Era um final de tarde de sexta-feira quente, opressivamente quente, de quase verão.
O carro parecia andar devagar, quase em câmara lenta, apesar da minha ansiedade por a ver pesar no acelerador e fazer o motor rugir como resposta.
Procurei um cigarro, que descobri ser o ultimo do maço, e ponderei se parava na área de serviço que estava a pouca distância ou não. Decidi parar. Não queria que, depois de chegar, nada me separasse de ti.
Como sempre, quando temos pressa, as pessoas nas filas da caixa demoram eras, eternidades inteiras a serem atendidas, e a fila que nós escolhemos é sempre a mais lenta. Ao fim do que me pareceu um mês, lá sai da loja de conveniência da estação com o maço de tabaco não mão, e o motor rugiu, e os pneus gemeram com a violência a que foram submetidos. Agora era só rumar até ao fim da auto-estrada.
Chegado ao destino, andei às voltas enquanto procurava um lugar para estacionar. Cada momento parecia uma eternidade. Finalmente, desembaracei-me do carro e voei em direcção a casa dela.
Recebeu-me com um sorriso, luminoso, sim, mas de alguma forma contido. Estranhei, mas atribui isso a alguma coisa que se passara durante o dia e não dei importância.
Fomos pondo a conversa em dia, tagarelando na cozinha, enquanto eu a ajudava a acabar o jantar, um tagliatelle alla bolognese maravilhoso e que exalava um cheiro que enchia as minhas pupilas gustativas de saliva, e, ocasionalmente, tocávamo-nos ou roubávamos um beijo ao outro.
Jantámos descontraidamente, acompanhando com um Porta da Ravessa tinto, de colheita que não recordo, mas que caia bem em cima da massa pesada mas incrivelmente saborosa. O beberricar de um gole entre cada garfada apenas servia para potenciar o sabor da garfada seguinte, rica de sabores e aromas intensos, e que fazia parecer haver uma festa na minha boca para a qual toda a gente havia sido convidada.
Saímos para beber um café, demos uma volta no paredão junto ao mar, voltamos a casa, vimos um pouco de televisão, com ela aninhada em mim, tomamos banho e fomos para a cama.
Lá chegados fizemos amor.
E depois ela levantou-se, para se ir lavar, e eu esperei, e quando ela saiu da casa de banho fui eu para lá, e ainda lá estava quando ela passou no corredor e anunciou:
-Vou até à sala um bocadinho. Apetece-me beber qualquer coisa. Queres?
-Pode ser um whisky.
E ela seguiu.
Juntei-me a ela, na sala, tinha já ela uma cerveja na mão, e acabava de me servir o whisky com a outra. Sem gelo, como ela sabia que eu gostava.
Passou-me o copo para a mão, e sentou-se, beberricando a cerveja, séria, meio ausente.
Sentei-me ao pé dela, completamente calado. Se ela tinha algo para dizer, haveria de dizê-lo. E ela finalmente disse.
-Que é que tu queres?
Fiquei a matutar na pergunta. Ela notou e continuou.
-Quer dizer, de mim, da vida, onde é que tu te projectas daqui a algum tempo…?
-Mas, porquê a pergunta?
-Porque eu não sei. Olho para ti e não vejo ambição, planos, não sei o que queres para o futuro, não sei o que queres de mim… O meu Ex, com a tua idade, já me tinha posto uma casa, tinha um projecto de vida…
Calou-se a olhar para mim. Esperava uma resposta.
Eu pensei um pouco, nunca desviando o olhar dela. E depois respondi.
-É verdade. Ele tinha. O meu é diferente, ou se calhar nem existe. Mas não deixa de ser curioso o facto de não ser ele quem está aqui, então.
A calma na minha voz fê-la perceber que não o tinha dito num tom acusatório ou ressentido. Era uma mera constatação de um facto, inegável para ela.
Entretanto, acabáramos as bebidas. Ela olhou para mim, o olhar forte e felino que lhe conhecia, de mulher que sabe perfeitamente o que quer.
Tirou-me o copo da mão pousou os dois na mesinha em frente ao sofá, levantou-se, agarrou-me pela mão e levou-me para o quarto, apagando a luz quando saia da sala e mergulhando a casa na penumbra.
Chegados ao quarto, ao fundo da cama, puxou-me para ela, pendurou-se no meu pescoço, beijou-me com ferocidade, com desejo, devorou-me.
Empurrou-me para a cama, agarrou-me o caralho e masturbou-o docemente. Apenas via a sua silhueta ténue devido à pouquíssima luz que entrava pelo estore, vinda da rua.
Ao fim de pouco tempo, ela notava a minha ansiedade. A sua mão mimava-me de tal forma que eu tinha de me controlar e relaxar para não ter um orgasmo ali, assim.
Ela baixou-se e senti a sua boca a engolir-me, deglutir-me, sentia a minha glande a deslizar ao longo da sua língua suave e quente que a apertava contra o céu-da-boca enquanto fazia uma sucção suave…
…Paraíso absoluto.
Já nem me sentia no meu corpo. Sentia-me…
…Etéreo.
E ela, de repente, sobe para cima de mim e de uma vez só empala-se em mim. Aquela cona doce que tantas vezes precisava de ser mimada para me receber, desliza apertada, recendo-me por inteiro, fazendo-a arquear as costas e soltar um pequeno grito e contrair-se, apertando-me à medida que unimos os nossos púbis.
Deixa-se estar quieta um momento, como a recompor-se, e depois levanta-se, fazendo-me sentir a sua cona a deslizar por mim, como que a chupar-me, e enterra-se novamente. Eu acompanho o seu movimento e repetimos, mais rápido, forte…
…ela grita…
…a intensidade sobe…
…eu sinto-a de uma forma impressionante…
Atiro-me contra ela com uma força que é contraposta pela maneira como ela se atira contra mim, como se quiséssemos fundir-nos um no outro.
Ela grita, a cada investida, contrai-se…
De uma maneira completamente descontrolada, chegamos ao orgasmo mais intenso que já tivera, entre gritos descontrolados, e colapsamos em seguida exaustos, nos braços um do outro.
Dei por mim com a luz da manhã a entrar no quarto. Levantei-me, deixando-a a dormir, e fui a uma padaria com fabrico próprio que era perto buscar pão fresco.
Fiz-lhe o pequeno-almoço e levei-lho ao quarto.
Ela acordou, levantou-se e foi abrir o estore. Assim que o fez ouviu a vizinha de cima.
-Pois, que esta gente não sabe ser recatada… Uma gritaria daquelas de madrugada, vejam bem…
Ela era uma dama…
…Mas quando descalçava a chinela…
-O que tu querias, velha gaiteira, … - gritava ela pela janela - …era uma foda destas, era o que te fazia falta…
6 comentários:
se conseguíssemos manter a distância segura entre nosso sexo e nossa cabeça...talvez pudéssemos ser enfim felizes.
Mas seriamos infelizes se mantivéssemos a distancia entre a nossa cabeça e o sexo do outro...
...eu, pelo menos seria...;)
:)
És dono de uma escrita incrivelmente acessível e que me fez sentir como se estivesse presente na viagem, na cozinha, no quarto e na sala a observar cada momento.
Absolutamente perfeito.
retiro o que disse,
(...)
Sem palavras!
Obrigado
:)
Revejo-me no que escreveste!
Carpe Vitam,
Tu revês-te...
...mas eu estava lá...
LOL
:)
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