Pausa no trabalho (Parte II - Conclusão)

Voltas umas horas depois, quando eu já tinha desistido de te esperar.
Entras pela porta com um olhar guloso, absolutamente felino, tal como o teu andar, chegas ao pé de mim e perguntas:
-Sabes o que fizeste? As consequências de há bocado?
-O que é que eu fiz? – Inquiri, quase temendo o fogo que se espalhava no teu olhar e que abrasava tudo o que tocava.
Agarras-me a mão, sem cerimónias e guia-la para debaixo do vestido, para o meio das tuas penas. Estas completamente encharcada.
-Vês? Achas que isto se faz?
-Acho que ainda se faz pior?
-Promessa?
-Constatação.
Colas os lábios aos meus, a tua língua invade a minha boca de forma faminta, da mesma forma que dois dos meus dedos te invadem e te fazem soltar um gemido absolutamente carregado de tesão.
Agarras novamente na minha mão, tira-la do sitio onde ela está tão bem, levas os dedos à tua boca, lambes avidamente, levas a tua mão ao meu cinto, desaperta-lo, despertas as calças, puxa-las para baixo deixando evidenciado o volume nos meus boxers do qual já não consegues tirar o olhar, puxas os boxers para baixo, tocas a minha tesão, masturbas-me devagar, sentindo-me na tua mão, acaricias-me, sinto a suavidade do teu toque, a maneira como me mimas…
-Pareces feliz por me ver… - dizes, agarrando-me com força, o que parece fazer-me aumentar ainda mais de tamanho.
-Imensamente feliz.
-Nota-se!
E aproximas-te da minha glande, tocas-lhe coma língua húmida e quente, colas os lábio só na ponta, como que para me torturar, mas não aguentas o que tu própria sentes, e sentes imensamente o que eu quero, prometido desde há umas horas atrás, e de uma vez só fazes-me deslizar para a tua boca, ao longo da tua língua, envolvendo-me o mais que podes, sugando com suavidade, apertando-me o caralho entra a língua e o palato, enches-me de sensações, agarro-te o cabelo, massajo a tua cabeça, acompanho os movimentos enquanto me fodes suavemente com a tua boca, vibro com a sensação, ao mesmo tempo que reúno esforços para me conter, para não inundar a tua boca, embora o queira fazer ao ponto de deixar de pensar e só sentir, e tu sabe-lo, e sentes na tua boca.
Paras, levantas-te, sentas-te na secretária, puxas-me para o meio das tuas pernas, eu faço um esforço sobre-humano para não entrar em ti, colo o meu sexo ao teu, faço o meu caralho deslizar na tua nona encharcada, foço pressão contra o teu clítoris e apeteces-me…
…tanto…
…mas tanto…
-Mete… - pedes languidamente.
Não acedo ao teu desejo e continuo.
-Mete… - insistes, mas eu continuo a não o fazer.
-Fode-me. – Ordenas imperiosamente, e eu acedo a tua ordem e entro em ti, todo, de uma só vez, sem contemplações, deslizo ao longo da tua cona inundada mas apertada, fundo, colando as nossas púbis, deixando-me ficar dentro de ti, provocando-te um grito que é um misto de dor, paixão e tesão, sinto a tua cona a dilatar para me albergar, sinto a tua respiração entrecortada, tremes, expiras finalmente, gemes…
-Foda-se…
…dizes baixinho, a tua cona contrai-se à volta do meu caralho, massaja-o, como se o quisesse deglutir, comer, gemes ainda mais, pulsas e vens-te e eu deleito-me com o teu orgasmo, saio quase todo, volto a entrar com ânsia de ti, com a tesão acumulada da espera e fodo-te, de forma animalesca, quero que me sintas inteiro em ti, deliro com a tua cona, com os teus sons de prazer, quero vir-me contigo e em ti, entro em ti o mais que posso a cada movimento, sinto-te, sei que o teu orgasmo chega galopante e…
…acompanho-te…
…venho-me copiosamente dentro de ti…
…e quando acabo, ajoelho-me aos teus pés, lambo-te, limpo-te, sugo-te até teres um novo orgasmo contorcendo-te em cima da secretária, e levo, por fim, a minha boca à tua carregada com o sabor de ambos.
Descansamos um pouco lado a lado a tu teres tensões de te erguer.
-Tenho de ir… - dizes com pena na voz.
-Eu sei, mas espera.
Pego no fio dental, faço-o deslizar ao longo das tuas pernas até onde posso. Depois, tu pões-te de pé e eu acabo de te o vestir.
-Uma promessa é uma promessa. – Digo-te com um piscar de olho.
-Sim, … - respondes tu - …e tu cumpres sempre as tuas…



Pausa no trabalho

Ficas parada à porta a olhar para mim com um sorriso.
Esperava-te na incerteza. Virias ou não?
A tua presença é por si só uma confirmação. Sorrio-te.
Avanças com uma falsa calma em direcção a mim. A aparência apenas é traída pelo leve tremor nas mãos que não consegues disfarçar. Dás a volta à secretária.
Eu largo o que estou a fazer, levanto-me da cadeira, recebo-te com um abraço, os meus olhos mergulham nos teus e depois, fecho-os à medida que mergulho em ti e nos fundimos num beijo desejado.
As nossas línguas procuram-se, tocam-se, envolvem-se…
O meu braço direito fica a envolver-te, a segurar-te firmemente contra mim, como se tivesse medo de que te quisesses afastar, mas a minha mão esquerda desliza pelas tuas costas com suavidade, sobe pelo teu lado, procura o teu seio, toca-o ao de leve, por cima da roupa, massaja-o, massaja-o, procura sentir a tua excitação, sentir se queres…
…o teu beijo torna-se mais dedicado, mais voraz ao meu toque, passas o braço por detrás do meu pescoço puxando-me para ti, o teu corpo cola-se mais ao meu…
…queres, inequivocamente!
Eu também.
A minha mão desce pelo teu lado, pelos contornos do teu corpo, sinto-te na ponta dos dedos, passo pela tua nádega, forço a tua perna a subir, deixando-te apoiada apenas num pé, deslizo ao longo da tua perna, até ao joelho, sentindo-te…
…envolvendo-te…
A mão sobe ao longo da perna, mas desliza para debaixo do teu vestido, procurando mais de ti, repousando por sobre o tecido que cobre o teu sexo, fazendo pressão…
…tu gemes…
A tua perna fraqueja e agarras-te mais a mim para não perderes o equilíbrio. Eu amparo-te, seguro-te.
Desvio o tecido, passo os dedos ao longo da tua cona que está ansiosa, pronta, molhada, sinal da tesão que sentes. Masturbo-te e tu quebras finalmente o beijo por causa dos gemidos que não consegues conter. Eu beijo-te o pescoço e os ombros que tu me ofereces para eu provar…
Mas eu quero provar muito mais. Sinto-te perto de um orgasmo, e por isso, paro, deixando-te com um olhar desconcertado. Depois, ajoelho-me aos teus pés, faço as mãos subir pelas tuas pernas e o mais delicadamente que posso faço descer o fio dental que vejo finalmente. Levantas um pé de cada vez, para te poderes desembaraçar dele, e eu pouso-o na secretária. Levanto-te o vestido, olhando para a tua cona molhada, desejosa de mais atenção que um simples olhar.
Levanto-te, sento-te na secretária, sento-me eu na cadeira giratória, mergulho no meio das tuas pernas, toco-te ao de leve com a minha língua, sentindo o teu sabor agridoce, gemes de aceitação, agarras-me na cabeça, puxas-me para ti, faço deslizar a língua ao longo dos teus lábios, faço-a mergulhar em ti, gósto, preenches-me com o teu sabor, subo, colo o meus lábios à volta do teu clítoris, sorvo-o, toco-lhe com a língua, sinto-te a chegar ao ponto a que te quero levar, fustigo-te com a minha língua espalmada enquanto te chupo, quero-te, as tuas ancas impulsionam-te contra a minha boca, a tua cona pulsa, contrai-se num ritmo que a minha língua acompanha, tentas conter o grito na tua garganta, prende-lo, abandonas-te, explodes, vens-te inundando-me a boca com teu prazer e eu acompanho-te sorvendo-te deleitado e sem quaisquer intenções de parar até te sentir a desfalecer deitada de costas sobre a secretária e o teu corpo a voltar à acalmar.
Levanto-me, levo a minha boca à tua, dou-te o sabor do teu orgasmo.
Depois, deixo-me cair na cadeira e espero-te.
Ergues-te com um ar absolutamente satisfeito e radiante, sais de cima da cadeira, ajeitas o vestido e falas finalmente:
-Agora tenho de ir, mas isto não vai ficar só por aqui.
Agarro no teu fio dental, que ainda está em cima da secretária. Estendes a mão para que eu te o dê, mas eu recolho a mão e a peça de roupa.
-Até tu voltares, fico-te com isto refém. Fui eu que te o despi, e sou eu que te o vou voltar a vestir.
Sorris, compões-te e sais.
Eu volto ao que estava a fazer, embora esteja completamente desconcentrado. Apenas consigo pensar no momento em que vais voltar a entrar pela porta…



Sábado (parte II - Conclusão)

Passo o meu braço esquerdo por cima dos seus ombros e por trás do seu pescoço, abraçando-a e servindo-lhe de almofada, e ao mesmo tempo deslizo a minha mão por dentro da camisa e do soutien levando a ponta dos dedos ao encontro do seu mamilo entumecido.
Ela continua de olhos pregados no ecrã, a sua mão em movimentos circulares sobre o clítoris, a respiração a tornar-se mais profunda, a excitação aumenta, a sua face afogueada, as suas ancas a não conterem os movimentos…
Embora se toque com calma, sei que está perto de um orgasmo. Adoro senti-la assim, neste ponto.
Quero-a.
Desvio-lhe a atenção do filme por uns instantes e acaricio a sua língua macia com a minha. Ela cola os lábios aos meus sofregamente, numa demonstração da tesão que está a sentir, respira fundo, geme, abandona-se e finalmente explode, o corpo treme, goza…
O beijo acaba, o corpo sossega. Vejo a sua mão molhada com o seu gozo e não me contenho. Tiro o braço de trás dela, deslizo no sofá, até ao chão, ajoelho-me à sua frente, faço a minha língua deslizar nela, debaixo para cima, desde o ânus até ao clítoris, penetrando-a o mais profundamente que posso, enchendo a minha língua com o seu sabor e com o seu gozo, deslizo ao longo do seu corpo, colo a minha boca à dela oferecendo-lhe o seu sabor, que ela toma avidamente, com sofreguidão.
Depois desço e continuo a prová-la delicadamente, a sorve-la, como se de uma iguaria requintada se tratasse…
…adoro sentir o seu aroma a invadir-me…
…o seu sabor a deliciar-me…
Espalmo a minha língua sobre o seu clítoris e massacro-a na ânsia de mais que não se faz esperar. Agarra-me a cabeça e impulsiona-se contra a minha boca e dá-me o seu gozo novamente. Quando a sinto acalmar, acalmo também as minhas investidas, mas não paro.
No ecrã duas mulheres lindíssimas satisfazem-se num sessenta e nova lânguido e lento. Os olhos dela continuam lá. Eu toco-a apenas com a ponta da língua, suavemente, lentamente, nunca acelerando, frustrando-a quando ela quer acelerar…
…levo-a à beira do orgasmo e paro, negando-lhe o prazer que ela quer sentir novamente. Faco-o repetidas vezes. Adoro fazê-lo. Adoro quando me olha com os olhos carregados de tesão, gozo, prazer, frustração e raiva…
-Foda-se… - diz ela, frustrada de cada vez que eu lhe nego o prazer. Olho-a com um sorriso e volto ao ataque de cada vez. Quero que ela se venha…
…quando eu quiser, nos meus termos…
…mas quero que ela aprecie cada momento antes de lá chegar!
E, quando acho que chegou a altura, colo os meus lábios ao clítoris sorvo-o desenho intrincados arabescos no seu clítoris e faço-a ficar…
…incandescente!
E ela vem-se, abundantemente, longamente, entre gemidos e gritos que se espalham pelo prédio, sons de puro êxtase, que ela tenta abafar cobrindo-se com uma almofada…
…e o orgasmo dura e inunda-me a boca e o palato e sabe-me divinalmente bem…
…e levanto-me, ponho-me de pé, e ela atira-se aos meus boxers, fá-los descer ao longo das minhas pernas, e ainda eles não estão no chão já a sua boca se faz deslizar ao longo do meu caralho que ela tenta engolir…
…e assim que me desenvencilha da peça de roupa, agarra-me e masturba-me enquanto me fode com a boca e sente a minha tesão…
…e sentindo-me assim, pleno, com uma urgência e um olhar de quase loucura, deixa-se cair para trás no sofá, puxa-me com a mão e faz-se penetrar…
…mas apenas lhe concedo uma pequena parte de mim, espero…
-Mais. – pede, ordena ela.
Faço-me deslizar um pouco mais.
-MAIS. TUDO!
E eu, de uma só vez, mas ainda assim com calma, faço-me deslizar por inteiro ao longo dela, sentindo a sua cona dilatar-se com a minha entrada, apertar-me, habituar-se a mim, massajar-me…
…deixo-me ficar inteiro dentro dela por um bocado, só a sentir as suas contracções, colo o meu corpo ao seu, beijo-a, livro-a da camisa, do soutien, levo a minha boca aos seus mamilos, lambo-os…
…sinto-a febril, debaixo de mim.
Deixo-me deslizar devagar até sair dela, e entro em seguida de rompante de uma só vez, bem fundo, até colar as nossas púbis, e ela contorce-se, e geme, e prende a respiração…
…e repito o processo uma e outra e outra vez, sempre com calma, sempre a tentar controlar-me, controlar-nos.
O orgasmo dela torna-se inevitável, o meu próximo, mas quero adiá-lo.
Paro.
Deixo-a foder-me à sua vontade e ela, qual égua com o freio tomado num galope descontrolado, abandona-se ao animal que tem dentro e faz-se deslizar em mim profundamente, com força, freneticamente, quase me fazendo perder a razão também…
…e sinto as suas contracções e vejo o prazer dela, que é o nosso…
Finalmente ela acalma novamente e eu volto ao que estava a fazer, já mais controlado. Agora sou eu que a fodo, como eu gosto, a fazer-me deslizar por inteiro, a gozar a sua textura…
…ela deixa-se ficar, exausta, completamente à minha mercê…
…com eu gosto de a ter…
E desta vez sou eu que me abandono à medida que a sinto a querer cada vez mais…
…levo-a e deixo-me levar…
…até acabarmos num gozo conjunto, forte e intenso…
…inundo-a por completo, apago, abandono-me, venho-me…
…e quando acabo, sentindo-a a querer ainda mais, saio dela, levo novamente a boca à sua cona onde nos provo, acarinho-a até que ela acalme, e quando finalmente acontece, levo a minha boca à dela, que nos prova com gulodice, lambendo-me a língua, os lábios, a face.
Finalmente sossegamos exaustos, com o filme praticamente no fim, mas a sensação de que apenas uns breves minutos teriam passado.
Quando recobro finalmente algumas forças, levanto-me, vou até à banheira onde me limito a passar o chuveiro por cima da pele para tirar o suor que escorre, volto à cozinha.
Preparo um refresco de groselha. Apetece-me algo doce.
Fico à janela a fumar um cigarro.
Ela vem por detrás de mim, abraça-me, beija-me as costas.
-Ficas desde já a saber que estás proibida de sair assim à rua, senão eu não me responsabilizo… - digo-lhe.
Ela ri-se à gargalhada, sabendo que apenas a elogio.
-Vou-me deitar… - Acaba por me dizer.
-Vai. Eu é só acabar o cigarro e já lá vou.
Olho para o relógio…
Acho absolutamente incrível o quanto o tempo é relativo. Às vezes pode-se viver a eternidade num minuto…



Sábado (parte I)

Acho absolutamente incrível o quanto o tempo é relativo. Às vezes pode-se viver uma eternidade num minuto…
Tinha acabado de tomar o meu banho, fumei o meu cigarro à janela, recebendo o fresco da noite, enquanto esperava que o cabelo secasse e que ela tomasse também um duche.
Quis tomar o duche com ela…
…adoro ensaboa-la, deixar as minhas mãos percorrer o seu corpo…
…deixar a água correr sobre nós…
…mas ela não quis!
-Toma o teu banho e espera-me na sala. – Disse-me num tom que não admitia argumentações, mas ao mesmo tempo com um sorriso.
Acabei de fumar o cigarro, vim para a sala, acendi uma vela. Olhei para o PC. Um ficheiro tinha acabado de descarregar. Passei o segundo monitor para a televisão, pus o filme a rodar, o som bem baixo, sentei-me no sofá.
Da TV vinham imagens em tons de cinzento, uma belíssima mulher tocando-se, insinuando-se enquanto passava o genérico inicial.
Ouço os saltos no corredor. Estranho!
Ela entra na sala. Eu olho!
Toda vestida com roupa que eu lhe comprei que nunca usa, com grande pena minha. Ela sabe o quanto eu gosto de a ver “sexy”.
As botas de cano alto comprada na Mango, um pouco acima do joelho…
…a mini-saia preta, rodada, cheia de bicos assimétricos, que nem me lembro onde comprei…
…a camisa Bordeaux da Zara, que achei que realça os seus olhos, desapertada, atada com um nó…
…o soutien púrpura da Intimissimi…
…o cabelo solto, a cair-lhe pelos ombros…
-Gostas? – Perguntou ela com um ar de gozo ao ver a minha cara.
Boa! Se há uma definição de “Boa” é esta. Dá uma voltinha.
-Achas que estou bem?
Só não percebo o porque de tantas perguntas retóricas.
-Que é que estas a ver?
-Paris Chick. É um filme do Blake que acabou de descarregar.
-É bom?
-Não faço ideia. Elas são,… - disse, apontando para o ecrã onde duas mulheres vestidas à Dama Francesa e criada saídas das páginas de Alexandre Dumas satisfazem um nobre vendado, sentado numa cadeira.
Ela sorri!
Senta-se ao meu lado, no “chaise longue” do sofá e recosta-se.
Beijo-a…
Voltamos a dar atenção ao filme que é lento e pausado como todos os filmes do Blake costumam a ser.
-Este tipo poupa uma pipa de massa ao fazer os filmes… - comento com ela.
-Porquê?
-Porque filma uma hora e faz um filme de duas. Não vês que está tudo em câmara lenta? Está a metade da velocidade. É por isso que parece tão… Surreal!
-Sim, mas funciona… - diz ela, puxando a saia para cima e revelando-me a sua, até então, insuspeita nudez por debaixo. Volta a pregar os olhos no ecrã e toca-se…
…geme…
-Vês?
Claramente.
Ela leva os dedos à minha boca e provo-a…
…deliciosa…
…insalivo-a…
…ela volta-se a tocar, devagar, como quem não quer chegar rapidamente a um objectivo, antes quer apreciar todo o caminho para lá chegar.
Quero acompanhá-la…

Encarnação (parte V - Conclusão)


Parei o carro, puxei o travão de mão, desliguei o motor e com isso matei as luzes e a música de uma assentada. Olhei para ela, olhos nos olhos, com um sorriso.
-Sai. – Pedi-lhe, enquanto abria a minha porta.
Saímos os dois e ela esbugalhou os olhos.
-Lindo! – Exclamou com um sorriso suave.
Estávamos parados exactamente a meio da única pequena recta que corre ao longo da crista da Serra da Arrábida, submergidos na mais completa escuridão pontilhada na distância por um céu carregado das estrelas que desaparecem sob a luz das cidades, e vendo todas as pequenas luzes ordenadas no chão em linhas que se entrecruzam e criam luzes maiores na distância, com todas as suas cores, brilhos, intensidades, uma manta de retalhos que de estende a norte até onde a vista consegue alcançar através do vale do Tejo, e a sul pelo Sado, as luzes de Tróia e o mar mais adiante. O som era apenas o daquele ambiente semi-selvagem.
-É bonito o suficiente?
-Nunca pensei que isto existisse. Claro que gostava da serra, mas este sítio… É como estar no topo do mundo.
-Neste momento estás no topo do meu mundo.
Ela olhou para mim com uma candura que me tirou, literalmente, o fôlego.
Cheguei-me a ela, puxei-a para mim pela cintura, envolvi-a e beijei-a com vontade, e senti-me puxado por ela, atraído, envolvido, rendido, subjugado. Era um beijo voraz mas calmo, intenso mas lento, tentador, solto mas chegado.
Não sei quanto tempo tivemos ali, perdidos naquele beijo, tapados por um manto de estrelas. Depois, acabámos por voltar ao carro e ficamos um pouco em silêncio a apreciar a paisagem através da janela. Mas o apelo por ela era grande, e os beijos voltaram e começaram as caricias, mãos percorrendo o cabelo, afagando o pescoço, e depois tornando-se mais afoitas e começando a explorar o corpo, aos poucos, meio a medo, testando para sentir a reacção…
…o passar ao mão por sobre o peito, sentir a aceitação…
…o começar a desembaraçar da roupa, devagar, sempre à espera da altura de parar…
…e a fazer uma prece silenciosa para não ter de o fazer…
…sentir a pele, o arrepio do primeiro toque…
…admirá-la desnuda, soberba, linda…
…olhar o rosto desenhado e ver o fogo a crescer nos olhos enquanto se sente esse fogo a acender num mamilo entumecido que se ergue respondendo ao toque e querendo mais…
…sentir a roupa como algo de supérfluo, e abandonarmo-nos à nudez, revelando-nos um ao outro…
…sentir o seu primeiro toque, meio a medo, nervoso de excitação em mim…
…tocá-la e senti-la, suave, quente, muito quente, sentir a vontade dela…
…parar como que a perguntar “Queres mesmo isto?”, procurar a certeza da certeza que nos falta…
…ter a certeza num sorriso doce de resposta, numa afirmação, numa vontade escrita a fogo no olhar…
…confirmar essa vontade num beijo apaixonado…
…mergulhar um no outro e sentir…
…êxtase?!?
Fazer amor de uma forma tão lenta, o habituar dos corpos, devagar a fundirem-se…
…o não querer que aquilo que se sente cá dentro nunca mais acabe, que nunca parta de nós…
… a inevitabilidade do fim que se tenta atrasar até ao limite, tanto que quando, não mais se consegue conter o corpo, se tenta atrasar o tempo…
…perceber o que é a eternidade…
…perceber o que é a unicidade…
…fazermos sentido!
E depois?
Depois é o prolongar da sensação nas caricias sentidas, nos beijos que não se consegue evitar.
Foi este o dia em que percebi o que é ser tocado por um anjo!
Não mais voltei a estar só…



Encarnação (parte IV)

Mal suou o ultimo acorde do concerto a música de dança invadiu o espaço tornando aquilo que parecia um bar de rock numa autentica discoteca. A mutação do ambiente fez com que este deixasse de combinar com a minha personalidade, e deixou-me algo desconfortável. Ainda assim, deixei-me ficar porque tinha já oferecido a minha ajuda para arrumar o palco e carregar o material da banda para a carrinha.
Enquanto eles ainda descontraiam falando com os amigos e conhecidos após o concerto, eu subi ao palco e fui-me entretendo a enrolar cabos, escudado pelos amplificadores dos instrumentos. Dali tinha uma panorâmica sobre tudo o que se passava no bar.
O espaço que estava para além das mesas tinha-se transformado rapidamente numa pista de dança. Lá, a ruiva era a rainha indisputada de todas as atenções…
…excepto da minha.
Ao lado dela o anjo loiro dançava de forma mais contida e menos exuberante. Repararam ambas que eu as observava. A ruiva, talvez porque tivesse notado que há pouco tinha deixado de lhe dar importância, quis acentuar o meu interesse insinuando-se, olhando directamente para mim como que dizendo “sei que me estas a ver” e dançando de uma forma que estava a fazer crescer a água na boca de quase todos os homens ali presente…
…e de algumas mulheres também.
A loura reparou também que eu olhava, mas, vendo a reacção da amiga, acanhava-se. Creio no entanto que foi percebendo que o meu olhar repousava mais sobre ela do que sobre a amiga.
Fui pagar a minha despesa e sai com a banda pela porta lateral enquanto os ajudava a carregar o material para a carrinha que os levaria de volta a casa. Estava a carrinha já carregada quando elas saíram e se dirigiram a nós. Conheciam os elementos da banda e deram-lhes os parabéns pelo concerto, falaram riram…
Se por um lado me apetecia entrar na conversa, por outro lado a minha vontade de chegar à loura podia levar a interpretações da parte dela e da ruiva que eu não queria. Assim sendo, fui fumando o meu cigarro com calma enquanto observava o desenrolar da conversa.
Mas, costuma-se dizer que tudo o que tem de ser tem mesmo de ser e não há volta a dar. E não houve.
Aquando das despedidas a ruiva volta-se para o pessoal da banda e pergunta:
-Vocês por acaso não podiam dar boleia à Ana?
E eis que soube o nome do anjo.
-Não, pá, temos a carrinha completamente atulhada…
-É pena. Se pudessem sempre evitava ir e voltar à margem sul…
E eu falei finalmente e dirigi-me directamente à Ana.
-Pá, eu vou para a margem sul. Se quiseres vir comigo…
-Não quero dar trabalho…
-Não dás, de maneira nenhuma. Até aproveito a companhia. Ia sozinho, de qualquer maneira…
Ela, relutantemente, acabou por aceitar, e, após as despedidas, levei-a até ao meu carro, onde não tive qualquer gesto de cavalheirismo em relação a ela.
Ela entrou, apertamos os cintos de segurança, arranquei o motor do carro para ir aquecendo um pouco, coloquei uma música suave, porque já bastava o assalto sonoro a que nos tínhamos submetido durante toda a noite, e arrancamos.
Seguimos em silêncio até ao tabuleiro da ponte. Foi ela quem o quebrou.
-Podes perguntar…
-O quê?
-Aquilo que queres perguntar…
-Vais ter que me esclarecer, porque eu perdi-me!
-Aposto que estás curioso acerca da Júlia.
-A tua amiga?
-Sim.
-Não, não estou. Era suposto estar?
-Normalmente toda a gente está. Porque é que tu havias de ser uma excepção?
-Não sei se sou ou não, mas de facto não estou.
-Porquê?
-Porque é que não estou?
-Sim!
-Porque acho que já sei tudo dela que me interessaria saber. Não te vou dizer que ela não causou impacto, quando a vi. É de uma beleza arrebatadora. Mas, infelizmente, não há nada para além disso.
Ela fitou-me surpreendida.
-Achas mesmo isso?
-Acho. Acho inclusivamente que tu és bem mais interessante que ela…
Ela corou, mas olhou para mim desconfiada. Percebia-a perfeitamente. Quantos não teriam sido já os tipos que tinham dado em cima dela, não por ela, mas pela amiga?
-Porquê?
Olhei para ela com o sobrolho levantado.
-Sabes, podes estar habituada a estar em segundo plano, e se calhar até gostas disso. Chateiam-te menos. Mas a verdade é que és uma mulher extremamente bonita e há algo em ti… Nem te sei dizer bem o que é, mas é extremamente apelativo.
Ela corou ainda mais e calou-se.
Parei nas bombas de gasolina, quase logo a seguir, para ir comprar tabaco.
-Queres ir beber um café? – Perguntei-lhe – Estou a precisar de um.
-Não, obrigada.
-E fazes companhia?
-Faço, isso faço.
Entramos, eu comprei o tabaco e bebi o café, voltamos ao carro.
O nosso olhar cruzou-se quando abríamos as portas.
Entramos.
Sentamo-nos.
Passei-lhe o braço por detrás, puxei-a para mim sem esforço, uma vez que ela se entregou e os nossos lábios colaram-se enquanto as nossas línguas iniciaram um bailado angelical…
…e quando finalmente quebramos o beijo ficamos olhos nos olhos, completamente afogueados e assoberbados a olhar um para o outro sem saber como reagir.
Fui eu o primeiro a falar.
-Se calhar é melhor sairmos daqui, não?
Ela sorriu.
-É melhor…
Arranquei e sai da estação de serviço e entrei novamente na auto-estrada. Os olhos dela refugiam ao meu lado, o seu sorriso por demais lindo…
-Leva-me a um sítio bonito!
Eu sorri. Dei-lhe a mão.
E, por uma vez, fui um mocinho bem mandado…



Excerto

"Cheguei ao meu refúgio por volta das sete da tarde. Entrei com o meu portátil e um saco com comida rápida comprada numa estação de serviço do caminho. Por esta hora Laura e Henrique deviam estar a chegar à minha casa de Lisboa. Estava curioso e um tudo-nada preocupado, se bem que sabia que Lilith sabia o que fazia e que dificilmente aconteceria algo em minha casa.
Ainda assim havia algo em tudo isto que me deixava apreensivo. O facto de eu não estar talvez fosse até benéfico. A minha presença poderia de alguma forma antagonizar Henrique, o confronto de machos, e o pior, eu estar no meu território e por isso mesmo ser o macho dominante. Ele não estaria bem logo à partida e estaria inquieto. A minha falta tornava toda a situação mais fácil.
Pousei o saco com a comida, duas sandes e uma lata de cerveja, junto com o portátil em cima da mesa da sala, abri o portátil e uma das caixas de plástico de uma das sandes, de atum, acho eu, e continuei a escrever. Perdi-me na escrita de uma história que fazia todo o sentido, por ser a minha, porque era vivida, mas mais ainda agora. Não é todos os dias que uma Deusa toca um mortal, e muito menos afirma amá-lo. Lilith, Lilitu, Ísis, e sei lá mais quem fê-lo. Sentia em mim o toque da imortalidade, mas também a tristeza de saber que ela teria de seguir e eu ficar para trás. Não é privilégio dos mortais acompanhar os Deuses.
No entanto queria ainda saber mais sobre ela, se havia mais Deusas, que vidas comuns tinha ela escolhido. E faltava-me também o pormenor. Qual a razão ou as razões de ter vindo ter comigo, de se revelar a mim.
E faltava ainda um fim para a minha história, e este era o ponto que me assustava. Na mitologia nunca os mortais que se viram envolvidos com deuses se deram bem. Eu não acreditava ser a excepção à regra.
Por volta das três da manhã tinha escrito tudo o que tinha de escrever. Fechei o portátil e servi-me de um whisky. Fui para o meu terraço fumar. A noite estava fria, muito fria, mas ainda assim, estranhamente, o frio não me incomodou, antes pelo contrário, foi uma sensação agradável, contrastante com o fumo quente que me envolvia os pulmões a cada baforada ou o quente do álcool a cada trago.
Fechei os olhos. Senti-me envolvido pelo mundo em vez de à parte dele. O vento frio na minha face, o barulho das ondas do mar. Percebi o porquê de ela mergulhar no mar a cada oportunidade. Sentia-se parte do que a envolvia, parte integrante do mundo.
Eu estava ali naquele momento, mas a minha vida não era nada. As ondas do mar e o vento estavam ali há um tempo incomensurável, tinham visto a vida aparecer, evoluir, sair do seu âmago, espalhar-se e chegar a este momento, e ainda cá estarão quando já não houver ninguém ou nada para as ouvir ou sentir.
Apaguei o cigarro, pousei o whisky, despi-me da minha roupa, despi-me de conceitos, preconceitos, ideias, noções, desejos, vontades, vaidades, amores, ódios. Despi-me do meu ego e desci as escadas para a praia, caminhei pela areia até à água e mergulhei na vastidão, deleitei-me com as sensações e abri-me à noção de que todas elas eram boas. E fui livre. Não sei quanto tempo estive na água, a saborear a força com que as ondas me atiravam e a deixar-me seguir segundo a sua vontade, sem oposição. Mas sei que a dada altura olhei para o lado e ali estava Lilith, junto à linha de água, nua, magnifica, linda, desejada, com um sorriso nos lábios. Um sorriso de compreensão, de quem não precisa de palavras. Juntou-se a mim e abandonámo-nos à imensidão.
Por fim subimos juntos pela praia, entramos em casa, fomos para o quarto, deitámo-nos, lado a lado, ficamos a contemplar-nos. Nos olhos, o espelho da alma, compreensão. Mais do que a compreensão de palavras, a compreensão de espíritos. As palavras eram supérfluas, vazias de significado ao pé do que dizíamos um ao outro.
E de uma forma fluida, liquida como a água em que estivéramos mergulhados os nossos corpos procuraram-se, trocaram-se, fundiram-se. Sentia-a em mim, o gosto da sua pele salgada, de cada pedaço do seu corpo, do seu sexo. Todo o seu corpo era meu. Todo o seu corpo era eu e apenas queria a sua elevação, o seu prazer. E sentia-a em mim a querer o mesmo que eu, a fazer-me abandonar tudo.
Finalmente, quando nada restava de mim nem dela, penetrei-a. Apenas restava esta sensação de ser ela. Esta sensação inexplicável. E neste momento fui um dos deuses, neste momento fui um dos imortais, invadi domínios que me estavam vedados.
Abandonei-me ao prazer, senti-a a acompanhar-me. Mergulhei na eternidade deste momento que foi verdadeiramente eterno, pois nunca mais se desvaneceria.
Foi então, estando nós ainda unidos, que os nossos corpos cederam e que adormecemos nos braços um do outro. Nem uma palavra foi pronunciada. Tudo o que poderia ser dito tinha sido dito."



Encarnação (parte III)

Tenho de o afirmar:
A verdade é que a própria proximidade daquela mulher me incomodava, ao ponto de eu quase não conseguir olhar para ela.
Ela sentia o poder que tinha e divertia-se com isso, deleitava-se, alimentava-se disso.
O concerto foi decorrendo, o som alto demais para me aperceber de conversas que pudesse haver entre elas e as outras pessoas que estavam ao pé de mim e que as conheciam. O meu incómodo e fascínio por ela não desvaneciam. Até que…
Houve uma altura em que os nossos olhares se cruzaram e ficaram. E foi ai que eu percebi. E o fascínio, de repente, desvaneceu-se. Ela não era, afinal, nenhum avatar, nenhuma deusa encarnada. Era uma casca, uma aparência, alguém que tinha investido tanto no que parecia que descurar tudo o resto. Para lá da aparência, do aspecto, do charme, havia algo que falhava, embora, se me perguntassem, eu não conseguisse dizer o quê.
Mas, fosse o que fosse, tinha-se quebrado o encanto e, aos meus olhos ela saiu do pedestal e passou a ser apenas mais uma mulher no meio de tantas outras que por ali havia. E o engraçado é que ela notou essa mudança em mim e reparei o quanto, subtilmente, isso lhe abalou a confiança. E daquele momento em diante deixei de me sentir incomodado pela presença dela, deixei de não conseguir tirar os olhos dela, e voltei a ser eu próprio, sem fascínios nem deslumbramentos.
A amiga, o anjo louro que a acompanhava, notou também qualquer coisa de diferente após o nosso cruzar de olhares e pareceu intrigada.
A noite continuou, comigo a ir travando conhecimento com as pessoas mais próximas, no que fui ajudado pelo intervalo no concerto em que os artistas desceram do palco e, enquanto o vocalista e o baixista foram ter com pessoas do outro lado da mesa, o resto veio para o pé de mim. Uma vez que não havia lugares sentados para todos, levantei-me e ficamos ali, na conversa, com piadas de músico que mais ninguém entende, e às vezes nem os próprios músicos, num momento de pura descompressão, para eles, e descontracção para mim.
Quando eles voltaram para o palco, ao sentar-me, olhei para os olhos do anjo, e ai sim, descobri algo de raro e precioso. A personalidade doce passava num olhar límpido, e no entanto, bem lá no fundo, por baixo daqueles lagos azuis queimava um fogo que lutava por se libertar. Tinha algo de intangível e que, suspeitava eu, se mantinha contido pela contínua presença da amiga. Ela, embora fosse lindíssima, sentia-se sempre o patinho feio. Mas hoje não era. Para mim não era. E ela percebeu. E sorriu. E eu também…



Encarnação (Parte II)

O que mais me fascina num grupo de pessoas são as interacções, e, quando estamos atentos, há sempre algo que sobressai.
Uma mulher como aquela ruiva, no meio de um bar, roubando todas as atenções para si e ofuscando todas as outras presenças femininas, tem um efeito estranho.
Após o embate inicial em que todas as mulheres se sentem chutadas para canto, a verdade é que a competitividade acaba por emergir e de repente todas querem ser melhores que ela, e, para isso, acabam por vezes por tomar opções que não tomariam e de que se arrependem mais tarde e por consumir mais álcool do que o que seria normal, na esperança de se tornarem mais afoitas e de libertarem a “sex symbol” que vive no interior de cada uma delas.
É minha firme opinião que deveria ser obrigatório por lei que cada bar tivesse em cada noite em que está aberto uma mulher assim. E porquê?
A mera presença dela aumentava astronomicamente as hipóteses de qualquer homem que ali estava sozinho de sair acompanhado, e dos que estavam acompanhados de chegar a porto seguro nessa noite. De repente todas as mulheres do bar queriam ser sensuais e glamourosas, numa tentativa de prender as atenções que estavam concentradas apenas naquela fêmea…
…e que fêmea.
Mas a minha história não continua aqui, neste bar, nesta noite, embora tenha sido a noite em que a observei, curioso, bem como à criatura angelical e desprezada que a acompanhava. E apesar do primeiro impacto me ter deixado deslumbrado, o facto de estar ali com uma excelente companhia e de não estar à procura de nada, fez com que passado pouco tempo a presença dela se começasse a desvanecer do meu espírito. Não que não olhasse para ela. Era impossível não o fazer. Mas não olhava com qualquer intenção de me aproximar ou com qualquer outra intenção que não fosse observar a rara beleza estética e harmonia de movimentos que ela tinha.
A minha história continua uma semana depois.
Fui sozinho para o Jardim do Tabaco para ver a banda de bares desses mesmos meus amigos. Cheguei cedo, como era meu costume. Muitas vezes chegava quando a banda ainda estava a fazer o ensaio de som, ajudava, e saia com eles para ir jantar e estarmos “na bacorada”.
Dessa vez, no entanto, quando cheguei não estava ninguém, pelo que, estando o bar praticamente vazio, escolhi uma mesa mais ou menos recatada que me desse uma boa visão do palco e do resto do bar. Estranhei a disposição das mesas, sendo que em frente ao palco havia uma correnteza delas com um cartão de “reservado”, mas não liguei muito.
Pedi uma bebida e deixei-me ficar apreciando o espaço, decorado com muito bom gosto, na companhia dos poucos que por ali estavam, e perdendo-me nos meus pensamentos.
O bar foi enchendo sem que eu desse por isso, de tão perdido que estava, até ao momento em que chegaram os meus amigos, as estrelas da festa. Entraram, viram-me e vieram direitos a mim.
-Olha o que anda por aqui hoje… Não me digas que atravessaste a ponte só para nos vir ver…
-É verdade, pá. Estava aborrecido e resolvi sair para ouvir barulho…
-Sim, que se estas na esperança de ouvir alguma coisa parecida com musica hoje, ouvi dizer que os “não-sei-quantos” estão a tocar em Santa Iria. – Brincou um deles.
-Não, vim mesmo só para ouvir barulho, por isso acho que estou no sítio certo.
-Mas estás sozinho ou ela foi retocar a maquilhagem?
-Não, estou sozinho, mesmo.
-Pá então não ficas ai.
-Então?
-Vens para ali para a frente, para a mesa VIP. É que hoje temos ai o pessoal da editora e mais uns quantos gajos, e por isso é que aquelas mesas estão ali. Sentas-te lá. Sempre ficas com o barulho mais próximo.
Aceitei a sugestão. A mesa, aliás o conjunto de mesas era comprido pelo que me sentei numa das pontas que ainda estava vazia sendo que a outra tinha já algumas pessoas que eu não conhecia e deixei-me estar.
Rapidamente foi chegando mais gente e a mesa foi sendo preenchida. E qual não foi o meu espanto quando percebi que estava à mesma mesa com o Joaquim de Almeida, que fumava o seu charuto e bebia um whisky, dois ou três jogadores do Futebol Clube do Porto que estavam ali porque tinham tido jogo com o Benfica nessa tarde, e com mais algumas pessoas que aparentemente eram conhecidas de toda a gente, embora eu não fizesse ideia de quem fossem. Nunca liguei muito ao “Jet Set”…
Mas foi então que elas chegaram, para meu espanto, causando o impacto que eu já tinha visto na semana anterior e se sentaram na mesma mesa que eu a muito pouca distância… 


Encarnação... (parte I)

Entraram no bar as duas e pareceu que tinha havido uma pequena pausa.
Deixem-me falar um pouco delas.
A loura entrou à frente. O cabelo, brilhante, cuidado, levemente ondulado, caia-lhe em cascata até um pouco abaixo do meio das costas e emoldurava o rosto de um anjo, pele branca e imaculada, lábios muito bem delineados e uns olhos azuis límpidos, rosto desenhado por um qualquer pintor renascentista.
Vestida para a noite, sensual, botas de salto um pouco abaixo do joelho, calças justas, coladas a um corpo com todas as medidas certas, uma camisa que lhe assentava larga e meio esvoaçante e que deixava tudo à imaginação e que tomava forma quando chegava ao peito com as proporções exactas…
Toda a gente se virou para ela conforme entrou e teve o título de rainha do bar. Pelo menos durante uns dez segundos porque depois passou a ser uma gaja exactamente igual às outras todas. É que atrás dela, vinha a amiga.
Se me pedissem uma definição de luxúria e sensualidade, apontava para ela e a resposta estaria dada.
O corpo!
Uma pernas que pareciam não acabar, metidas numas boas de salto alto de cabedal preto, justo à pele, desenhando-lhe o contorno da perna até um pouco acima do joelho, partindo dai umas meias de rede que paravam abruptamente, com grande pena de todos os que a observavam, uns centímetros mais acima onde começava um vestido preto completamente colado ao corpo, elástico, que não só lhe realçava as proporções divinais como acompanhava a fluidez do seu movimento, e que subia até acabar num generoso decote que lhe cobria os seios livres cujos mamilos ameaçavam furar o tecido leve, deixando a partir dai ver a pele contrastantemente bronzeada por um qualquer sol exótico, dando-lhe uma compleição morena que fazia com que os olhos azuis, intensos, límpidos, faiscantes fluorescentes ficassem realçados no meio daquele rosto que era lindo, um rosto de mulher, um rosto que embora suave estava longe de ser angelical, tinha antes algo tentador, convidava à perdição, ainda para mais emoldurado como estava pelo cabelo longo, escorrido, brilhante, ruivo claro, louro escuro, não consigo precisar, mas que parecia fogo liquido enquanto ela andava.
Todas as mulheres que estavam no bar, incluindo a amiga, deixaram de existir e tiveram plena consciência disso.
Deixem-me desde já esclarecer uma coisa; eu, embora seja um empedernido exemplar heterossexual masculino, não tenho o hábito de olhar para uma mulher e babar. Mas adoro apreciar a forma, da mesma maneira que gosto de contemplar uma obra de arte, uma pintura ou escultura que me prendam os sentidos e me fascinem com a forma. A forma feminina, pela beleza, suavidade e fluidez, merecem a minha contemplação enquanto definição de beleza…
…tal como, por exemplo, o quadro da Mona Lisa, de Da Vinci. E nunca me passou pela cabeça fazer sexo com o quadro.
Isto não faz com que a mulher seja vista por mim como um objecto. De forma alguma. Mas é vista como um poema em movimento.
Mas a história não começa aqui!
Para contar esta história tenho que ir mais atrás.
Uns meses antes o meu telefone tocara inesperadamente, como era seu costume, aliás, e eu, como era habito meu quando semelhante coisa acontecia, atendi.
-Eu queria falar com o Ulisses, por favor… - disse uma voz feminina do outro lado.
-É o próprio!
-Olá. Não me conheces, mas eu sou a R., e sou irmão da P.
A P. era uma moça que eu conhecia há já algum tempo. Já tinha visto a R. de relance, mas nunca tínhamos falado. Fiquei surpreendido de ela me estar a ligar, mas não comentei. Ela continuou.
-Olha, eu sei que é esquisito estar a ligar-te assim, mas precisava de um favor…
-É sexo? – Perguntei eu aparentando uma seriedade absoluta.
Do outro lado ficou um silêncio embaraçoso, embaraçado, uma longa pausa de alguém que não sabia o que dizer. Finalmente respondeu.
-Não…!!!
-Ainda bem, porque se fosse eu não estava disponível.
Soltou uma gargalhada sonora quando percebeu que apenas brincava com ela. Eu perguntei:
-De que é que precisas então?
-É assim. Estive a falar com o M. porque precisava de gravar um CD com umas coisas para a faculdade, mas ele não pode e disse-me que talvez tu pudesses…
Para esclarecer digo desde já que isto se passou há tanto tempo que os gravadores de CD eram algo extraordinariamente raro, mais ainda do que os Tigres de Bengala, mais do que o Lince da serra da Malcata, e tão estupidamente caros que custavam o dobro do preço do computador onde eram encaixados que não era, já de si, muito barato.
-Claro, sabes onde é que eu moro?
Lá lhe dei as indicações e meia hora depois ela chegava a minha casa. Era uma miúda gira, muito gira. Não era o protótipo da gaja boa, embora fosse bem torneada, mas aquilo que chamava mesmo a atenção nela eram os olhos vivos e inteligentes e o sorriso fácil. E depois, falar com ela era um gosto. Fazia um uso peculiar de um sentido de humor carregado de ironia.
Ficamos amigos nesse dia, mesmo amigos. Descobrimos alguém com quem falar francamente, e não fora eu andar perdido em elevadores na altura em que a conheci, creio que não a teria deixado escapar. Apreciava mesmo a sua companhia, e acho que ela apreciava a minha.
Começamos a sair juntos algumas vezes, em noites em que eu não estava ocupado, e íamos a um bar ou outro ver música ao vivo e ganhávamos horas de conversa.
Foi precisamente numa dessas saídas, já uns meses depois de eu deixar de andar perdido em elevadores, numa noite em que tinha recebido uma chamada de um dos elementos da banda que estava a tocar a perguntar que eu queria ir ver o concerto de lançamento do álbum deles e a tinha convidado, que vi pela primeira vez aquelas duas amigas.
Estávamos os dois em amena cavaqueira quando eu me virei para ela e perguntei:
-Desculpa lá, mas vocês, as mulheres, são umas verdadeiras cabras umas para as outras, não são?
-Porque é que perguntas isso?
-Pá, se eu estivesse aqui sentado, sozinho, ninguém me ligava patavina, mas como estou aqui contigo e tu até estas arranjadita e até pareces girinha, já houve umas quantas a olhar para mim e a pensar “hummm!”…
-Pá, estúpido… Mas estou gira hoje não estou?
-Pá, eu comia-te na boa…
-Obrigada. Vindo de ti é um elogio.
E foi nesta altura que elas entraram e ela vê a ruiva e volta-se para mim com um ar completamente aparvalhado e diz:
-Pois olha que eu não gosto de mulheres, mas comia aquela ruiva!
O que me levou a olhar e a ficar parado a pensar se olhava para uma bússola de forma a poder ajoelhar-me no chão virado para meca e agradecia a Ala, embora não seja muçulmano, se dava a existência dela como prova concreta de que Deus existia a uma qualquer sociedade científica, ou se, pela súbita e invulgar tesão que senti, a admitia como encarnação de uma qualquer criatura infernal que teria vindo apenas para puxar mais umas quantas almas para o inferno…
Com a dúvida sobre as várias hipóteses era imensa, optei pelo mais sensato e fiquei quieto, parado e calado, preso a cada movimento daquela criatura…
…o que me leva, finalmente à história…



Sublimação

Depois de tudo o que se passou aqui, numa outra noite qualquer logo a seguir em que a minha companheira chegaria novamente tarde, ficamos de nos encontrar num café onde parava a maior parte do pessoal com que nos dávamos.
Cheguei por volta das dez, e embora fosse relativamente cedo, o ambiente estava já bem carregado de álcool. Cumprimentei-a, sentei-me ao lado dela, olhei-lhe para os olhos e percebi que também estava bem tocada, mas mantinha a compostura, como sempre, com uma classe absoluta.
Na mesa, connosco, estava o pseudo-namorado dela, o tipo com quem ela volta e meia dava umas, e que tinha a cabeça aterrada em cima dos braços, na mesa, completamente embriagado.
-Daqui não levo nada hoje… - Comentou ela piscando-me o olho.
-Realmente, não me parece.
-Levas-me a casa?
-Queres ir?
-Já não estou muito bem e não estou aqui a fazer nada. Leva-me. Pelo menos acordo fresca amanhã.
Levantei-me.
-Vamos. – Disse-lhe.
-Ela procurou a minha mão para se equilibrar a levantar, e assim que se ergueu largou-me sentindo-se já segura e saímos do café em passos mais calmos que lentos em direcção ao meu carro.
Abri-lhe a porta e ajudei-a a sentar, e dei a volta ao carro para entrar eu.
Levei-a a casa. Ela limitou-se a seguir de olhos fechados e não trocamos uma palavra pelo caminho. De relance, contemplava-a. Era uma criatura magnífica, a mulher mais poderosa que conhecera até então, apenas pela consciência que tinha do seu poder.
Cheguei à porta do prédio dela e estacionei. Ela abriu o olhos e olhou-me languidamente, meio entorpecida.
Sorri-lhe.
Ela atirou-se suavemente para o meu colo, repousando de costas para mim, com a cabeça assente no meu braço esquerdo.
A minha mão direita, livre, fazia-lhe festas no cabelo.
Baixei-me e beijei-a no rosto.
Quando me ia a afastar, ela virou a cara, os seus lábios procurando os meus…
…e aprisionando-os, enlevando-os, envolvendo-os, a língua macia desliza, procura, quer, dá-se, os lábios colam-se e aquele beijo começa sem vontade de acabar, a sua mão direita procura a minha, encontra-a, leva-a ao seio, guia-me na maneira como quer que eu a toque, com os dedos entrelaçados e o beijo continua doce, calmo, suave, quente, intenso, vibrante, pulsante…
Após uma brevíssima eternidade o beijo acabou. Ficamos os dois, olhos nos olhos, parados, sérios, estáticos, a respirar pesadamente.
Ela movimentou-se para se levantar, eu deixei-a, ela encosta-se no banco, leva a mão à porta, como que para a abrir, para, arrepende-se, olha para mim, séria, sedutora, tentadora, libidinosa, e diz:
-Mais!
Aquilo soou-me a uma súplica, um pedido, um comando, uma ordem inquestionável, uma vontade, e o carro arrancou sem destino e enquanto eu pensava onde queria ir o carro decidiu e rumou à fonte da telha, a alguns quilómetros de onde nos encontrávamos.
Ela encostou a cabeça no meu ombro e acariciava-me o peito com a mão enquanto eu conduzia. Sabia-me bem senti-la ali.
A mão dela desceu, vagarosamente, até chegar ao meu cinto que desapertou num movimento fluido, desapertou os botões das calças um a um, escorregou pela abertura dos boxers, fazendo-me ficar liberto, agarrou-me, sentindo-me duro na sua mão, disputando avidamente a minha atenção à estrada que corria velozmente debaixo de nós.
Queria parar para a apreciar, mas queria chegar para a apreciar ainda mais e isso fazia que eu continuasse a condução e me deixasse sujeitar a tortura.
Ela percebeu, a minha dualidade de sentimentos, divertiu-se, mais, deleitou-se nisso, baixou-se e tomou-me na sua boca, deslizou suavemente, sugando-me, envolvendo-me…
…fodendo-me!
-Ainda me fazes ter uma coisinha má… - Disse eu, incapaz de tomar outra decisão que não fosse continuar.
-Tem… - disse ela.
Com a minha súbita decisão de a querer, de querer tê-la, de querer satisfazer-lhe a luxúria, saciá-la, o motor do carro protestou e fez a estrada rolar mais depressa debaixo do carro.
O caminho foi rápido, mas demorei uma eternidade a chegar ao alto da arriba. E eis que chegado, com os sentidos sobrecarregados, me sinto a derramar por sobre a visão que me entra pelos olhos, e perco-me na imensidão do oceano banhado pelo luar, carregado de sulcos e reflexos, com as ondas salpicadas do branco mais puro, e ela recebe o meu despreendimento de forma sedenta, ansiosa, oferecendo-se a mim.
É ainda com o corpo sobrecarregado de emoções que estaciono, solto o cinto de segurança, desço os dois bancos, chego-me a ela, e retomo o beijo que abandonáramos antes, agora carregado do meu sabor, e acho que pela primeira vez perdi a consciência de ser eu, mas também não tomei consciência de ser outro qualquer…
…apenas fiquei num limbo intemporal, e abandonei-me.
As minhas mão percorreram a sua vastidão, ela que era simplesmente o meu mundo neste instante, retirando botão a botão das suas calças, procurando-a, tocando-a e sentindo a medida da sua excitação na humidade que aflorava do seu sexo.
Ansioso por reavivar a memória do ser sabor retirei a mão e levei-a à minha boca, provando-a.
-Dá-me. – ordenou ela.
Dei e ela provou-se e lambeu os meus dedos até ter tido para si todos os vestígios do seu sabor, devolvendo-mos a seguir com a sua língua na minha.
Os meus dedos desapertavam-lhe a camisa, ansiosos por a libertar e poderem tocar aquele peito suave. Mas a ansiedade era calma e graciosa, não se permitindo a que a pressa destruísse a intemporalidade do momento.
As línguas continuavam a dançar um tango em que ambos lideravam e eram submissos, nenhuma querendo o protagonismo, nenhuma procurando mais do que era procurada, de forma incontida, quando os dedos afloraram o mamilo que se erguia orgulhosamente suplicante pela caricia que tinha com certa.
A mão dela desceu sentindo-me percebendo o quanto tudo isto me elevava. A minha desceu, tentando libertá-la das calças que eram obstáculo à sublimação…
…e quando a tive livre descei os meus dedos deslizar nela, senti-la quente, desejosa, penetrá-la e sentir toda a sua textura, e baixei-me e provei-a e tive o seu gosto e quis que ela sentisse o que eu sentia e deixou de haver algo no universo que não fosse o prazer que eu lhe queria dar e o prazer que ela recebia. E que ela recebeu. E que deu de volta…
…inundando-me, dando-me o pleno do seu sabor, enchendo o meu paladar, pulmões plenos do seu odor…
…e quis tê-la, dando-me, e tomei-a, por inteiro e ela, sentindo o meu assalto arqueou as costas e respirou fundo, procurando ar e tornando-se uma muralha que eu tinha de conquistar…
…e dediquei-me, assalto após assalto, investida após investida até a conquistar e a ter rendida por completo ao prazer que era nosso e que eu quis ter, tempo após tempo, caminhando para a sublimação…
…e de repente diluímo-nos no mar ali ao lado e fugimos do tempo e esquecemos a existência.
Lembro-me de dar por mim, depois, com a boca colada à dela, corpo colado ao dela, oferecendo-nos um ao outro uma sensual explosão de luxúria, a pele a arrepiar das sensações, a tesão saciada, mas a vontade da alma absolutamente intacta e ainda mais emergente.
E depois…
Depois o mundo apanhou-nos de volta e o tempo voltou a fluir e tivemos de nos afastar.
Despedi-me dela com um beijo pleno de desejo saciado à porta do seu prédio.

Há momentos que nos definem, únicos, em que sabemos que éramos uma pessoa antes e passamos a ser alguém diferente, momentos que são uma evolução brusca nos nossos padrões de pensamento.
Este foi um deles.
O mundo deixou de ter uma forma definitiva para passar a ser algo extremamente moldável…



Pensamentos

Digo-te,
Se as palavras fossem liquidas
Derramava-as sobre o teu corpo,
Sobre lugares escondidos
Onde o fogo apaga a razão...


A seca...

Cheguei a casa dela deviam ser umas cinco e meia da tarde, depois de ter passado um sábado da minha vida com os olhos pregados num monitor a fazer a treta mais repetitiva que se possa imaginar.
Tinha a vista cansada e apetecia-me descansar um bocado, relaxar. Esperava fazê-lo na companhia dela, com uma boa refeição, um copo de vinho tinto, um passeio à beira mar…
As minhas esperanças foram completamente aniquiladas assim que ela me disse a segunda frase, tendo a primeira sido um “Olá”.
-Lembras-te dos S.?
-Quem?
-Aqueles meus amigos que conheceste daquela vez, no bar…
-Ah, sim, lembro. Que é que têm?
-Convidaram-me para ir lá passar o serão. Eu disse que já tinha planos, e que estava acompanhada por ti, mas eles insistiram e disseram para te levar e não fui capaz de dizer que não.
“Mas devias ter dito!” pensei eu. Claro que o que eu pensei deve ter aparecido estampado no meu rosto.
-Não fiques assim, eles até são divertidos…
Claro que dependia do conceito. E sobretudo da paciência que havia, e hoje não havia muita.
-Pá, para te ser sincero não estou muito nessa… Se calhar tu vais, que já te comprometeste, e eu rumo para outras paragens. Afinal, amigo não empata amigo…
Ela fuzilou-me com o olhar que eu tinha catalogado com o numero vinte e oito e que dizia inequivocamente “Deixa-te de tretas, vais e pronto”.
Encolhi os ombros e resignei-me.
Antes de continuar a desfilar esta memória, deixem-me esclarecer uma coisa, que pode ajudar a perceber a minha pouca propensão para ir. Embora nos déssemos extremamente bem a todos os níveis, e nos entendêssemos perfeitamente, ao ponto de muitas vezes não ser necessário dizer nada para que o outro entendesse, a verdade é que a nível social éramos azeite e agua.
Eu, roqueiro, tinha como amigos montanhas de gente despretensiosa, malta cujo o lema de vida era sexo, drogas e rock’n’roll. Muitos dos meus amigos eram músicos, profissionais e amadores, e quando estávamos todos juntos estávamos sempre bem… Desde que houvesse cerveja, porque se não houvesse, mudávamo-nos.
Ela, a tia de Cascais. Mais velha que eu uns anos, sempre cuidada e arranjada, roupas de marca, a maquilhagem certa, as lentes de contacto coloridas (com as quais eu embirrava solenemente pois não me deixavam ver os olhos dela, de um castanho mel lindíssimo) que condiziam com a roupa, e cujos amigos eram gente da classe média-alta ou alta, que davam aquelas festas aborrecidamente chiquérrimas.
Quando os nossos mundos colidiam havia, quer da parte dos amigos dela, quer dos meus, uma estranheza imensa, mas eu sempre relevei isso.
Mas tendo esclarecido este ponto, que ajudar, talvez, a explicar o porquê de eu preferir ir-me embora a ter de aturar um serão em casa dos S., voltemos às memórias.
Onde é que eu ia…?
Ah!
Depois de me fuzilar com o olhar, eu voltei-me para ela e argumentei.
-Olha lá, mas não vim minimamente preparado para ir a lado nenhum. Não tenho ai roupa, estou a precisar de um banho, e qual é o objectivo de vestir a t-shirt e as calças sujas depois de um banho?
-Calculei que dissesses qualquer coisa do género, por isso vai ver acima da minha cama. Está lá uma t-shirt lavada que te serve e um casaco que era do M. e que ainda ai ficou. Vê lá se te serve…
-Mas queres que eu me vista com roupa do teu ex.?
-E então?
Não valia a pena argumentar. Apesar do meu ar de poucos amigos, lá fui ver se o casaco me servia, uma vez que o M. era substancialmente mais baixo que eu. Infelizmente, era também bastante forte, pelo que o casaco até me serviu.
Fiz-lhe companhia durante um pouco na cozinha, enquanto ela começava a preparar o jantar. Queria jantar cedo para podermos estar lá às horas combinadas.
Ao fim de pouco tempo fui tomar o meu banho e quando sai estava já a comida em cima da mesa. Jantamos meio em silêncio, eu porque estava contrariado mas resignado e ela porque não queria forçar nada. Depois fomo-nos vestir.
Eu demorei os meus normais cinco minutos. Já ela…
…ao fim de meia hora ainda a esperava na sala. Mas finalmente apareceu.
-Estou pronta. Que é que achas?
Achei que me apetecia, ali, naquele momento, desfazer o trabalho todo que ela tinha tido, levá-la para a cama e parti-la ao meio.
Estava toda produzida da cabeça aos pés, o que contrariava um bocado a história do “é-só-um-serão-informal”. O vestido preto, liso, justo, que acabava quatro dedos acima do joelho, colava-se-lhe às formas e realçava-as e deixava ver o suficiente das suas pernas lindas, perfeitamente depiladas e com a pele morena ainda brilhante do creme hidratante, cuja elegância estava ainda mais realçada pelas sandálias de salto alto, pretas e simples, em que ela andava com uma segurança absoluta. Uma vez que o vestido deixava desnudas as suas costas, não usava soutien, o que deixava os seus mamilo pressionados contra o tecido, como se o quisessem furar, e apetecia-me chegar a ela e trincá-los, assim mesmo, por cima do tecido.
A maquilhagem de rosto, perfeita, fazia-a parecer uma capa de revista, linda. Claro que sempre a preferi ver ao natural, mas ainda assim, quando ela se produzia…
Ela notou o meu olhar.
-Em que é que estás a pensar?
-Em nada…
Ela sorriu, com aquele sorriso maroto que dizia tudo.
-Ainda bem. Podias estar a ter alguma ideia estranha, e nós agora não temos tempo…
-Ideia estranha? Eu?
-Sim…
-Pois, talvez, agora que falas nisso. Mas tu costumas gostar das minhas ideias estranhas…
-E agrada-me que as tenhas… Mas tem de ficar para mais logo.
-Isso é uma promessa?
-É. E nem é daquelas feitas por políticos…
Saímos de casa com um sorriso. Fomos no carro dela, e eu não me contive a pôr-lhe a mão em cima da perna e passar-lhe os dedos ao de leve, enquanto ela conduzia.
-Olha que eu estou a conduzir e ainda me desconcentras…
-Mas estou a fazer alguma coisa de mal?
-Não, mas eu conheço-te… Se não te digo nada, vais subindo…
-E era mau?
-Nada. Mas estando a conduzir pode ser chato.
-Eu contenho-me.
-Acho bem.
Lá chegamos ao nosso destino, um prédio alto cuja entrada era um indicio do quanto os apartamentos deviam ser luxuosos.
Entramos para o elevador. Ela, como qualquer mulher que se preze, aproveitou o espelho para ver se estava tudo bem, dar um ou outro toque no cabelo que a deixava exactamente igual, mas com a impressão de que não, enquanto o elevador prosseguia na sua marcha lenta prédio acima.
E eis que, por volta do quinto andar, o elevador pára com um solavanco ao mesmo tempo que ficamos mergulhados na escuridão, iluminados apenas por uma pequena luz de emergência.
-Bonito. Falha de electricidade… - disse eu.
-Bolas, pá… - disse ela com nervoso na voz - … se eu já detesto isto quando está a andar, ficar aqui fechada…
Puxei-a para mim e abracei-a, aninhando-a contra mim.
-Não te preocupes, a luz já volta e isto volta a andar…
-Espero que sim…
Eu também o esperava. Não que me metesse confusão estar dentro de um elevador parado quase às escuras, mas estar ali com ela, e ela assim…
…só me apetecia…
Enquanto a tinha abraçada a mim, ia-a mimando, passando com as minhas mãos ao longo do seu corpo, sentindo-lhe as formas coladas ao tecido leve. Queria beijar-lhe os lábios, tocar a sua língua, mas não queria estragar-lhe a maquilhagem. Afinal estávamos a três pisos do nosso destino. Mas que ela me apetecia…
As minhas mãos foram-se tornando audazes. Percorria-lhe o corpo, apalpava-a, subia até aos seus seios, sentia-lhe os mamilos por cima do tecido…
…e sentia o corpo dela a responder, a colar-se ao meu para me sentir.
Comecei a mordiscar-lhe os ombros desnudos enquanto as minhas mãos vagueavam pelo corpo dela.
-Tu não sejas mau…
-Estou a ser?
-Estás.
-Mas queres que eu pare?
Ela respirou fundo e deu-me uma dentada leve no pescoço.
-Não, podes ser mau mais um bocadinho…
E eu fui sendo…
A luz demorava na mesma proporção que a minha vontade dela aumentava. As minhas carícias foram-se tornando mais afoitas e as objecções dela, faladas ou pensadas, foram sendo derrubadas. Com ela ainda abraçada a mim, fui-lhe subindo o vestido.
-Tu és mesmo mau…
-Mesmo, mesmo?
-Mesmo, mesmo!
Larguei-a, ajoelhei-me no chão à frente dela, meti as mãos por dentro do vestido, subindo ao longo das suas pernas, agarrei o fio dental e fi-lo deslizar pernas abaixo, até aos pés. Ela, calmamente, sem uma palavra, levantou um pé e depois o outro, permitindo que eu lhe tirasse completamente a peça de roupa que guardei no bolso do casaco, atabalhoadamente.
Depois olhei para ela enquanto lhe subia a saia. Ela estava afogueada de tesão. Olhei para a cona dela, lisinha e depilada.
-Sabes que mais? – Disse-lhe – Já que não te beijo esses lábios bons para não estragar a maquilhagem, acho que me vou vingar nestes…
E com isto passei a minha língua insalivada pelo clítoris dela, fazendo com que ela tremesse um pouco e soltasse um pequeno gemido. Depois colei-lhe os lábios e chupei-a. Estava doce, tão doce…
Quando a senti já bem molhada comecei a fodê-la devagar, com dois dedos, enquanto a chupava.
-Se a luz volta agora… - Disse ela com uma voz perdida de tesão.
-É bom que não volte…
Continuei a fodê-la e a chupá-la. A situação em si e os imponderáveis faziam com que tudo fosse ainda mais excitante.
-Se passa alguém nas escadas…
-Vai ficar com uma inveja do caraças… - Disse-lhe eu.
Por esta altura ela só não escorria porque eu aproveitava cada gota do seu leite para satisfazer a minha sede dela, que ainda assim nunca estava satisfeita.
Ela por fim cedeu, não aguentou mais e veio-se na minha mão e boca, tentando conter os barulhos o mais possível. E eu a fazer os possíveis por que ela gemesse e gritasse mais…
Quando por fim acalmou só me disse com uma voz melada e com um fogo no olhar de pura tesão:
-Isso não se faz!
-Ai faz, faz! Até se faz pior…
Levantei-me, desapertei as calças, fi-la ficar de costas para mim, ela dobrou-se para a frente, agarrando-se ao varão do elevador, e eu, de uma só estocada fiz-me deslizar todo para dentro dela. Estava tão quente, tão…
…boa.
Sabíamos ambos que de um momento para o outro poderíamos ter de interromper esta pequena festa privada, pelo que não era altura para nos torturarmos. Fodi-a furiosamente, vigorosamente, a tentar controlar-me apenas para a levar a um orgasmo junto comigo que eu sabia que não demoraria…
…e não demorou!
Viemo-nos os dois intensamente, enquanto tentávamos controlar o barulho que fazíamos.
Quando acalmamos os dois ela só me dizia:
-Espera, não saias… - enquanto procurava os lenços de papel na sua mala.
Lá os encontrou e eu lá sai dela. Enquanto eu apertava as calças e ela se limpava a luz voltou de repente e o elevador arrancou com um solavanco. Ela, quase em pânico, passou-me os lenços com que se limpara para as mãos, desceu a saia, e olhou-se ao espelho para ver se não havia muitos estragos. Achou que estava tudo bem, respirou fundo, compôs-se e quando o elevador parou já nada se tinha passado. Enquanto lhe abria a porta ainda lhe sussurrei:
-Vês, não foi assim tão mau faltar a luz…
-Pois, por acaso não foi! – Respondeu ela piscando o olho.
Tocamos à porta e os S. vieram receber-nos. Entre os cumprimentos de circunstância lá veio a pergunta por parte da dona da casa:
-Não me digam que ficaram fechados no elevador!
-Foi, … - respondeu ela - …e foi horrível!
-Pois, calculo!
O senhor S. olhou para mim, e estranhamente para o meu casaco. Depois dirigiu-se a mim com um ar matreiro:
-Uma verdadeira seca, não? – e piscou-me o olho.
Levei a mão ao bolso do casaco e senti o fio dental dela meio fora do bolso. Sorri.
-Do pior, mesmo!



Degustação

Adoro…
…degustar-te!

Tocar-te com a minha língua, rodear-te, colar os meus lábios, sentir o teu sabor…
…e tu sabes tão bem.

Adoro seguir o teu ritmo, o ritmo que impões e levar-te a um orgasmo atrás do outro, seguidos, furiosos, até te deixar exausta, encharcada…

Mas por vezes adoro ser eu a marcar o ritmo, sentir-te a querer acelerar, a querer mais e eu a negar-te o que queres…

Chupar-te calmamente, sentir o teu corpo em brasa, a tua respiração ofegante, a um passo…
…e ainda assim não te deixar chegar lá!

Saber que estás excitada, que queres a libertação…

Saber que estás submersa em prazer e manter-te ali, naquele limbo onde te esqueces de tudo, onde te abandonas a todas as sensações…
…onde me agarras a cabeça e te empurras para mim…
…onde te colas à minha boca na esperança de teres o mais que eu te nego…
…onde queres mergulhar, mas eu te seguro e não deixo…
…até ao momento em que eu decido libertar-te…
…e te deixo ir!

E sinto as tuas sensações.

E sinto o teu abandono.

E te agarro para te levar ao topo novamente.

Adoro dar-te prazer…
…adoro receber o prazer que sentes…
 
 

Posso nunca te o ter dito, mas sempre admirei a forma como o teu corpo se desenhava à minha frente. Ganhava horas a ver-te só andar de um lado para o outro com a tua graça felina. Sentia-me embalado no movimento que as tuas ancas descreviam, a maneira como as roupas assentavam no teu corpo e realçavam as tuas formas.
Sentia-me inebriado pelo perfume que usavas e que colava tão bem à tua pele…
Nunca soube qual era, mas ainda hoje quando o sinto me vens à memória, volvidos todos estes anos.
Sempre admirei a maneira como se definiam os músculos das tuas pernas enquanto andavas segura em cima daqueles sapatos de salto alto, e a maneira como eles faziam com que o teu rabo se empinasse. Sempre admirei a tua cintura que eu adorava envolver quando nos abraçávamos.
Sempre admirei o teu corpo pequeno mas de proporções perfeitas. O teu peito, pequeno mas lindo, com os teus mamilos sempre espetados, que quando não usavas soutien pareciam querer furar o tecido para se libertarem.
Sempre admirei a forma absolutamente sedutora como olhavas, e quando olhavas para mim…
Sempre admirei a forma como não deixavas ninguém indiferente quando surgias, quando passavas, deixando os homens estáticos de desejos e as mulheres roídas de desejo e inveja. Sempre me diverti com o facto de pensar que apesar de tudo isso eras minha, sem nunca me ter apercebido que só o foste na realidade quando já não havia hipóteses de o seres.
Sempre admirei os teus lábios que me beijavam sempre de uma forma suave mas intensa…
Sempre te admirei…
…mas és passado.


Às vezes o sol oculta-se quando não se está em presença de quem nos eleva a alma. O mundo fica cinzento, pardo, descolorido como o nosso estado de espírito, como se a presença, ela própria, irradiasse.
Mas a presença, quando nós queremos, está em nós, projecta-se em nós e…
…deixa de haver dias cinzentos
Sabes o quanto é bom sentir a tua presença? Sentir o teu corpo contra o meu, a doçura…
Estas em mim, nos detalhes, nas memórias…
Estas em mim, porque eu sei que não estas aqui mas estás a pensar em mim…
Sei que sentes o toque de quando eu me toco…
Sei que tu, só tu, sabes a minha maneira de chegar a ti…
Sabes que só eu te sei além de ti…

És…

…a conjugação do verbo que te encerra, engloba e define para mim.
E quando estas perto quero-te, olho-te, …

…apeteces-me…


…tanto!!!



Certezas


Era um final de tarde de sexta-feira quente, opressivamente quente, de quase verão.
O carro parecia andar devagar, quase em câmara lenta, apesar da minha ansiedade por a ver pesar no acelerador e fazer o motor rugir como resposta.
Procurei um cigarro, que descobri ser o ultimo do maço, e ponderei se parava na área de serviço que estava a pouca distância ou não. Decidi parar. Não queria que, depois de chegar, nada me separasse de ti.
Como sempre, quando temos pressa, as pessoas nas filas da caixa demoram eras, eternidades inteiras a serem atendidas, e a fila que nós escolhemos é sempre a mais lenta. Ao fim do que me pareceu um mês, lá sai da loja de conveniência da estação com o maço de tabaco não mão, e o motor rugiu, e os pneus gemeram com a violência a que foram submetidos. Agora era só rumar até ao fim da auto-estrada.
Chegado ao destino, andei às voltas enquanto procurava um lugar para estacionar. Cada momento parecia uma eternidade. Finalmente, desembaracei-me do carro e voei em direcção a casa dela.
Recebeu-me com um sorriso, luminoso, sim, mas de alguma forma contido. Estranhei, mas atribui isso a alguma coisa que se passara durante o dia e não dei importância.
Fomos pondo a conversa em dia, tagarelando na cozinha, enquanto eu a ajudava a acabar o jantar, um tagliatelle alla bolognese maravilhoso e que exalava um cheiro que enchia as minhas pupilas gustativas de saliva, e, ocasionalmente, tocávamo-nos ou roubávamos um beijo ao outro.
Jantámos descontraidamente, acompanhando com um Porta da Ravessa tinto, de colheita que não recordo, mas que caia bem em cima da massa pesada mas incrivelmente saborosa. O beberricar de um gole entre cada garfada apenas servia para potenciar o sabor da garfada seguinte, rica de sabores e aromas intensos, e que fazia parecer haver uma festa na minha boca para a qual toda a gente havia sido convidada.
Saímos para beber um café, demos uma volta no paredão junto ao mar, voltamos a casa, vimos um pouco de televisão, com ela aninhada em mim, tomamos banho e fomos para a cama.
Lá chegados fizemos amor.
E depois ela levantou-se, para se ir lavar, e eu esperei, e quando ela saiu da casa de banho fui eu para lá, e ainda lá estava quando ela passou no corredor e anunciou:
-Vou até à sala um bocadinho. Apetece-me beber qualquer coisa. Queres?
-Pode ser um whisky.
E ela seguiu.
Juntei-me a ela, na sala, tinha já ela uma cerveja na mão, e acabava de me servir o whisky com a outra. Sem gelo, como ela sabia que eu gostava.
Passou-me o copo para a mão, e sentou-se, beberricando a cerveja, séria, meio ausente.
Sentei-me ao pé dela, completamente calado. Se ela tinha algo para dizer, haveria de dizê-lo. E ela finalmente disse.
-Que é que tu queres?
Fiquei a matutar na pergunta. Ela notou e continuou.
-Quer dizer, de mim, da vida, onde é que tu te projectas daqui a algum tempo…?
-Mas, porquê a pergunta?
-Porque eu não sei. Olho para ti e não vejo ambição, planos, não sei o que queres para o futuro, não sei o que queres de mim… O meu Ex, com a tua idade, já me tinha posto uma casa, tinha um projecto de vida…
Calou-se a olhar para mim. Esperava uma resposta.
Eu pensei um pouco, nunca desviando o olhar dela. E depois respondi.
-É verdade. Ele tinha. O meu é diferente, ou se calhar nem existe. Mas não deixa de ser curioso o facto de não ser ele quem está aqui, então.
A calma na minha voz fê-la perceber que não o tinha dito num tom acusatório ou ressentido. Era uma mera constatação de um facto, inegável para ela.
Entretanto, acabáramos as bebidas. Ela olhou para mim, o olhar forte e felino que lhe conhecia, de mulher que sabe perfeitamente o que quer.
Tirou-me o copo da mão pousou os dois na mesinha em frente ao sofá, levantou-se, agarrou-me pela mão e levou-me para o quarto, apagando a luz quando saia da sala e mergulhando a casa na penumbra.
Chegados ao quarto, ao fundo da cama, puxou-me para ela, pendurou-se no meu pescoço, beijou-me com ferocidade, com desejo, devorou-me.
Empurrou-me para a cama, agarrou-me o caralho e masturbou-o docemente. Apenas via a sua silhueta ténue devido à pouquíssima luz que entrava pelo estore, vinda da rua.
Ao fim de pouco tempo, ela notava a minha ansiedade. A sua mão mimava-me de tal forma que eu tinha de me controlar e relaxar para não ter um orgasmo ali, assim.
Ela baixou-se e senti a sua boca a engolir-me, deglutir-me, sentia a minha glande a deslizar ao longo da sua língua suave e quente que a apertava contra o céu-da-boca enquanto fazia uma sucção suave…
…Paraíso absoluto.
Já nem me sentia no meu corpo. Sentia-me…
…Etéreo.
E ela, de repente, sobe para cima de mim e de uma vez só empala-se em mim. Aquela cona doce que tantas vezes precisava de ser mimada para me receber, desliza apertada, recendo-me por inteiro, fazendo-a arquear as costas e soltar um pequeno grito e contrair-se, apertando-me à medida que unimos os nossos púbis.
Deixa-se estar quieta um momento, como a recompor-se, e depois levanta-se, fazendo-me sentir a sua cona a deslizar por mim, como que a chupar-me, e enterra-se novamente. Eu acompanho o seu movimento e repetimos, mais rápido, forte…
…ela grita…
…a intensidade sobe…
…eu sinto-a de uma forma impressionante…
Atiro-me contra ela com uma força que é contraposta pela maneira como ela se atira contra mim, como se quiséssemos fundir-nos um no outro.
Ela grita, a cada investida, contrai-se…
De uma maneira completamente descontrolada, chegamos ao orgasmo mais intenso que já tivera, entre gritos descontrolados, e colapsamos em seguida exaustos, nos braços um do outro.
Dei por mim com a luz da manhã a entrar no quarto. Levantei-me, deixando-a a dormir, e fui a uma padaria com fabrico próprio que era perto buscar pão fresco.
Fiz-lhe o pequeno-almoço e levei-lho ao quarto.
Ela acordou, levantou-se e foi abrir o estore. Assim que o fez ouviu a vizinha de cima.
-Pois, que esta gente não sabe ser recatada… Uma gritaria daquelas de madrugada, vejam bem…
Ela era uma dama…
…Mas quando descalçava a chinela…
-O que tu querias, velha gaiteira, … - gritava ela pela janela - …era uma foda destas, era o que te fazia falta…


Preliminares

Chego já tarde, ou pelo menos um pouco mais do que esperava, pelo que penso que te vou encontrar deitada e provavelmente a dormir.
Meto a chave à porta e abro-a com cuidado, tal como a fecho, evitando o barulho.
Vejo um brilho estranho que vem do quarto, indício de que a televisão estar ligada, mas ao mesmo tempo bruxuleante. 
Abro a porta!
Estás de pé, à minha espera, vestida para matar!
Botas de cano alto, acima do joelho, meias de rede, mini-saia, uma camisa atada em vez de abotoada e a ficar aberta revelando um soutien que me faz pensar de imediato na peça de roupa que se esconde sob a saia…
…ou não!
Na televisão passa um filme de Andrew Blake, cheio de mulheres lindas em cenas soft-porn, e o bruxuleante da luz vem de varias velas perfumadas que dão um ambiente quase místico ao quarto.
-Gostas? – Perguntas com o sobrolho levantado, e um sorriso de menina que comete uma travessura.
A pergunta nem merece resposta.
Vou direito a ti para te agarrar, te beijar, mas paras-me.
-Olha que estragas a maquilhagem…
Paro atónito. Dás-me um beijo, mais um toque que um beijo, leve nos lábios e agarras-me pela mão e puxas-me para o pé da cadeira do escritório, que está aqui.
Fico confuso quando me começas a despir. A t-shirt, os sapatos, as meias, as calças, os boxers…
Fazes-me sentar na cadeira. Depois atas-me os pulsos aos braços, da cadeira certificas-te de que estou bem atado. Depois atas-me um tornozelo ao outro, por traz da coluna da cadeira. Certificas-te novamente que não escapo. Deixas-me sentado, amarrado à cadeira, começas a provocar-me.
Inclinas-te para frente, mostrando-me o teu peito lindo dentro do soutien magnifico, dás uma volta, insinuas-te…
-Achas que estou bem?
Eu salivo.
-Ou não? Se calhar nem gostaste...
-Adorei! – disse finalmente – Mesmo. Estás tão "sexy"…
-Sinto-me marota…
-Nota-se!
Passas a mão pelo meu peito, inclinada para a frente, desces até encontrares o meu caralho, agarras, masturbas…
-Realmente, pareces contente por me ver assim. E mal sabes tu…
-O quê?
-Vê o que achas…
E começas a subir a saia, pedacinho a pedacinho, até me revelares a tua coninha nua, perfeitamente rapada, sem um único pelo, e desfazendo a minha duvida acerca da suposta peça de vestuário.
A saliva cresce ainda mais na minha boca, e se não estivesse amarrado já me tinha chegado à frente para te lamber. Tu percebes, ris-te, pões-te ao lado da cadeira, levantas uma das penas que pousas em cima do me braço, facilitando o acesso a essa cona linda, chegas-te próximo, eu chego-te, e toco-te com a minha língua, e lambo-te e provo-te, tu arqueias as costas, soltas um gemido, agarras-me o cabelo, puxas-me para ti e depois afastas-me de ti, ris-te novamente, pões a perna no chão, recompões-te.
-Estou saborosa, amor?
-Tanto…
Quero continuar a lamber-te, mas não tenho hipótese. Tu levas a mão à boca, lambes a palma da mão, leva-la ao meu caralho, masturbas um pouco, e lambes a minha língua e os meus lábios sem me tocares com os teus…
…não podes estragar a maquilhagem.
O teu telemóvel dá um toque de mensagem. Largas-me de imediato e vês o telemóvel. Respondes à mensagem e sais do quarto, deixando-me com o filme do Andrew Blake à luz de velas.
Passados uns minutos ouço-te a abrir a porta da rua, e depois a fechar. Ouço dois conjuntos de passos a vir para o quarto e fico sem saber o que fazer, mas rapidamente me resigno. Não posso fazer nada.
Uma mulher que eu nunca vi entra à tua frente
Sapatos altos, pernas longas, um vestido leve, revelador o quanto baste, cabelo longo, maquilhada com classe. Tem postura.
-Esta é a M. – Apresentas-ma.
-Olá M. – digo-lhe eu, obviamente constrangido.
-Olá. – responde ela com uma voz suave, não ligando ao meu constrangimento, e cumprimentando-me com um quase-não-toque dos seus lábios nos meus.
-Gostas da M.? – perguntas-me.
Não respondo. Não sei o que hei-de responder.
-Claro que gostas. O que é que há para não gostar? É um mulherão, não é? – dizes tu passando-lhe a mão pelo lado. – E olha para estes lábios… - e tocas-lhes com um dedo, olha-la nos olhos - …são apetecíveis… e inclinas-te para ela e beijas os lábios dela, com suavidade, e ela responde e abre os lábios num convite à tua língua que se atira à dela, e abraçam-se, e envolvem-se, e o beijo cresce intensidade.
O meu corpo reage, e quase sinto a pulsação no meu caralho, mas nem dou por isso, de tão absorto que estou na cena.
 Ela desliza a mão pelas tuas costas, apalpa-te o rabo, sobe a mão até aos teus seios, a tua mão dança com a dela, a dela vai à tua camisa, desata-a, abre-a, sobe com a mão ao teu pescoço, desce-a, fazendo-a deslizar por dentro da alça do teu soutien e procura o teu mamilo com a ponta dos dedos, fazendo-te soltar um gemido.
Quebras o beijo para ficares com os olhos colados nos dela e lhe desapertares o vestido que lhe fazes em seguida deslizar até ao chão. Ela graciosamente sai de dentro dele. O corpo dela é…
…glorioso!
Quase tanto como o teu…!
Ela despe-te a camisa, desaperta-te a saia, fá-la descer, olha para ti, nua, sorri de antecipação, leva dois dedos à boca, insaliva-os, leva-os à tua cona, toca-te…
…tu gemes…
-Estás molhadinha. – diz-te ela.
Tu revolves os olhos, puxa-la para ti, colas a boca à dela, quebras o beijo, empurra-la suavemente para a cama, e assim que a apanhas deitada tiras-lhe, pacientemente, o fio dental revelando–lhe a cona, bem de frente para os meus olhos.
Tocas-lhe com a curiosidade de quem toca pela primeira vez. Deitas-te ao lado dela e beija-la enquanto a masturbas. Ela retribui-te o favor. Vejo-vos às duas a subir a intensidade do toque, a intensidade dos gemidos, a caminharem devagar, ambas, até um  orgasmo que eu vejo maravilhoso, uma explosão de prazer, um romper de muralhas, uma descoberta para ti. Quebras o beijo para me olhar, como que para me assegurares de que estas aqui para mim…
…como se eu não o soubesse.
Ela ergue-se e deita-se ao contrário na cama levando a cabeça ao meio das tuas pernas, começa a lamber-te. Tu sentes e contrais-te um pouco, mas soltas-te, abandonas-te à sensação, desfrutas. Tocas a cona dela com a tua mão, masturba-la, olhas com a dúvida.
Mas a curiosidade vence, tiras a mão, aproximas a boca, das um pequeno toque de língua, como que para provar um sabor novo, e depois avanças, e lambes e começas a chupá-la e a lambê-la…
…e vens-te na boca dela, e intensificas, degustas, comes ansiosa.
Queres provar o leite, queres que ela to dê e por sua vez estás já preparada para lho dar de novo.
O orgasmo chega para as duas. Vens-te copiosamente, num orgasmo onde te falta o ar, agarrada a ela, a comê-la…
E depois acalmam as duas.
Levantam-se, ela recolhe as roupas e saem. Logo em seguida, com um curto intervalo de tempo ouço a porta a abrir e a fechar em seguida.
Voltas ao quarto. Vens direita a mim e beijas-me com o sabor da outra cona na tua boca.
Desamarras-me os pés, e depois as mãos, enquanto olhas para a minha excitação com ar de miúda gulosa.
Levantas-te e puxas-me para a cama.
-Que é que achaste dos preliminares?