Parei o carro, puxei o travão de mão, desliguei o motor e com isso matei as luzes e a música de uma assentada. Olhei para ela, olhos nos olhos, com um sorriso.
-Sai. – Pedi-lhe, enquanto abria a minha porta.
Saímos os dois e ela esbugalhou os olhos.
-Lindo! – Exclamou com um sorriso suave.
Estávamos parados exactamente a meio da única pequena recta que corre ao longo da crista da Serra da Arrábida, submergidos na mais completa escuridão pontilhada na distância por um céu carregado das estrelas que desaparecem sob a luz das cidades, e vendo todas as pequenas luzes ordenadas no chão em linhas que se entrecruzam e criam luzes maiores na distância, com todas as suas cores, brilhos, intensidades, uma manta de retalhos que de estende a norte até onde a vista consegue alcançar através do vale do Tejo, e a sul pelo Sado, as luzes de Tróia e o mar mais adiante. O som era apenas o daquele ambiente semi-selvagem.
-É bonito o suficiente?
-Nunca pensei que isto existisse. Claro que gostava da serra, mas este sítio… É como estar no topo do mundo.
-Neste momento estás no topo do meu mundo.
Ela olhou para mim com uma candura que me tirou, literalmente, o fôlego.
Cheguei-me a ela, puxei-a para mim pela cintura, envolvi-a e beijei-a com vontade, e senti-me puxado por ela, atraído, envolvido, rendido, subjugado. Era um beijo voraz mas calmo, intenso mas lento, tentador, solto mas chegado.
Não sei quanto tempo tivemos ali, perdidos naquele beijo, tapados por um manto de estrelas. Depois, acabámos por voltar ao carro e ficamos um pouco em silêncio a apreciar a paisagem através da janela. Mas o apelo por ela era grande, e os beijos voltaram e começaram as caricias, mãos percorrendo o cabelo, afagando o pescoço, e depois tornando-se mais afoitas e começando a explorar o corpo, aos poucos, meio a medo, testando para sentir a reacção…
…o passar ao mão por sobre o peito, sentir a aceitação…
…o começar a desembaraçar da roupa, devagar, sempre à espera da altura de parar…
…e a fazer uma prece silenciosa para não ter de o fazer…
…sentir a pele, o arrepio do primeiro toque…
…admirá-la desnuda, soberba, linda…
…olhar o rosto desenhado e ver o fogo a crescer nos olhos enquanto se sente esse fogo a acender num mamilo entumecido que se ergue respondendo ao toque e querendo mais…
…sentir a roupa como algo de supérfluo, e abandonarmo-nos à nudez, revelando-nos um ao outro…
…sentir o seu primeiro toque, meio a medo, nervoso de excitação em mim…
…tocá-la e senti-la, suave, quente, muito quente, sentir a vontade dela…
…parar como que a perguntar “Queres mesmo isto?”, procurar a certeza da certeza que nos falta…
…ter a certeza num sorriso doce de resposta, numa afirmação, numa vontade escrita a fogo no olhar…
…confirmar essa vontade num beijo apaixonado…
…mergulhar um no outro e sentir…
…êxtase?!?
Fazer amor de uma forma tão lenta, o habituar dos corpos, devagar a fundirem-se…
…o não querer que aquilo que se sente cá dentro nunca mais acabe, que nunca parta de nós…
… a inevitabilidade do fim que se tenta atrasar até ao limite, tanto que quando, não mais se consegue conter o corpo, se tenta atrasar o tempo…
…perceber o que é a eternidade…
…perceber o que é a unicidade…
…fazermos sentido!
E depois?
Depois é o prolongar da sensação nas caricias sentidas, nos beijos que não se consegue evitar.
Foi este o dia em que percebi o que é ser tocado por um anjo!
Não mais voltei a estar só…
11 comentários:
...o não querer que aquilo que se sente cá dentro nunca mais acabe, que nunca parta de nós.
Delicioso, assin como todo o teu post.
Divino o blog.
:) desejo
Desejo,
Muito Obrigado!
Mesmo!
:)
So soft... ;)
Margarida,
It was...
...And then it bacame...
...harder... ;)
:)
Ulisses, espero sinceramente que não tenha sido a conclusão ;)
Louise,
Não, não foi.
Ainda dura...
:)
Assim se encontra uma pessoa cativante. :) Ver além do que o corpo nos dá.
E a sedução quer-se assim, pausada, serena, sem deixar de ser intensa.
Vontade de,
Assim se encontra uma companheira...
:)
ainda um dia alguém me escreve algo como isso!
fantástico!
parabéns pelo texto
parabéns pelo amor
Duda
finalmente percebi o título. fazes-me lembrar um outro menino que consegue transformar cada queca numa experiência única e sempre sublimemente bem revelada: http://prazeroculto.blogspot.com/2010/01/gula.html
carpe vitam,
Leitura intressante, diga-se...
:)
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