Ménage II

“Oh puta de sorte…” pensei. “Não se podia ter atrasado mais meia hora, caralho…”
Sentei-me rapidamente ao fundo da cama e arrumei-me da melhor forma possível enquanto ela se limitou a cobrir-se com o robe.
O ar, sereno como sempre, não dava o mínimo indicio de que segundos antes estava ser ser fodida por mim, o melhor que eu sabia e podia. Tirou um cigarro do maço que tinha deixado em cima da mesa-de-cabeceira e acendeu-o quando a minha companheira entrava no quarto.
-Só estão vocês os dois? – Perguntou ela com um olhar estranho, meio desconfiado.
-Só. – respondi eu. – o resto do pessoal cortou-se…
-Yá, também só consegui chegar a esta hora. Caraças, pá, que noite estúpida.
-Então?
-Houve para lá porrada e meteu policia e tudo…
-Mas está tudo bem contigo?
-Está. Só estou chateada por ter saído de lá tão tarde. E vocês?
-Olha, bebemos, fumamos, vimos filmes, jogamos à copa…
-Versão “strip” pelos vistos…
-Ya…
Nem era preciso camuflar ou negar. Já não era a primeira vez que jogávamos juntos, éramos adultos e sabia que ela não levava a mal. Se ela tivesse estado tínhamos jogado na mesma.
-E pelos vistos ganhaste tu…
-Foi.
A nossa convidada limitava-se a assistir à nossa conversa enquanto fumava calma e descontraidamente o seu cigarro.
-Bem, - disse a minha companheira – isto hoje foi complicado e estou mesmo a precisar de descansar umas horinhas. – Olhou directamente para mim – Vamos fechar os olhos por um bocadinho?
-Claro, se estas cansada…
E levantei-me da cama para a seguir. Ela saiu e quando eu ia a sair do quarto olhei para o monumento que apagava o cigarro e se espreguiçava na cama. Ela olhou-me com um sorriso, encolheu os ombros e piscou-me o olho.
Esticamo-nos em cima da cama do quarto ao lado. A minha companheira adormeceu quase de imediato. Já eu não conseguia. Parecia sentir humidade daquela cona divinal a envolver o meu caralho. Limitei-me a ficar ali acordado.
Eram uma onze da manhã quando a porta do quarto abriu, ela espreitou e me viu acordado.
-Posso pedir-te um favor? – Perguntou num sussurro.
-Claro.
-Levas-me? Combinei um almoço com o meu pai e odiava faltar…
-Na boa, dá-me só um minuto para me vestir.
Entramos no carro e arrancamos. É mau hábito conduzir com a mão na alavanca da caixa de velocidades. É um mau hábito, eu sei, mas há piores. A mão dela veio depositar-se em cima da minha.
-És um gajo mesmo fixe, sabias?
-Deixa-te de tretas…
-Não, a sério… Porque é que quando conheço gajos como tu já estão apanhados?
Ri-me.
-Não te rias. Adoro mesmo falar contigo, pá.
-E eu contigo. Não és só uma gaja boa. Também és uma gaja boa, o que é muito diferente.
E era verdade. Disse-o com toda a sinceridade.
-És um querido. Eu não digo?
Chegamos a um semáforo vermelho. Parei e conforme o fiz virei-me para ela, as nossas bocas colaram-se e este beijo foi diferente dos outros de há pouco. Não era tanto a tesão que ainda estávamos a sentir um pelo outro, mas também a amizade e o carinho.
Quebramos o beijo forçadamente quando os carros atrás de nós começaram a buzinar.
-Onde é que queres que te deixe?
-Por mim, qualquer sítio nestas vizinhanças está bem…
-Tenho de ir ali ao supermercado. Ficas por ali?
-Pode ser…
Ainda não tinha puxado o travão de mão e já estávamos envolvidos na continuação do que fora interrompido lá atrás.
-Tens noção de que quero mesmo foder-te, independentemente do resto, não tens? – Perguntei-lhe.
-Se tenho. Aliás, senti bem essa noção há pouco.
-Pena que tenhas de almoçar com o teu pai. Podias ter almoçado connosco…
-Mas posso aparecer por lá a meio da tarde. Que é que achas?
-Acho bem.
Saímos do carro. Abraçamo-nos, eu envolvi-a, demos um beijo tórrido no meio da rua, ela passa a mão no meu rabo, apalpando-me descaradamente e diz:
-Então até logo. – Afastando-se em seguida.
O polícia que estava de serviço à porta do supermercado olhou para mim com um sorriso que tinha a legenda “Se soubesses a puta de inveja que tenho de ti…”
Eu devolvi o sorriso com outra legenda: “quem pode, pode. Quem não pode, sai de cima…”

2 comentários:

Laura disse...

Sabes...adoro homens inteligentes, que sabem ter uma boa conversa e que têm acima de tudo um humor como o teu:interessante e desinteressado...consigo fazer-me perceber?
É eu que sou uma gaja estúpidamente complicada...anyway...deixo-te um beijo

Anónimo disse...

Todas as gajas são estraordináriamente complicadas, mesmo as que se esforçam por não o ser...
Obrigado pelo elogio.

Beijo