Há dias indolentes.
Dias longos.
Este foi mais um.
Sabe-me bem entrar em casa e nem sequer acender as luzes, avançar por terreno familiar, ir à cozinha, abrir o frigorífico, tirar uma cerveja gelada, abri-la, ir para a sala…
…acendo a televisão?
Para quê? Para ver repetidamente a mesma coisa?
Além disso está-me a saber bem o quase silêncio, só quebrado pelos barulhos que chegam do mundo lá fora, como uma invasão ao meu. Uma invasão não solicitada nem procurada.
Uma vez que não consigo fugir da cidade resolvo mergulhar nela.
Sento-me na minha varanda, defronte do prédio de fronte, onde as salas estão iluminadas, sempre. Um edifício de escritórios.
A minha cerveja sabe-me bem, gelada, a escorregar pela garganta.
Vejo os carros e as pessoas, poucos, que vão passando na rua a esta hora. A cidade morre à noite, deixando apenas algumas áreas vivas.
Esta não é uma delas.
Ainda assim gosto do brilho quase fantasmagórico que chega a mim e ilumina a minha varanda. Gosto do ritmo e do pulsar desta hora.
No edifício em frente vê-se alguma actividade ocasional. Gente que trabalha até tarde, que negligencia a própria vida em favor de um trabalho que, muitas vezes, nem dá satisfação, limita-se a pagar as contas ao fim do mês…
…e para quê?
Eis que de repente um casal entra na enorme sala de reuniões que está à minha frente. Sentam-se na mesa, pousam papeis, sentam-se próximos, falam…
…de estatísticas?
…de números?
…de quê?
Passam assim um longo tempo.
Por vezes para observarem algo melhor ficam mais juntos e ele passa a mão por cima do ombro dela. Ela nunca perde a concentração.
Ao fim de um bom bocado ela levanta-se e sai da sala. Ele fica sozinho, debruçado sobre os papeis, desperta a gravata, abre os botões de cima da camisa, põe-se mais à vontade.
Ela volta, trazendo dois copos na mão, presumo que com café. Ele abandona os papeis, encosta-se na cadeira descontraído e aceita um copo da mão dela, dá um gole. Ela senta-se na mesa, ao lado dele, beberricando também. Falam os dois. Ele não tira os olhos dela. Mesmo a esta distância nota-se uma atracção óbvia da parte dele.
Ela solta o cabelo e deixa-o cair ao longo das costas.
Ele olha-a. Levanta-se, chega-se a ela, agarra-a por detrás do pescoço, puxa-a para ele e beija-a. Ela não oferece resistência, antes, abandona-se. Abraça-o.
Quebram o beijo e ela tira-lhe a gravata, desaperta-lhe os botões da camisa, desliza pelo corpo dele, não sei se apenas beijando, se mordendo também, não consigo distinguir na distância.
Quando ela pára, ele despe-a, beijando-a ao longo do corpo à medida que faz deslizar a roupa e quando a tem nua senta-a na secretária, e encosta o sei corpo ao dela, beijando-a.
Observo com curiosidade e inveja o prazer daqueles dois estranhos. Projecto-me. Queria estar ali, queria ser ele. A minha cerveja jaz abandonada no parapeito e é-me impossível desviar o olhar.
Ele desliza pelo corpo dela, senta-se à sua frente e enterra a cabeça no meio das suas pernas. Ela apoia os pés nos ombros dele e arqueia as costas para trás. Apoia os cotovelos na secretária e olha-o. Mesmo a esta distância quase sinto a luxúria e o prazer na expressão dela. Sei-a ofegante, vejo os seus espasmos, vejo o orgasmo que ela lhe dá.
Ele levanta-se a seguir. Quere-a, de certeza. Eu quero-a e não estou lá…
Ela deita-se na secretária de barriga para baixo, ele agarra-lhe as ancas e entra nela por detrás, devagar, primeiro, mas com uma subida de intensidade, de desejo, até se sentir à vontade para se soltar.
Vejo o orgasmo dele e vejo-o sentar-se cansado. Repousam os dois um pouco e vejo-os em seguida a vestirem-se novamente, aprumarem-se, a procurar eliminar qualquer indicio do que se tinha ali passado.
Por fim agarram nos papeis e saem da sala.
Eu tenho a boca seca. Acabo de beber a minha cerveja.
Já não me apetece a calma, nem o silêncio. Saio de casa e entrego-me à cidade…
…em busca de algo…
Parte II - Noite
O ronco do motor da minha mota enquanto deslizávamos pelas avenidas sempre me reconfortou e deu uma sensação de liberdade quase inexplicável. Hoje não era diferente.
Acelerei pelas avenidas sem destino, deixando-me levar apenas pelo gozo de conduzir. Num acto de rebeldia tirei o capacete para sentir o vento na cara. Não era meu objectivo chegar a lado nenhum depressa, deslizava apenas tomando atenção ao que me rodeava.
Ocasionalmente pelas ruas observava os locais do costume cheios de profissionais da noite, via os carros a passar devagar e ocasionalmente a parar. Palavras trocadas num ápice com elas por vezes a entrarem, outras não.
Fui andando. A verdade é que o “algo” que procurava era completamente indefinido.
Acabei por estacionar a mota num parque subterrâneo, e sai a pé até um bar. Estive, vi música ao vivo, o bar estava cheio de gente gira, mas deu-me a sensação que todos eles procuravam também algo indefinível, embora não se tenham dado conta disso.
Acabei por sair, como tinha entrado. Voltei ao estacionamento, e cheguei ao pé da mota com a sensação de vazio de não ter encontrado nada do que procurava.
Sentei-me na mota enquanto ganhava coragem para ir para casa. Um carro entra na garagem. Um Porsche. Admirei o carro enquanto este se dirigia com um ronco surdo para um lugar bem perto de mim. O motor desligou-se, a porta abriu e vejo sair de dentro do carro umas pernas longas, bem desenhadas, a que se seguiu todo o resto de um corpo de mulher absolutamente fenomenal. Produzida, mas sem excessos, elegante, esbelta, com o cabelo comprido, liso, loiro a cair-lhe até ao meio das costas e a emoldurar o rosto.
Olhei-a, não como um homem olha para uma mulher, mas sim como alguém admira uma obra de arte. Admirei-a.
Ela olhou para mim e sorriu.
Puxei de um cigarro, acendi-o, dei uma baforada lenta.
Ela fechou a porta do carro e accionou o alarme. Em seguida guardou as chaves e procurou algo na mala que levava a tiracolo. Tirou um cigarro. Aproximou-se. Passos calmos e seguros. Firme.
-Tens lume? – Perguntou-me.
Puxei do isqueiro e acendi-o. Ela aproximou-se a acendeu o cigarro. Puxou também uma baforada longa e lenta. Olhou para mim com olhos penetrantes.
-Obrigada!
-De nada.
Ia para se afastar. Deu dois passos. Parou. Voltou-se para mim.
-Sozinho?
-Sim.
-De partida?
Limitei-me a encolher os ombros.
-Alguém à espera?
-Não. Ninguém.
Ela sorriu.
-Então porquê partir?
-Não encontrei o que procurava…
Ela olhou-me como se tentasse adivinhar os meus pensamentos.
-Se calhar não encontraste ainda.
-Pois, se calhar é isso.
-E o que procuras?
-Não sei…
-Então como é que podes saber se encontraste ou não?
-Acho que sei quando encontrar.
Ela sorriu.
Aproximou-se ainda mais, perigosamente mais, colou o seu corpo ao meu, passou a mão por detrás do meu pescoço, puxou-me para ela, colou os seus lábios aos meus…
…e foi um beijo dado com vontade, desejo, paixão, doçura, tesão, tudo…
…e depois acabou.
Ela afastou-se com o ar de uma miúda que tinha acabado de fazer uma travessura.
-Vem… - disse-me.
Deixei a mota no sítio e segui-a…
Parte III - Menage
Saímos do parque de estacionamento para a rua. Ela seguia à minha frente com passos seguros e nada apressados. Eu ia meio ao lado, meio atrás. Não me dirigiu mais uma palavra. Eu permaneci calado também.
Saímos da avenida e entramos por ruelas típicas desta parte velha da cidade. Acabamos por entrar num edifício antigo com enormes portas em madeira. Subimos a escada, também de madeira, envernizada, coberta com uma carpete vermelha que fazia que o som dos passos fosse surdo, mas ainda assim ressoasse.
Subimos ao segundo andar. A porta estava já entreaberta quando chegamos ao patamar. Ela entrou à minha frente, esperou que eu entrasse e fechou a porta. Desabotoou languidamente o sobretudo comprido que trazia, revelando-me aos poucos algo que eu não desconfiara antes, mas que só confirmei quando ela fez deslizar o sobretudo pelos braços. Por baixo apenas um cinto de ligas que lhe segurava as meias pretas e uma cuecas da mesma cor.
Com um gesto pediu-me o blusão que lhe passei para as mãos e que ela pendurou num cabide junto com o sobretudo delas. Depois arrastou um puf quadrado para o pé de uma porta que se encontrava ainda fechada. Sentou-se a olhar para mim. Fiquei sem saber o que fazer.
Ela abriu a porta.
Encostada à parede uma mulher ruiva, linda, vestida como ela, olhou-a. Depois olhou para mim. Voltou a olhar para ela e sorriu, em sinal de assentimento. Depois fixou o olhar em mim como um convite. Avancei, inseguro mas excitado.
Ela espreguiçou-se contra a parede. Cheguei ao pé dela e ela olhou-me com luxúria e languidez nos olhos. Algo receoso, toquei-lhe, fiz deslizar os meus braços pelos braços dela que se encontravam esticados para cima. Ficámos a centímetros um do outro.
Senti a fragrância dela. Suave. Não resisti e beijei-lhe o pescoço. Ela soltou um gemido de mimo. Continuei a beijá-la, subindo o pescoço, ao longo da face.
Os nossos lábios colaram-se. As minhas mãos deslizaram-lhe pelo corpo, sentindo-a, quente. Procurei o seu sexo. Estava completamente encharcada, pronta.
A loira continuava a observar-nos.
Masturbei-a um bocadinho, por cima do tecido e ela gemeu e contorceu-se, sinal óbvio de que as minhas carícias eram bem recebidas. Depois ficou a olhar bem nos meus olhos enquanto eu a acariciava.
Com um gesto, desprendeu-se de mim, agarrou-me pela mão e levou-me até à cama. Ajoelhá-mo-nos no centro. A loira arrastou o puf para dentro da sala e sentou-se ao fundo da cama.
Beijá-mo-nos com sofreguidão, com desejo. Neste momento ela apetecia-me mesmo. As minhas mãos desciam pelas suas costas e subiam pelo seu lado, acariciando-lhe os seios.
Sem me conseguir conter, baixei-me e suguei-os levemente, lambi-os…
…senti as mãos dela a descer e a sentir-me por cima da roupa, a agarrar-me…
…o meu cinto a ser desapertado…
Fiz a minha mão descer e senti novamente o seu sexo. Meti a mão por dentro das suas cuequinhas para sentir a sentir nos meus dedos. Ela fez o mesmo e agarrou-me, começando a masturbar-me devagar.
Olhei para o lado e a loira, sentada, abria as pernas e afastava o tecido para o lado revelando-me também o seu sexo enquanto se masturbava a ver-nos.
Por fim ela liberta-me, sente-me, revela-me ao olhar da outra que me olha gulosamente.
Baixa-se e, enquanto me masturba, começa por me dar toques de língua na ponta, como que para me saborear. Por vezes dá um ou outro chupão. Deliro com a sensação.
Sem aviso, engole-me inteiro e sinto-me chegar à sua garganta. Fode-me com a boca.
Depois para, quase quando eu estava a ponto de não aguentar mais, fica só a masturbar-me lentamente e olha para a loira.
A loira masturba-se enquanto nos vê. Consigo ver a humidade que escorre do seu sexo, a luxúria nos olhos dela. Fixa o olhar na ruiva. Levanta-se, e chega ao pé de nós. A ruiva segura-me e aponta-me para ela como se fosse um convite. Ela baixa-se e prova-me também. A ruiva acompanha-a e sinto as duas bocas que me envolvem e beijam, ao longo de mim, que me engolem.
A ruiva leva um dedo ao meu ânus e começa a massajá-lo ao de leve enquanto me lambe e chupa com suavidade os testículos e a loira me engole quase por completo.
Não aguento a sensação e sinto o orgasmo a chegar. Elas apercebem-se e sinto as bocas das duas a chupar-me a cabeça, devagar, para me provarem.
Não me consigo conter mais e sinto-as a saborearem-me por completo, e quando o meu orgasmo acaba vejo-as a beijarem-se, com as bocas cheias do meu néctar e a partilharem o sabor.
Afasto-me um pouco e deixo-as ficar, observando-as apenas, sento-me no puf onde a loira tinha estado, e vejo a ruiva empurrar a outra e descer pelo seu corpo, beijando, torturando…
…vejo-a encaixar-se no meio das pernas da outra e torturá-la, devagar, beijando-lhe as virilhas, a parte de dentro das pernas…
…a loira, geme, faz movimentos coma as ancas procurando a boca que se nega a tocar-lhe…
…a ruiva esquiva-se habilmente.
A ruiva estica-se e tira algo de debaixo de uma das almofadas da cama, um vibrador duplo. Dá-o a chupar à loira enquanto continua com a tortura.
A loira chupa-o deleitada e geme…
A ruiva pega no vibrador ao fim de algum tempo e roça-o ao de leve no seu próprio sexo. Depois, num só movimento mete-o fundo, bem fundo, de tal forma que quase lhe falta o ar…
…e depois tira-o e mete-o de uma vez só no sexo da loira…
…que solta um grito de pura tesão…
…prazer…
…- mais…- diz…
A ruiva senta-se à sua frente, agarra na outra ponta e faz-se introduzir.
Cada movimento de uma repercute-se na outra. O ambiente esta carregado pela tesão destas duas mulheres.
Os meus olhos estão pregados nelas, sem os conseguir desviar. Começo a tocar-me enquanto as vejo. Elas erguem-se na cama, ainda a foder-se devagar e colam as bocas uma à outra. Olham para mim, vêem-me a começar a ficar excitado novamente e chamam-me com o olhar. A ruiva agarra-me, beija-me chupa-me e dá-me à loira que faz o mesmo. Vão-me partilhando as duas.
Nisto a porta abre-se e um outro homem entra, já nu…
Parte IV - Luxúria
Ele entrou sem uma palavra no quarto.
Pôs-se de pé ao meu lado na cama, observando o que ali se passava. A loura agarrou-lhe de imediato o sexo semi-erecto, masturbando-o até à erecção plena para me largar em seguida e lhe dedicar toda a atenção com a boca, chupando-o e lambendo-o deleitada, deixando-me exclusivamente à ruiva.
Este misto de sensações, o próprio voyeurismo, excitava-me, e obviamente, excitava todos os outros também.
Elas tem um orgasmo intenso e abandonam por fim o brinquedo duplo, deitam-nos na cama e fazem-se penetrar por nós, aproveitando para se abraçar e beijar enquanto nos fodem.
Os meus sentidos parecem sobrecarregados pela quantidade de sensações que chega até mim. Apetece-me fechar os olhos para as saborear, mas não quero perder todo o quadro de luxúria.
Por fim, não aguentando mais, sinto o meu orgasmo chegar de forma incontrolável. Desisto de tentar prolongar a sensação, de lutar contra mim próprio e abandono-me…
…
Arrasto-me para fora da cama fisicamente esgotado e sento-me de novo no puf. Não consigo deixar de olhar enquanto vejo aquelas duas mulheres e aquele homem numa luta desigual…
…mas em que só há vencedores e em que a derrota é tão doce quanto a vitória.
Ao fim de um longo tempo todos quebram.
Aninham-se os três, na cama. Eu recolho as minhas roupas, e começo a vestir-me.
A loura abre os olhos sonolenta e vê-me, enquanto me visto.
-Vais? – perguntou-me.
-Sim, vou. – respondi com um sorriso.
-E encontraste?
-Sim, embora também não saiba muito bem o quê…
Ela sorriu de volta.
-Ainda bem… - e deslizou para o sono.
…
Alguns dias depois passei de novo naquela zona e tive curiosidade em olhar para o edifício.
Fiquei surpreso. Não passava de um edifício degradado, emparedado e na mais completa ruína, o oposto completo do sitio em que eu tinha estado.
Tinha encontrado realmente algo…
…fosse o que fosse!
5 comentários:
Afinal não sou só eu a contadora de histórias...!
Gostei!
Beijo d'(Ela)
Afinal não sou só eu a contadora de histórias...!
Gostei!
Beijo d'(Ela)
(ela),
Aconselho-te a ir aos primórdios deste blog, a uma altura em que eu tinha mais tempo para dedicar à escrita e ainda não tinha sido fisgado pela minha editora, pelo que despejava aqui quase tudo o que escrevia...
...aliás, mais do que aconselhar-te, desafio-te...
:)
Obrigada por este bocado que passei aqui. Prendeu-me do princípio ao fim. Gosto de histórias assim, com cantos e recantos, onde a imaginação é livre de ir para onde deseja. Parabéns! ;)
Gostei imenso :) Gostei do fio condutor ao longo da(s) histórias(s). Faz tempo que não escrevias neste registo.
Enviar um comentário