura podia levar a interpretações da parte dela e da ruiva que eu não queria. Assim sendo, fui fumando o meu cigarro com calma enquanto observava o desenrolar da conversa.
Mas, costuma-se dizer que tudo o que tem de ser tem mesmo de ser e não há volta a dar. E não houve.
Aquando das despedidas a ruiva volta-se para o pessoal da banda e pergunta:
-Vocês por acaso não podiam dar boleia à Ana?
E eis que soube o nome do anjo.
-Não, pá, temos a carrinha completamente atulhada…
-É pena. Se pudessem sempre evitava ir e voltar à margem sul…
E eu falei finalmente e dirigi-me directamente à Ana.
-Pá, eu vou para a margem sul. Se quiseres vir comigo…
-Não quero dar trabalho…
-Não dás, de maneira nenhuma. Até aproveito a companhia. Ia sozinho, de qualquer maneira…
Ela, relutantemente, acabou por aceitar, e, após as despedidas, levei-a até ao meu carro, onde não tive qualquer gesto de cavalheirismo em relação a ela.
Ela entrou, apertamos os cintos de segurança, arranquei o motor do carro para ir aquecendo um pouco, coloquei uma música suave, porque já bastava o assalto sonoro a que nos tínhamos submetido durante toda a noite, e arrancamos.
Seguimos em silêncio até ao tabuleiro da ponte. Foi ela quem o quebrou.
-Podes perguntar…
-O quê?
-Aquilo que queres perguntar…
-Vais ter que me esclarecer, porque eu perdi-me!
-Aposto que estás curioso acerca da Júlia.
-A tua amiga?
-Sim.
-Não, não estou. Era suposto estar?
-Normalmente toda a gente está. Porque é que tu havias de ser uma excepção?
-Não sei se sou ou não, mas de facto não estou.
-Porquê?
-Porque é que não estou?
-Sim!
-Porque acho que já sei tudo dela que me interessaria saber. Não te vou dizer que ela não causou impacto, quando a vi. É de uma beleza arrebatadora. Mas, infelizmente, não há nada para além disso.
Ela fitou-me surpreendida.
-Achas mesmo isso?
-Acho. Acho inclusivamente que tu és bem mais interessante que ela…
Ela corou, mas olhou para mim desconfiada. Percebia-a perfeitamente. Quantos não teriam sido já os tipos que tinham dado em cima dela, não por ela, mas pela amiga?
-Porquê?
Olhei para ela com o sobrolho levantado.
-Sabes, podes estar habituada a estar em segundo plano, e se calhar até gostas disso. Chateiam-te menos. Mas a verdade é que és uma mulher extremamente bonita e há algo em ti… Nem te sei dizer bem o que é, mas é extremamente apelativo.
Ela corou ainda mais e calou-se.
Parei nas bombas de gasolina, quase logo a seguir, para ir comprar tabaco.
-Queres ir beber um café? – Perguntei-lhe – Estou a precisar de um.
-Não, obrigada.
-E fazes companhia?
-Faço, isso faço.
Entramos, eu comprei o tabaco e bebi o café, voltamos ao carro.
O nosso olhar cruzou-se quando abríamos as portas.
Entramos.
Sentamo-nos.
Passei-lhe o braço por detrás, puxei-a para mim sem esforço, uma vez que ela se entregou e os nossos lábios colaram-se enquanto as nossas línguas iniciaram um bailado angelical…
…e quando finalmente quebramos o beijo ficamos olhos nos olhos, completamente afogueados e assoberbados a olhar um para o outro sem saber como reagir.
Fui eu o primeiro a falar.
-Se calhar é melhor sairmos daqui, não?
Ela sorriu.
-É melhor…
Arranquei e sai da estação de serviço e entrei novamente na auto-estrada. Os olhos dela refugiam ao meu lado, o seu sorriso por demais lindo…
-Leva-me a um sítio bonito!
Eu sorri. Dei-lhe a mão.
E, por uma vez, fui um mocinho bem mandado…



Excerto

"Cheguei ao meu refúgio por volta das sete da tarde. Entrei com o meu portátil e um saco com comida rápida comprada numa estação de serviço do caminho. Por esta hora Laura e Henrique deviam estar a chegar à minha casa de Lisboa. Estava curioso e um tudo-nada preocupado, se bem que sabia que Lilith sabia o que fazia e que dificilmente aconteceria algo em minha casa.
Ainda assim havia algo em tudo isto que me deixava apreensivo. O facto de eu não estar talvez fosse até benéfico. A minha presença poderia de alguma forma antagonizar Henrique, o confronto de machos, e o pior, eu estar no meu território e por isso mesmo ser o macho dominante. Ele não estaria bem logo à partida e estaria inquieto. A minha falta tornava toda a situação mais fácil.
Pousei o saco com a comida, duas sandes e uma lata de cerveja, junto com o portátil em cima da mesa da sala, abri o portátil e uma das caixas de plástico de uma das sandes, de atum, acho eu, e continuei a escrever. Perdi-me na escrita de uma história que fazia todo o sentido, por ser a minha, porque era vivida, mas mais ainda agora. Não é todos os dias que uma Deusa toca um mortal, e muito menos afirma amá-lo. Lilith, Lilitu, Ísis, e sei lá mais quem fê-lo. Sentia em mim o toque da imortalidade, mas também a tristeza de saber que ela teria de seguir e eu ficar para trás. Não é privilégio dos mortais acompanhar os Deuses.
No entanto queria ainda saber mais sobre ela, se havia mais Deusas, que vidas comuns tinha ela escolhido. E faltava-me também o pormenor. Qual a razão ou as razões de ter vindo ter comigo, de se revelar a mim.
E faltava ainda um fim para a minha história, e este era o ponto que me assustava. Na mitologia nunca os mortais que se viram envolvidos com deuses se deram bem. Eu não acreditava ser a excepção à regra.
Por volta das três da manhã tinha escrito tudo o que tinha de escrever. Fechei o portátil e servi-me de um whisky. Fui para o meu terraço fumar. A noite estava fria, muito fria, mas ainda assim, estranhamente, o frio não me incomodou, antes pelo contrário, foi uma sensação agradável, contrastante com o fumo quente que me envolvia os pulmões a cada baforada ou o quente do álcool a cada trago.
Fechei os olhos. Senti-me envolvido pelo mundo em vez de à parte dele. O vento frio na minha face, o barulho das ondas do mar. Percebi o porquê de ela mergulhar no mar a cada oportunidade. Sentia-se parte do que a envolvia, parte integrante do mundo.
Eu estava ali naquele momento, mas a minha vida não era nada. As ondas do mar e o vento estavam ali há um tempo incomensurável, tinham visto a vida aparecer, evoluir, sair do seu âmago, espalhar-se e chegar a este momento, e ainda cá estarão quando já não houver ninguém ou nada para as ouvir ou sentir.
Apaguei o cigarro, pousei o whisky, despi-me da minha roupa, despi-me de conceitos, preconceitos, ideias, noções, desejos, vontades, vaidades, amores, ódios. Despi-me do meu ego e desci as escadas para a praia, caminhei pela areia até à água e mergulhei na vastidão, deleitei-me com as sensações e abri-me à noção de que todas elas eram boas. E fui livre. Não sei quanto tempo estive na água, a saborear a força com que as ondas me atiravam e a deixar-me seguir segundo a sua vontade, sem oposição. Mas sei que a dada altura olhei para o lado e ali estava Lilith, junto à linha de água, nua, magnifica, linda, desejada, com um sorriso nos lábios. Um sorriso de compreensão, de quem não precisa de palavras. Juntou-se a mim e abandonámo-nos à imensidão.
Por fim subimos juntos pela praia, entramos em casa, fomos para o quarto, deitámo-nos, lado a lado, ficamos a contemplar-nos. Nos olhos, o espelho da alma, compreensão. Mais do que a compreensão de palavras, a compreensão de espíritos. As palavras eram supérfluas, vazias de significado ao pé do que dizíamos um ao outro.
E de uma forma fluida, liquida como a água em que estivéramos mergulhados os nossos corpos procuraram-se, trocaram-se, fundiram-se. Sentia-a em mim, o gosto da sua pele salgada, de cada pedaço do seu corpo, do seu sexo. Todo o seu corpo era meu. Todo o seu corpo era eu e apenas queria a sua elevação, o seu prazer. E sentia-a em mim a querer o mesmo que eu, a fazer-me abandonar tudo.
Finalmente, quando nada restava de mim nem dela, penetrei-a. Apenas restava esta sensação de ser ela. Esta sensação inexplicável. E neste momento fui um dos deuses, neste momento fui um dos imortais, invadi domínios que me estavam vedados.
Abandonei-me ao prazer, senti-a a acompanhar-me. Mergulhei na eternidade deste momento que foi verdadeiramente eterno, pois nunca mais se desvaneceria.
Foi então, estando nós ainda unidos, que os nossos corpos cederam e que adormecemos nos braços um do outro. Nem uma palavra foi pronunciada. Tudo o que poderia ser dito tinha sido dito."



Encarnação (parte III)

Tenho de o afirmar:
A verdade é que a própria proximidade daquela mulher me incomodava, ao ponto de eu quase não conseguir olhar para ela.
Ela sentia o poder que tinha e divertia-se com isso, deleitava-se, alimentava-se disso.
O concerto foi decorrendo, o som alto demais para me aperceber de conversas que pudesse haver entre elas e as outras pessoas que estavam ao pé de mim e que as conheciam. O meu incómodo e fascínio por ela não desvaneciam. Até que…
Houve uma altura em que os nossos olhares se cruzaram e ficaram. E foi ai que eu percebi. E o fascínio, de repente, desvaneceu-se. Ela não era, afinal, nenhum avatar, nenhuma deusa encarnada. Era uma casca, uma aparência, alguém que tinha investido tanto no que parecia que descurar tudo o resto. Para lá da aparência, do aspecto, do charme, havia algo que falhava, embora, se me perguntassem, eu não conseguisse dizer o quê.
Mas, fosse o que fosse, tinha-se quebrado o encanto e, aos meus olhos ela saiu do pedestal e passou a ser apenas mais uma mulher no meio de tantas outras que por ali havia. E o engraçado é que ela notou essa mudança em mim e reparei o quanto, subtilmente, isso lhe abalou a confiança. E daquele momento em diante deixei de me sentir incomodado pela presença dela, deixei de não conseguir tirar os olhos dela, e voltei a ser eu próprio, sem fascínios nem deslumbramentos.
A amiga, o anjo louro que a acompanhava, notou também qualquer coisa de diferente após o nosso cruzar de olhares e pareceu intrigada.
A noite continuou, comigo a ir travando conhecimento com as pessoas mais próximas, no que fui ajudado pelo intervalo no concerto em que os artistas desceram do palco e, enquanto o vocalista e o baixista foram ter com pessoas do outro lado da mesa, o resto veio para o pé de mim. Uma vez que não havia lugares sentados para todos, levantei-me e ficamos ali, na conversa, com piadas de músico que mais ninguém entende, e às vezes nem os próprios músicos, num momento de pura descompressão, para eles, e descontracção para mim.
Quando eles voltaram para o palco, ao sentar-me, olhei para os olhos do anjo, e ai sim, descobri algo de raro e precioso. A personalidade doce passava num olhar límpido, e no entanto, bem lá no fundo, por baixo daqueles lagos azuis queimava um fogo que lutava por se libertar. Tinha algo de intangível e que, suspeitava eu, se mantinha contido pela contínua presença da amiga. Ela, embora fosse lindíssima, sentia-se sempre o patinho feio. Mas hoje não era. Para mim não era. E ela percebeu. E sorriu. E eu também…



Encarnação (Parte II)

O que mais me fascina num grupo de pessoas são as interacções, e, quando estamos atentos, há sempre algo que sobressai.
Uma mulher como aquela ruiva, no meio de um bar, roubando todas as atenções para si e ofuscando todas as outras presenças femininas, tem um efeito estranho.
Após o embate inicial em que todas as mulheres se sentem chutadas para canto, a verdade é que a competitividade acaba por emergir e de repente todas querem ser melhores que ela, e, para isso, acabam por vezes por tomar opções que não tomariam e de que se arrependem mais tarde e por consumir mais álcool do que o que seria normal, na esperança de se tornarem mais afoitas e de libertarem a “sex symbol” que vive no interior de cada uma delas.
É minha firme opinião que deveria ser obrigatório por lei que cada bar tivesse em cada noite em que está aberto uma mulher assim. E porquê?
A mera presença dela aumentava astronomicamente as hipóteses de qualquer homem que ali estava sozinho de sair acompanhado, e dos que estavam acompanhados de chegar a porto seguro nessa noite. De repente todas as mulheres do bar queriam ser sensuais e glamourosas, numa tentativa de prender as atenções que estavam concentradas apenas naquela fêmea…
…e que fêmea.
Mas a minha história não continua aqui, neste bar, nesta noite, embora tenha sido a noite em que a observei, curioso, bem como à criatura angelical e desprezada que a acompanhava. E apesar do primeiro impacto me ter deixado deslumbrado, o facto de estar ali com uma excelente companhia e de não estar à procura de nada, fez com que passado pouco tempo a presença dela se começasse a desvanecer do meu espírito. Não que não olhasse para ela. Era impossível não o fazer. Mas não olhava com qualquer intenção de me aproximar ou com qualquer outra intenção que não fosse observar a rara beleza estética e harmonia de movimentos que ela tinha.
A minha história continua uma semana depois.
Fui sozinho para o Jardim do Tabaco para ver a banda de bares desses mesmos meus amigos. Cheguei cedo, como era meu costume. Muitas vezes chegava quando a banda ainda estava a fazer o ensaio de som, ajudava, e saia com eles para ir jantar e estarmos “na bacorada”.
Dessa vez, no entanto, quando cheguei não estava ninguém, pelo que, estando o bar praticamente vazio, escolhi uma mesa mais ou menos recatada que me desse uma boa visão do palco e do resto do bar. Estranhei a disposição das mesas, sendo que em frente ao palco havia uma correnteza delas com um cartão de “reservado”, mas não liguei muito.
Pedi uma bebida e deixei-me ficar apreciando o espaço, decorado com muito bom gosto, na companhia dos poucos que por ali estavam, e perdendo-me nos meus pensamentos.
O bar foi enchendo sem que eu desse por isso, de tão perdido que estava, até ao momento em que chegaram os meus amigos, as estrelas da festa. Entraram, viram-me e vieram direitos a mim.
-Olha o que anda por aqui hoje… Não me digas que atravessaste a ponte só para nos vir ver…
-É verdade, pá. Estava aborrecido e resolvi sair para ouvir barulho…
-Sim, que se estas na esperança de ouvir alguma coisa parecida com musica hoje, ouvi dizer que os “não-sei-quantos” estão a tocar em Santa Iria. – Brincou um deles.
-Não, vim mesmo só para ouvir barulho, por isso acho que estou no sítio certo.
-Mas estás sozinho ou ela foi retocar a maquilhagem?
-Não, estou sozinho, mesmo.
-Pá então não ficas ai.
-Então?
-Vens para ali para a frente, para a mesa VIP. É que hoje temos ai o pessoal da editora e mais uns quantos gajos, e por isso é que aquelas mesas estão ali. Sentas-te lá. Sempre ficas com o barulho mais próximo.
Aceitei a sugestão. A mesa, aliás o conjunto de mesas era comprido pelo que me sentei numa das pontas que ainda estava vazia sendo que a outra tinha já algumas pessoas que eu não conhecia e deixei-me estar.
Rapidamente foi chegando mais gente e a mesa foi sendo preenchida. E qual não foi o meu espanto quando percebi que estava à mesma mesa com o Joaquim de Almeida, que fumava o seu charuto e bebia um whisky, dois ou três jogadores do Futebol Clube do Porto que estavam ali porque tinham tido jogo com o Benfica nessa tarde, e com mais algumas pessoas que aparentemente eram conhecidas de toda a gente, embora eu não fizesse ideia de quem fossem. Nunca liguei muito ao “Jet Set”…
Mas foi então que elas chegaram, para meu espanto, causando o impacto que eu já tinha visto na semana anterior e se sentaram na mesma mesa que eu a muito pouca distância… 


Encarnação... (parte I)

Entraram no bar as duas e pareceu que tinha havido uma pequena pausa.
Deixem-me falar um pouco delas.
A loura entrou à frente. O cabelo, brilhante, cuidado, levemente ondulado, caia-lhe em cascata até um pouco abaixo do meio das costas e emoldurava o rosto de um anjo, pele branca e imaculada, lábios muito bem delineados e uns olhos azuis límpidos, rosto desenhado por um qualquer pintor renascentista.
Vestida para a noite, sensual, botas de salto um pouco abaixo do joelho, calças justas, coladas a um corpo com todas as medidas certas, uma camisa que lhe assentava larga e meio esvoaçante e que deixava tudo à imaginação e que tomava forma quando chegava ao peito com as proporções exactas…
Toda a gente se virou para ela conforme entrou e teve o título de rainha do bar. Pelo menos durante uns dez segundos porque depois passou a ser uma gaja exactamente igual às outras todas. É que atrás dela, vinha a amiga.
Se me pedissem uma definição de luxúria e sensualidade, apontava para ela e a resposta estaria dada.
O corpo!
Uma pernas que pareciam não acabar, metidas numas boas de salto alto de cabedal preto, justo à pele, desenhando-lhe o contorno da perna até um pouco acima do joelho, partindo dai umas meias de rede que paravam abruptamente, com grande pena de todos os que a observavam, uns centímetros mais acima onde começava um vestido preto completamente colado ao corpo, elástico, que não só lhe realçava as proporções divinais como acompanhava a fluidez do seu movimento, e que subia até acabar num generoso decote que lhe cobria os seios livres cujos mamilos ameaçavam furar o tecido leve, deixando a partir dai ver a pele contrastantemente bronzeada por um qualquer sol exótico, dando-lhe uma compleição morena que fazia com que os olhos azuis, intensos, límpidos, faiscantes fluorescentes ficassem realçados no meio daquele rosto que era lindo, um rosto de mulher, um rosto que embora suave estava longe de ser angelical, tinha antes algo tentador, convidava à perdição, ainda para mais emoldurado como estava pelo cabelo longo, escorrido, brilhante, ruivo claro, louro escuro, não consigo precisar, mas que parecia fogo liquido enquanto ela andava.
Todas as mulheres que estavam no bar, incluindo a amiga, deixaram de existir e tiveram plena consciência disso.
Deixem-me desde já esclarecer uma coisa; eu, embora seja um empedernido exemplar heterossexual masculino, não tenho o hábito de olhar para uma mulher e babar. Mas adoro apreciar a forma, da mesma maneira que gosto de contemplar uma obra de arte, uma pintura ou escultura que me prendam os sentidos e me fascinem com a forma. A forma feminina, pela beleza, suavidade e fluidez, merecem a minha contemplação enquanto definição de beleza…
…tal como, por exemplo, o quadro da Mona Lisa, de Da Vinci. E nunca me passou pela cabeça fazer sexo com o quadro.
Isto não faz com que a mulher seja vista por mim como um objecto. De forma alguma. Mas é vista como um poema em movimento.
Mas a história não começa aqui!
Para contar esta história tenho que ir mais atrás.
Uns meses antes o meu telefone tocara inesperadamente, como era seu costume, aliás, e eu, como era habito meu quando semelhante coisa acontecia, atendi.
-Eu queria falar com o Ulisses, por favor… - disse uma voz feminina do outro lado.
-É o próprio!
-Olá. Não me conheces, mas eu sou a R., e sou irmão da P.
A P. era uma moça que eu conhecia há já algum tempo. Já tinha visto a R. de relance, mas nunca tínhamos falado. Fiquei surpreendido de ela me estar a ligar, mas não comentei. Ela continuou.
-Olha, eu sei que é esquisito estar a ligar-te assim, mas precisava de um favor…
-É sexo? – Perguntei eu aparentando uma seriedade absoluta.
Do outro lado ficou um silêncio embaraçoso, embaraçado, uma longa pausa de alguém que não sabia o que dizer. Finalmente respondeu.
-Não…!!!
-Ainda bem, porque se fosse eu não estava disponível.
Soltou uma gargalhada sonora quando percebeu que apenas brincava com ela. Eu perguntei:
-De que é que precisas então?
-É assim. Estive a falar com o M. porque precisava de gravar um CD com umas coisas para a faculdade, mas ele não pode e disse-me que talvez tu pudesses…
Para esclarecer digo desde já que isto se passou há tanto tempo que os gravadores de CD eram algo extraordinariamente raro, mais ainda do que os Tigres de Bengala, mais do que o Lince da serra da Malcata, e tão estupidamente caros que custavam o dobro do preço do computador onde eram encaixados que não era, já de si, muito barato.
-Claro, sabes onde é que eu moro?
Lá lhe dei as indicações e meia hora depois ela chegava a minha casa. Era uma miúda gira, muito gira. Não era o protótipo da gaja boa, embora fosse bem torneada, mas aquilo que chamava mesmo a atenção nela eram os olhos vivos e inteligentes e o sorriso fácil. E depois, falar com ela era um gosto. Fazia um uso peculiar de um sentido de humor carregado de ironia.
Ficamos amigos nesse dia, mesmo amigos. Descobrimos alguém com quem falar francamente, e não fora eu andar perdido em elevadores na altura em que a conheci, creio que não a teria deixado escapar. Apreciava mesmo a sua companhia, e acho que ela apreciava a minha.
Começamos a sair juntos algumas vezes, em noites em que eu não estava ocupado, e íamos a um bar ou outro ver música ao vivo e ganhávamos horas de conversa.
Foi precisamente numa dessas saídas, já uns meses depois de eu deixar de andar perdido em elevadores, numa noite em que tinha recebido uma chamada de um dos elementos da banda que estava a tocar a perguntar que eu queria ir ver o concerto de lançamento do álbum deles e a tinha convidado, que vi pela primeira vez aquelas duas amigas.
Estávamos os dois em amena cavaqueira quando eu me virei para ela e perguntei:
-Desculpa lá, mas vocês, as mulheres, são umas verdadeiras cabras umas para as outras, não são?
-Porque é que perguntas isso?
-Pá, se eu estivesse aqui sentado, sozinho, ninguém me ligava patavina, mas como estou aqui contigo e tu até estas arranjadita e até pareces girinha, já houve umas quantas a olhar para mim e a pensar “hummm!”…
-Pá, estúpido… Mas estou gira hoje não estou?
-Pá, eu comia-te na boa…
-Obrigada. Vindo de ti é um elogio.
E foi nesta altura que elas entraram e ela vê a ruiva e volta-se para mim com um ar completamente aparvalhado e diz:
-Pois olha que eu não gosto de mulheres, mas comia aquela ruiva!
O que me levou a olhar e a ficar parado a pensar se olhava para uma bússola de forma a poder ajoelhar-me no chão virado para meca e agradecia a Ala, embora não seja muçulmano, se dava a existência dela como prova concreta de que Deus existia a uma qualquer sociedade científica, ou se, pela súbita e invulgar tesão que senti, a admitia como encarnação de uma qualquer criatura infernal que teria vindo apenas para puxar mais umas quantas almas para o inferno…
Com a dúvida sobre as várias hipóteses era imensa, optei pelo mais sensato e fiquei quieto, parado e calado, preso a cada movimento daquela criatura…
…o que me leva, finalmente à história…



Sublimação

Depois de tudo o que se passou aqui, numa outra noite qualquer logo a seguir em que a minha companheira chegaria novamente tarde, ficamos de nos encontrar num café onde parava a maior parte do pessoal com que nos dávamos.
Cheguei por volta das dez, e embora fosse relativamente cedo, o ambiente estava já bem carregado de álcool. Cumprimentei-a, sentei-me ao lado dela, olhei-lhe para os olhos e percebi que também estava bem tocada, mas mantinha a compostura, como sempre, com uma classe absoluta.
Na mesa, connosco, estava o pseudo-namorado dela, o tipo com quem ela volta e meia dava umas, e que tinha a cabeça aterrada em cima dos braços, na mesa, completamente embriagado.
-Daqui não levo nada hoje… - Comentou ela piscando-me o olho.
-Realmente, não me parece.
-Levas-me a casa?
-Queres ir?
-Já não estou muito bem e não estou aqui a fazer nada. Leva-me. Pelo menos acordo fresca amanhã.
Levantei-me.
-Vamos. – Disse-lhe.
-Ela procurou a minha mão para se equilibrar a levantar, e assim que se ergueu largou-me sentindo-se já segura e saímos do café em passos mais calmos que lentos em direcção ao meu carro.
Abri-lhe a porta e ajudei-a a sentar, e dei a volta ao carro para entrar eu.
Levei-a a casa. Ela limitou-se a seguir de olhos fechados e não trocamos uma palavra pelo caminho. De relance, contemplava-a. Era uma criatura magnífica, a mulher mais poderosa que conhecera até então, apenas pela consciência que tinha do seu poder.
Cheguei à porta do prédio dela e estacionei. Ela abriu o olhos e olhou-me languidamente, meio entorpecida.
Sorri-lhe.
Ela atirou-se suavemente para o meu colo, repousando de costas para mim, com a cabeça assente no meu braço esquerdo.
A minha mão direita, livre, fazia-lhe festas no cabelo.
Baixei-me e beijei-a no rosto.
Quando me ia a afastar, ela virou a cara, os seus lábios procurando os meus…
…e aprisionando-os, enlevando-os, envolvendo-os, a língua macia desliza, procura, quer, dá-se, os lábios colam-se e aquele beijo começa sem vontade de acabar, a sua mão direita procura a minha, encontra-a, leva-a ao seio, guia-me na maneira como quer que eu a toque, com os dedos entrelaçados e o beijo continua doce, calmo, suave, quente, intenso, vibrante, pulsante…
Após uma brevíssima eternidade o beijo acabou. Ficamos os dois, olhos nos olhos, parados, sérios, estáticos, a respirar pesadamente.
Ela movimentou-se para se levantar, eu deixei-a, ela encosta-se no banco, leva a mão à porta, como que para a abrir, para, arrepende-se, olha para mim, séria, sedutora, tentadora, libidinosa, e diz:
-Mais!
Aquilo soou-me a uma súplica, um pedido, um comando, uma ordem inquestionável, uma vontade, e o carro arrancou sem destino e enquanto eu pensava onde queria ir o carro decidiu e rumou à fonte da telha, a alguns quilómetros de onde nos encontrávamos.
Ela encostou a cabeça no meu ombro e acariciava-me o peito com a mão enquanto eu conduzia. Sabia-me bem senti-la ali.
A mão dela desceu, vagarosamente, até chegar ao meu cinto que desapertou num movimento fluido, desapertou os botões das calças um a um, escorregou pela abertura dos boxers, fazendo-me ficar liberto, agarrou-me, sentindo-me duro na sua mão, disputando avidamente a minha atenção à estrada que corria velozmente debaixo de nós.
Queria parar para a apreciar, mas queria chegar para a apreciar ainda mais e isso fazia que eu continuasse a condução e me deixasse sujeitar a tortura.
Ela percebeu, a minha dualidade de sentimentos, divertiu-se, mais, deleitou-se nisso, baixou-se e tomou-me na sua boca, deslizou suavemente, sugando-me, envolvendo-me…
…fodendo-me!
-Ainda me fazes ter uma coisinha má… - Disse eu, incapaz de tomar outra decisão que não fosse continuar.
-Tem… - disse ela.
Com a minha súbita decisão de a querer, de querer tê-la, de querer satisfazer-lhe a luxúria, saciá-la, o motor do carro protestou e fez a estrada rolar mais depressa debaixo do carro.
O caminho foi rápido, mas demorei uma eternidade a chegar ao alto da arriba. E eis que chegado, com os sentidos sobrecarregados, me sinto a derramar por sobre a visão que me entra pelos olhos, e perco-me na imensidão do oceano banhado pelo luar, carregado de sulcos e reflexos, com as ondas salpicadas do branco mais puro, e ela recebe o meu despreendimento de forma sedenta, ansiosa, oferecendo-se a mim.
É ainda com o corpo sobrecarregado de emoções que estaciono, solto o cinto de segurança, desço os dois bancos, chego-me a ela, e retomo o beijo que abandonáramos antes, agora carregado do meu sabor, e acho que pela primeira vez perdi a consciência de ser eu, mas também não tomei consciência de ser outro qualquer…
…apenas fiquei num limbo intemporal, e abandonei-me.
As minhas mão percorreram a sua vastidão, ela que era simplesmente o meu mundo neste instante, retirando botão a botão das suas calças, procurando-a, tocando-a e sentindo a medida da sua excitação na humidade que aflorava do seu sexo.
Ansioso por reavivar a memória do ser sabor retirei a mão e levei-a à minha boca, provando-a.
-Dá-me. – ordenou ela.
Dei e ela provou-se e lambeu os meus dedos até ter tido para si todos os vestígios do seu sabor, devolvendo-mos a seguir com a sua língua na minha.
Os meus dedos desapertavam-lhe a camisa, ansiosos por a libertar e poderem tocar aquele peito suave. Mas a ansiedade era calma e graciosa, não se permitindo a que a pressa destruísse a intemporalidade do momento.
As línguas continuavam a dançar um tango em que ambos lideravam e eram submissos, nenhuma querendo o protagonismo, nenhuma procurando mais do que era procurada, de forma incontida, quando os dedos afloraram o mamilo que se erguia orgulhosamente suplicante pela caricia que tinha com certa.
A mão dela desceu sentindo-me percebendo o quanto tudo isto me elevava. A minha desceu, tentando libertá-la das calças que eram obstáculo à sublimação…
…e quando a tive livre descei os meus dedos deslizar nela, senti-la quente, desejosa, penetrá-la e sentir toda a sua textura, e baixei-me e provei-a e tive o seu gosto e quis que ela sentisse o que eu sentia e deixou de haver algo no universo que não fosse o prazer que eu lhe queria dar e o prazer que ela recebia. E que ela recebeu. E que deu de volta…
…inundando-me, dando-me o pleno do seu sabor, enchendo o meu paladar, pulmões plenos do seu odor…
…e quis tê-la, dando-me, e tomei-a, por inteiro e ela, sentindo o meu assalto arqueou as costas e respirou fundo, procurando ar e tornando-se uma muralha que eu tinha de conquistar…
…e dediquei-me, assalto após assalto, investida após investida até a conquistar e a ter rendida por completo ao prazer que era nosso e que eu quis ter, tempo após tempo, caminhando para a sublimação…
…e de repente diluímo-nos no mar ali ao lado e fugimos do tempo e esquecemos a existência.
Lembro-me de dar por mim, depois, com a boca colada à dela, corpo colado ao dela, oferecendo-nos um ao outro uma sensual explosão de luxúria, a pele a arrepiar das sensações, a tesão saciada, mas a vontade da alma absolutamente intacta e ainda mais emergente.
E depois…
Depois o mundo apanhou-nos de volta e o tempo voltou a fluir e tivemos de nos afastar.
Despedi-me dela com um beijo pleno de desejo saciado à porta do seu prédio.

Há momentos que nos definem, únicos, em que sabemos que éramos uma pessoa antes e passamos a ser alguém diferente, momentos que são uma evolução brusca nos nossos padrões de pensamento.
Este foi um deles.
O mundo deixou de ter uma forma definitiva para passar a ser algo extremamente moldável…