Ali estava eu, sentado na laje da janela apenas vestido com uns boxers, enquanto deixava que o fresco que vinha da rua quebrasse o calor que o meu corpo sentia e o que havia no quarto naquela noite quente de verão. Este era banhado pela luz branca proveniente da iluminação de rua, sendo que tudo eram apenas sombras com um ar surreal, quase fantasmagórico que ganhavam alguma definição e uma tonalidade avermelhada de cada vez que eu puxava uma passa do meu cigarro.
A realidade era, ali, sem qualquer duvida, muito mais estranha que a ficção. Embora quisesse muito estar ali e o frio da pedra soubesse muito bem contra a minha pele, a verdade é que sentia em mim um turbilhão tal que me era difícil definir-me naquele momento.
Tudo começara apenas dois dias atrás com uma simples frase, “Isto anda tão mal que um dia destes…”, dita com desplante, em tom jovial e por mera brincadeira.
Tivera uma continuação por uns breves segundo ontem, com uma simples pergunta e resposta, “lembras-te do que ela disse?”, “sim”, e pronto, e ficou por ali.
Não havia sequer um indício.
Há quatro horas atrás, jantávamos os dois num restaurante bem perto da Sé de Braga. Comemos um belo bacalhau à Bracarense bem regado com um vinho verde que mais parecia espumante, retirado directamente da pipa. Já tínhamos acabado a refeição e fazíamos agora questão de acabar o vinho delicioso. Olhava pelo canto dos olhos e via o quanto eu era naquele momento invejado e até, por mais motivo nenhum que não fosse estar com ela, desejado.
Não deixa de ser curioso o facto de que um tipo qualquer, absolutamente banal, como eu, se estiver acompanhado por uma mulher como ela chama a atenção de todas as mulheres que estão em volta. E dos homens, se bem que em perspectivas diferentes. Eles pensam “o que é que aquele estafermo tem que eu não tenha? Bem, deve estar carregado de papel” e elas pensam “bem, das duas uma, ou o gajo está carregado de papel ou então deve ser uma grande queca…”. Esclareço desde já que em relação ao “papel” a coisa está escassa e em relação ao resto não me tenho assim em tão grande conta.
Mas voltando à questão, ali estávamos nós e eu, como sempre, sentia-me pequeno perante a presença dela. E eis que o telemóvel dela deu um toque de mensagem. Ela apressou-se a ver quem era. Eu fingi desinteresse.
-Era a Guida, a perguntar se nos estamos a divertir.
-Aparentemente até parece que sim…
-Aparentemente… Olha, não era giro se eu lhe ligasse?
-Porquê? – Perguntei eu enquanto via de repente uma noite num bar qualquer com musica provavelmente demasiado alta para se conversar e copos a mais enquanto as hipóteses de mais uma boa noite de sexo ficavam mais remotas.
-Não sejas assim… - dizia ela enquanto ligava e me dava a certeza de que a minha opinião não seria ali tida nem achada.
Resignei-me a contragosto e limitei-me a ser um espectador atento de meia conversa.
-Olá linda. Vi agora a tua mensagem.
-…
-Sim estamos bem, estamos aqui em Braga. Olha, não queres vir aqui ter connosco?
-…
-Ora, não é assim tão longe…
-Ah! Pois, tens de ir trabalhar…
Sorri. Talvez a noite ainda tivesse remédio.
-…mas olha, sais a que horas?
-…
-Então, amanhã é sábado, nem vais trabalhar de manhã, e nós não temos horários. Podes cá vir. Isto também são trinta minutos dai para aqui…
Ela falava à Guida com uma voz doce, e eu sabia o quanto aquela voz doce era capaz de ser convincente.
-Vá lá. Vem lá. Sempre podemos divertir-nos um bocado…
-…
-Então sempre vens?
E pronto. Tinha a noite estragada.
Ela lá deu as indicações de onde estávamos à Guida e acabou o telefonema. Depois olhou para mim.
-Não faças essa cara.
-Não tenho outra…
-Tens, tens. Aquela em que sorris.
Francamente neste momento não me apetecia. Gostava de estar com ela, na sua companhia, gostava de a desfrutar. Não me apetecia ir para um bar ou uma discoteca qualquer ouvir barulho a mais e ver um bando de gajos a darem em cima dela e provavelmente da Guida também. Não é que eu sentisse ciúmes. Se os sentisse tinha que andar permanentemente com um taco de basebol na mão, mas lá que chegava a um ponto que chateava, lá isso era verdade.
Aliás, neste momento aquilo que me apetecia mesmo era tomar um bom duche para tentar arrefecer um pouco e tirar o suor salgado de cima que começava a solidificar em cima da minha pele, ir dormir e elas que fossem para onde quisessem. Pelo menos sempre teria paz.
Pagamos a despesa.
-Vamos andando? – Perguntou-me ela.
-Mas afinal a que horas é que ela vem?
-Só cá deve estar perto da meia-noite. Tem aquele bar onde trabalha à noite para fechar.
Perfeito, pensei eu de mim para comigo. Como se já não bastasse ainda teria pelo menos mais duas horas de seca até ela chegar.
-E vamos para onde, então?
-Vamos para a pensão que ela vai lá ter connosco.
Não falamos muito mais no caminho, até porque o caminho não era, de todo, longo e também porque eu estava de alguma forma chateado. Chegados à pensão fui tomar o tal duche que tanto me apetecia e, uma vez que ainda faltava tanto tempo para ela chegar, deixei-me ficar todo nu a relaxar um pouco em cima da cama.
Depois de eu ter ido ela aproveitou e foi também. Acabei por me levantar para me chegar ao fresco que vinha da janela junto com o anoitecer enquanto fumava e aproveitava para ir queimando neurónios com os programas imbecis que passavam na televisão. Para mim a noite estava feita.
Ela saiu da casa de banho nua e fresca ainda com o cabelo molhado. Apeteceu-me tê-la logo ali. Dei mais uma passa num cigarro e pensei “bahhhh!”. Olhei para a rua só para não ter que pensar no quanto ela me apetecia.
Ela notou que me apetecia. Pousou o secador de cabelo que estava prestes a por a funcionar, veio ter comigo, fazendo com que fosse impossível ignorá-la. Agarrou o meu membro sem aviso, começou a massajá-lo fazendo-o crescer ainda mais e só então me beijou.
-O pequenino queria mimo, é?
Nem lhe respondi. Aposto que os meus olhos a queimavam naquele momento.
-O pequenino vai ter que esperar até mais logo… - disse enquanto me largava e se afastava. Era tão mau quando ela me fazia isto…
Foi secar o cabelo. Não o precisaria de fazer com o calor que estava, mas ela gostava de ter o cabelo escorrido, e ele encaracolava-se se não fosse o secador. Eu achava que lhe ficava bem o cabelo encaracolado, mas eu era suspeito. Achava que tudo lhe ficava bem.
Já eu abandonei a janela e estiquei-me na cama como estava tentando parecer o mais possível alheio ao corpo dela, tarefa que se me afigurava quase impossível. Depois ela vestiu-se e deitou-se ao meu lado sem se encostar a mim. Ainda teríamos que esperar mais de uma hora pela Guida. De vês em quando a sua mão fazia excursões pelo meu corpo e, invariavelmente, encontrava o meu membro que massajava de forma deliciosa até à erecção. E depois, quando me sentia já bem grande, abandonava-me e ria-se...
Eu já estava algo chateado com a situação e com ela a fazer-me isto, é seguro dizer que começava a ficar possesso. Ela sabia-o e isso fazia com que se risse ainda mais.
Era quase meia-noite quando o telefone dela tocou. Ela viu quem era.
-Veste-te que ela já chegou. – e atendeu.
Eu vesti-me em menos de nada, o que não era complicado. Vesti uns boxers, umas calças, atirei um t-shirt para cima do corpo e calcei-me. Enquanto isso elas falavam.
-Mas sobe… - insistia ela.
-…
-Áh, pois é, a porta está fechada a esta hora, até nos deram a chave e tudo, para se viéssemos mais tarde. Mas espera que eu vou-te abrir a porta.
E com isto saiu do quarto deixando a porta entreaberta enquanto eu acabava de me arrumar. Voltou pouco depois em amena cavaqueira com a Guida.
-Mas esta pensão tem uns quartos bem porreiros… - Disse enquanto me cumprimentava.
-Por acaso são bem fixes, já viste?
-Mesmo fixes… Mas então o que é que vamos fazer?
-Sei lá! Vamos dar uma volta por aí e beber um copo.
-Tá bem…
E eu lá me preparava a contragosto para sair.
-Queres um vinho? – Perguntou ela à Guida – Temos aqui um tinto delicioso… É que praticamente ainda não saímos do quarto. Até temos comido aqui.
-Pode ser.
Ela foi ao mini bar buscar copos e serviu um para cada. Fizemos um brinde e beberricamos um pouco. Fomos fazendo conversa de circunstância, o “então, o transito para cá?”, “Demoraste muito?”, aquelas coisas banais e comuns.
Ela propôs outro brinde e, quando juntamos os copos, sem eu me aperceber muito bem como, ela entornou vinho no vestido da Guida.
-Oh, Guida, desculpa...
-Deixa tar, não faz mal.
-Mas faz, é vinho, vai deixar mancha. Temos que tentar limpar isso já…
-Não, deixa estar.
-E vais para a rua assim? Espera, anda cá. – e com isto arrastou a Guida para a casa de banho.
Fiquei ali um bocado, sozinho, com a companhia apenas da televisão enquanto as ouvia na casa de banho.
-Assim não dá jeito nenhum, espera. Tira isso e deixa cá ver.
-Então vou tirar, assim, o vestido?
-E então? Tens ai alguma coisa que não tenha visto?
Riam-se as duas e discutiam acerca da melhor forma de limpar a nódoa. Ao fim de algum tempo deixei de lhes prestar atenção. Ela veio até ao pé de mim, sentado na cama, para vir buscar o secador e voltou para a casa de banho. E eu ali continuei. O som do secador acabou por abafar as vozes delas. Deixei-me estar completamente alheio. Ao fim de um bocado o secador calou-se. E quando dei conta disso ele já se devia ter calado há um bocado e continuava sem as ouvir a falar. A curiosidade despertou…
…e depois venceu. Levantei-me e fui até à entrada da casa de banho. A porta estava aberta. Olhei, e apenas num relance vi a Guida apenas em roupa interior, de pé abraçada a ela, e ambas se beijavam com uma sofreguidão que me deixou atordoado.
Afastei-me da porta, sentindo que tinha invadido um espaço. Voltei para a cama e voltei a sentar-me, sem saber muito bem como reagir. E na incerteza deixei-me ficar quieto, tentei limpar a imagem da minha mente, pensando que seria algo com que teria de lidar mais tarde e fiquei a ver televisão. E esperei algo que me pareceu uma autêntica eternidade. Esperei tanto tempo que me parecia que já esperava há mais tempo que aquele que existia no universo, e era, sem dúvida, uma espera angustiante.
Finalmente saíram a duas da casa de banho, sem dizerem uma palavra. Ela veio direita a mim e, sem cerimónia, descalçou-me, despiu-me a t-shirt e as calças e afastou-se. Agarrou na mão da Guida e, suavemente, arrastou-a para a cama.
Ajoelharam-se as duas e começaram a beijar-se e a deixar as mãos percorrer o corpo uma da outra, encostando-se, roçando-se sentindo-se e ignorando-me por completo. Ela, mais afoita, ia desbravando algum desconforto que a Guida sentia, não só por estar numa situação completamente nova, mas também e sobretudo, não duvido, pela minha presença.
A situação para mim raiava agora o insuportável. Acabei por me levantar e me ir sentar na janela, assolado por demónios aos quais não queria dar ouvidos. Acendi o cigarro. Elas apagaram a luz e o quarto por momentos mergulhou na penumbra da qual foi emergindo aos poucos à medida que os meus olhos se habituavam à luz.
Podia distinguir as suas formas enquanto se despiam e acariciavam e beijavam o corpo uma da outra. A Guida foi empurrada para a cama e vi-a a ela a beijar-lhe o corpo todo, partindo dos seus lábios e não se detendo em nada até chegar aos pés. Depois subiu. Todo este trajecto demorou imenso tempo. Acendi outro cigarro enquanto as olhava.
Apenas ouvia os gemidos de prazer da Guida enquanto ela lhe lambia o sexo a crescerem numa escada inevitável até ao orgasmo, e vi ela proporcionar-lhe um prazer tão intenso com jamais vira uma mulher atingir. Vi os orgasmos da Guida sucederem-se deixando-a completamente louca e arrasada. Vi o meu orgulho e a minha arrogância de macho serem atirados para o chão e a rastejarem perante tal manifestação e senti-me pequeno, incapaz de igualar algo assim. Vi quando a Guida, Louca de prazer, a empurrou a ela para a cama e a levou também a um orgasmo fabuloso, lambendo-a e penetrando-a com os dedos. E vi a maneira como ela, quando o orgasmo chegou se virou finalmente para mim, com os olhos carregados de tesão e desejo, dando-me finalmente atenção, e disse, apenas com os lábios, sem emitir um som “Amo-te”.
Foi esse o momento da realização de que tudo aquilo era para mim. O meu orgulho estava destruído, a minha arrogância também, mas o meu desejo estava intacto e o mundo ganhou uma cor, um cheiro, uma intensidade diferente de tudo aquilo que eu tinha presenciado até então. E no entanto, o mundo, sem o ser, era ainda o mesmo.
Acabei por me juntar a elas e passamos o resto da noite a amarmo-nos.
E eu renasci…
A realidade era, ali, sem qualquer duvida, muito mais estranha que a ficção. Embora quisesse muito estar ali e o frio da pedra soubesse muito bem contra a minha pele, a verdade é que sentia em mim um turbilhão tal que me era difícil definir-me naquele momento.
Tudo começara apenas dois dias atrás com uma simples frase, “Isto anda tão mal que um dia destes…”, dita com desplante, em tom jovial e por mera brincadeira.
Tivera uma continuação por uns breves segundo ontem, com uma simples pergunta e resposta, “lembras-te do que ela disse?”, “sim”, e pronto, e ficou por ali.
Não havia sequer um indício.
Há quatro horas atrás, jantávamos os dois num restaurante bem perto da Sé de Braga. Comemos um belo bacalhau à Bracarense bem regado com um vinho verde que mais parecia espumante, retirado directamente da pipa. Já tínhamos acabado a refeição e fazíamos agora questão de acabar o vinho delicioso. Olhava pelo canto dos olhos e via o quanto eu era naquele momento invejado e até, por mais motivo nenhum que não fosse estar com ela, desejado.
Não deixa de ser curioso o facto de que um tipo qualquer, absolutamente banal, como eu, se estiver acompanhado por uma mulher como ela chama a atenção de todas as mulheres que estão em volta. E dos homens, se bem que em perspectivas diferentes. Eles pensam “o que é que aquele estafermo tem que eu não tenha? Bem, deve estar carregado de papel” e elas pensam “bem, das duas uma, ou o gajo está carregado de papel ou então deve ser uma grande queca…”. Esclareço desde já que em relação ao “papel” a coisa está escassa e em relação ao resto não me tenho assim em tão grande conta.
Mas voltando à questão, ali estávamos nós e eu, como sempre, sentia-me pequeno perante a presença dela. E eis que o telemóvel dela deu um toque de mensagem. Ela apressou-se a ver quem era. Eu fingi desinteresse.
-Era a Guida, a perguntar se nos estamos a divertir.
-Aparentemente até parece que sim…
-Aparentemente… Olha, não era giro se eu lhe ligasse?
-Porquê? – Perguntei eu enquanto via de repente uma noite num bar qualquer com musica provavelmente demasiado alta para se conversar e copos a mais enquanto as hipóteses de mais uma boa noite de sexo ficavam mais remotas.
-Não sejas assim… - dizia ela enquanto ligava e me dava a certeza de que a minha opinião não seria ali tida nem achada.
Resignei-me a contragosto e limitei-me a ser um espectador atento de meia conversa.
-Olá linda. Vi agora a tua mensagem.
-…
-Sim estamos bem, estamos aqui em Braga. Olha, não queres vir aqui ter connosco?
-…
-Ora, não é assim tão longe…
-Ah! Pois, tens de ir trabalhar…
Sorri. Talvez a noite ainda tivesse remédio.
-…mas olha, sais a que horas?
-…
-Então, amanhã é sábado, nem vais trabalhar de manhã, e nós não temos horários. Podes cá vir. Isto também são trinta minutos dai para aqui…
Ela falava à Guida com uma voz doce, e eu sabia o quanto aquela voz doce era capaz de ser convincente.
-Vá lá. Vem lá. Sempre podemos divertir-nos um bocado…
-…
-Então sempre vens?
E pronto. Tinha a noite estragada.
Ela lá deu as indicações de onde estávamos à Guida e acabou o telefonema. Depois olhou para mim.
-Não faças essa cara.
-Não tenho outra…
-Tens, tens. Aquela em que sorris.
Francamente neste momento não me apetecia. Gostava de estar com ela, na sua companhia, gostava de a desfrutar. Não me apetecia ir para um bar ou uma discoteca qualquer ouvir barulho a mais e ver um bando de gajos a darem em cima dela e provavelmente da Guida também. Não é que eu sentisse ciúmes. Se os sentisse tinha que andar permanentemente com um taco de basebol na mão, mas lá que chegava a um ponto que chateava, lá isso era verdade.
Aliás, neste momento aquilo que me apetecia mesmo era tomar um bom duche para tentar arrefecer um pouco e tirar o suor salgado de cima que começava a solidificar em cima da minha pele, ir dormir e elas que fossem para onde quisessem. Pelo menos sempre teria paz.
Pagamos a despesa.
-Vamos andando? – Perguntou-me ela.
-Mas afinal a que horas é que ela vem?
-Só cá deve estar perto da meia-noite. Tem aquele bar onde trabalha à noite para fechar.
Perfeito, pensei eu de mim para comigo. Como se já não bastasse ainda teria pelo menos mais duas horas de seca até ela chegar.
-E vamos para onde, então?
-Vamos para a pensão que ela vai lá ter connosco.
Não falamos muito mais no caminho, até porque o caminho não era, de todo, longo e também porque eu estava de alguma forma chateado. Chegados à pensão fui tomar o tal duche que tanto me apetecia e, uma vez que ainda faltava tanto tempo para ela chegar, deixei-me ficar todo nu a relaxar um pouco em cima da cama.
Depois de eu ter ido ela aproveitou e foi também. Acabei por me levantar para me chegar ao fresco que vinha da janela junto com o anoitecer enquanto fumava e aproveitava para ir queimando neurónios com os programas imbecis que passavam na televisão. Para mim a noite estava feita.
Ela saiu da casa de banho nua e fresca ainda com o cabelo molhado. Apeteceu-me tê-la logo ali. Dei mais uma passa num cigarro e pensei “bahhhh!”. Olhei para a rua só para não ter que pensar no quanto ela me apetecia.
Ela notou que me apetecia. Pousou o secador de cabelo que estava prestes a por a funcionar, veio ter comigo, fazendo com que fosse impossível ignorá-la. Agarrou o meu membro sem aviso, começou a massajá-lo fazendo-o crescer ainda mais e só então me beijou.
-O pequenino queria mimo, é?
Nem lhe respondi. Aposto que os meus olhos a queimavam naquele momento.
-O pequenino vai ter que esperar até mais logo… - disse enquanto me largava e se afastava. Era tão mau quando ela me fazia isto…
Foi secar o cabelo. Não o precisaria de fazer com o calor que estava, mas ela gostava de ter o cabelo escorrido, e ele encaracolava-se se não fosse o secador. Eu achava que lhe ficava bem o cabelo encaracolado, mas eu era suspeito. Achava que tudo lhe ficava bem.
Já eu abandonei a janela e estiquei-me na cama como estava tentando parecer o mais possível alheio ao corpo dela, tarefa que se me afigurava quase impossível. Depois ela vestiu-se e deitou-se ao meu lado sem se encostar a mim. Ainda teríamos que esperar mais de uma hora pela Guida. De vês em quando a sua mão fazia excursões pelo meu corpo e, invariavelmente, encontrava o meu membro que massajava de forma deliciosa até à erecção. E depois, quando me sentia já bem grande, abandonava-me e ria-se...
Eu já estava algo chateado com a situação e com ela a fazer-me isto, é seguro dizer que começava a ficar possesso. Ela sabia-o e isso fazia com que se risse ainda mais.
Era quase meia-noite quando o telefone dela tocou. Ela viu quem era.
-Veste-te que ela já chegou. – e atendeu.
Eu vesti-me em menos de nada, o que não era complicado. Vesti uns boxers, umas calças, atirei um t-shirt para cima do corpo e calcei-me. Enquanto isso elas falavam.
-Mas sobe… - insistia ela.
-…
-Áh, pois é, a porta está fechada a esta hora, até nos deram a chave e tudo, para se viéssemos mais tarde. Mas espera que eu vou-te abrir a porta.
E com isto saiu do quarto deixando a porta entreaberta enquanto eu acabava de me arrumar. Voltou pouco depois em amena cavaqueira com a Guida.
-Mas esta pensão tem uns quartos bem porreiros… - Disse enquanto me cumprimentava.
-Por acaso são bem fixes, já viste?
-Mesmo fixes… Mas então o que é que vamos fazer?
-Sei lá! Vamos dar uma volta por aí e beber um copo.
-Tá bem…
E eu lá me preparava a contragosto para sair.
-Queres um vinho? – Perguntou ela à Guida – Temos aqui um tinto delicioso… É que praticamente ainda não saímos do quarto. Até temos comido aqui.
-Pode ser.
Ela foi ao mini bar buscar copos e serviu um para cada. Fizemos um brinde e beberricamos um pouco. Fomos fazendo conversa de circunstância, o “então, o transito para cá?”, “Demoraste muito?”, aquelas coisas banais e comuns.
Ela propôs outro brinde e, quando juntamos os copos, sem eu me aperceber muito bem como, ela entornou vinho no vestido da Guida.
-Oh, Guida, desculpa...
-Deixa tar, não faz mal.
-Mas faz, é vinho, vai deixar mancha. Temos que tentar limpar isso já…
-Não, deixa estar.
-E vais para a rua assim? Espera, anda cá. – e com isto arrastou a Guida para a casa de banho.
Fiquei ali um bocado, sozinho, com a companhia apenas da televisão enquanto as ouvia na casa de banho.
-Assim não dá jeito nenhum, espera. Tira isso e deixa cá ver.
-Então vou tirar, assim, o vestido?
-E então? Tens ai alguma coisa que não tenha visto?
Riam-se as duas e discutiam acerca da melhor forma de limpar a nódoa. Ao fim de algum tempo deixei de lhes prestar atenção. Ela veio até ao pé de mim, sentado na cama, para vir buscar o secador e voltou para a casa de banho. E eu ali continuei. O som do secador acabou por abafar as vozes delas. Deixei-me estar completamente alheio. Ao fim de um bocado o secador calou-se. E quando dei conta disso ele já se devia ter calado há um bocado e continuava sem as ouvir a falar. A curiosidade despertou…
…e depois venceu. Levantei-me e fui até à entrada da casa de banho. A porta estava aberta. Olhei, e apenas num relance vi a Guida apenas em roupa interior, de pé abraçada a ela, e ambas se beijavam com uma sofreguidão que me deixou atordoado.
Afastei-me da porta, sentindo que tinha invadido um espaço. Voltei para a cama e voltei a sentar-me, sem saber muito bem como reagir. E na incerteza deixei-me ficar quieto, tentei limpar a imagem da minha mente, pensando que seria algo com que teria de lidar mais tarde e fiquei a ver televisão. E esperei algo que me pareceu uma autêntica eternidade. Esperei tanto tempo que me parecia que já esperava há mais tempo que aquele que existia no universo, e era, sem dúvida, uma espera angustiante.
Finalmente saíram a duas da casa de banho, sem dizerem uma palavra. Ela veio direita a mim e, sem cerimónia, descalçou-me, despiu-me a t-shirt e as calças e afastou-se. Agarrou na mão da Guida e, suavemente, arrastou-a para a cama.
Ajoelharam-se as duas e começaram a beijar-se e a deixar as mãos percorrer o corpo uma da outra, encostando-se, roçando-se sentindo-se e ignorando-me por completo. Ela, mais afoita, ia desbravando algum desconforto que a Guida sentia, não só por estar numa situação completamente nova, mas também e sobretudo, não duvido, pela minha presença.
A situação para mim raiava agora o insuportável. Acabei por me levantar e me ir sentar na janela, assolado por demónios aos quais não queria dar ouvidos. Acendi o cigarro. Elas apagaram a luz e o quarto por momentos mergulhou na penumbra da qual foi emergindo aos poucos à medida que os meus olhos se habituavam à luz.
Podia distinguir as suas formas enquanto se despiam e acariciavam e beijavam o corpo uma da outra. A Guida foi empurrada para a cama e vi-a a ela a beijar-lhe o corpo todo, partindo dos seus lábios e não se detendo em nada até chegar aos pés. Depois subiu. Todo este trajecto demorou imenso tempo. Acendi outro cigarro enquanto as olhava.
Apenas ouvia os gemidos de prazer da Guida enquanto ela lhe lambia o sexo a crescerem numa escada inevitável até ao orgasmo, e vi ela proporcionar-lhe um prazer tão intenso com jamais vira uma mulher atingir. Vi os orgasmos da Guida sucederem-se deixando-a completamente louca e arrasada. Vi o meu orgulho e a minha arrogância de macho serem atirados para o chão e a rastejarem perante tal manifestação e senti-me pequeno, incapaz de igualar algo assim. Vi quando a Guida, Louca de prazer, a empurrou a ela para a cama e a levou também a um orgasmo fabuloso, lambendo-a e penetrando-a com os dedos. E vi a maneira como ela, quando o orgasmo chegou se virou finalmente para mim, com os olhos carregados de tesão e desejo, dando-me finalmente atenção, e disse, apenas com os lábios, sem emitir um som “Amo-te”.
Foi esse o momento da realização de que tudo aquilo era para mim. O meu orgulho estava destruído, a minha arrogância também, mas o meu desejo estava intacto e o mundo ganhou uma cor, um cheiro, uma intensidade diferente de tudo aquilo que eu tinha presenciado até então. E no entanto, o mundo, sem o ser, era ainda o mesmo.
Acabei por me juntar a elas e passamos o resto da noite a amarmo-nos.
E eu renasci…
13 comentários:
Um renascer em tons escarlate... contornos luxuriosos.
:)
Um renascer que me abriu os olhos para um mundo que eu intuia, mas do qual não tinha consciência plena.
Foi o dia em que percebi, plenamente, a minha fragilidade, enquanto homem, face ao género feminino...
...e isso mudou tudo...
:)
MUITO INSTIGANTE SEU BLOG E SEUS TEXTOS SÃO DELICIOSAMENTE PASSIONAIS!
ESSE NOME ULISSES TAMBÉM ME SOA MUITO FAMILIAR, DIRIA MESMO, SAFADAMENTE FAMILIAR...
SÃO ÓTIMOS OS SEUS TEXTOS!!! QUERO VIR MAIS VEZES PARA LÊ-LOS COM MAIS CALMA E PODER SORVER E SABOREAR CADA LETRA, CADA PALAVRA COM CALDA DE MEL E CHOCOLATE AO LEITE....
BEIJOS SUCULENTOS DE MUITA LUXÚRIA PRA VC....
Loba
Loba nua,
Obrigado pelo elogio.
Quanto ao nome ulisses ser familiar...
...Bem, é um nome só com 3000 anos, por isso... Mas não creio que os nossos caminhos se tenham cruzado antes.
Serás sempre bem vinda.
A seguitr-te...
:)
A tua escrita revela um pouco disso mesmo...
Poucos têm essa percepção e infimos mesmo, essa constatação.
:)
Libertya,
Obrigado por (mias um) elogio.
Vou ali buscar uma toalha para limpar a baba...
:)
A César o que é de César...
:)
Acho que vou deixar de comentar os teus posts, pois corro o risco de me tornar um tanto ao quanto repetitiva com os elogios.
Margarida,
Podes sempre falar de outras coisas, como o PEC, os aumentos de impostos, os preços da gasolina...
Obrigado, mesmo!
:)
Aí perdia o interesse da coisa...
Sim, mas pelo menos dirias qualquer coisa...
...eu depois subentendia o resto;)
:)
...qualquer adjectivo fica muito aquém da enormidade dos sentimentos e das emoções que empregas aqui, neste teu fabuloso texto...o que dizer?
Gosto mesmo muito de te ler!
Beijo meu
Carla,
Só posso agradecer, mesmo.
:)
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