Todas as mulheres têm uma fantasia... (parte V)

Sobressaltou-se, olhou para a porta e olhou para ele, que continuava a exibir uma calma e um controle fora do comum, calma essa que a confundia. Era obvio que ele, enquanto ela se despia, apreciava cada movimento, cada centímetro do seu corpo, e no entanto não havia nele qualquer reacção que não fosse de puro cavalheirismo.
E agora, neste momento, limitou-se a levantar-se e caminhou em direcção a ela e à porta. Ao chegar ao pé dela limitou-se a dizer com um sorriso:
-Não se preocupe, é apenas a minha mulher.
Ela ficou sim pingo de sangue.
-O quê? – perguntou enquanto se baixava rapidamente para apanhar a camisa para se cobrir.
-A sério, não se preocupe. – voltou a afirmar enquanto se virava para abrir a porta não lhe dando tempo para vestir a camisa. Ela limitou-se a pô-la atabalhoadamente à sua frente, cobrindo o peito enquanto ele abria a porta e deixava entrar uma mulher.
A mulher era loura, com o cabelo comprido a cair numa cascata de caracóis largos até quase à cintura, pequena e magra, com uma pele branca que lhe dava um ar de boneca de porcelana, um ar frágil e tímido. O rosto era lindíssimo, como se tivesse sido finamente desenhado, com uns lábios carnudos realçados por um batom de um encarnado vivo que fazia parecer que todo o seu sangue se concentrava ali. A maquilhagem suave que usava era perfeita para realçar os olhos verde jade, lindos e intensos, mas que espelhavam toda a timidez dela.
Vestia uma gabardine comprida que a tapava por completo até bem abaixo do joelho, com um cito que a ajustava à sua silhueta, o que deixava adivinhar que seria magra mas não deixava adivinhar as suas formas.
Trazia consigo uma caixa embrulhada.
Deram os dois um suave beijo nos lábios, ele fechou a porta e voltou a sentar-se no sofá. A mulher voltou-se finalmente para ela.
-Olá, eu sou a Rute. – disse numa voz quase apagada.
-Olá. Eu sou a Ana. – respondeu ela sem fazer a mínima ideia de como reagir à situação.
A mulher apresentou-lhe a caixa embrulhada.
-É uma prenda para si.
Ela agarrou a caixa com uma mão, mantendo a outra a agarrar a camisa que a cobria.
-Obrigada.
-Não quer abrir?
Ela assentiu. Dirigiu-se até ao sofá que estava desocupado e sentou-se, sempre sem largar a camisa, pousou a caixa na mesa, ao lado dos copos de vinho e abriu o embrulho apenas com a mão livre. A caixa no interior era de uma conhecida marca de langerie.
-Só pude tentar adivinhar o seu tamanho pela conversa que teve com o meu marido. Espero que lhe sirva…
Ana abriu a caixa e lá dentro estava uma deslumbrante combinação de cetim branco.
-É linda. Obrigado.
-Não a quer experimentar? – Perguntou a Rute.
Ana corou. Olhou para o homem de quem nem sabia ainda o nome que acenou afirmativamente com um sorriso calmo.
Respirou fundo, levantou-se, largou finalmente a camisa, expondo-se aos olhos dos dois, tirou a combinação da caixa e apreciou-a. Depois, pôs-se de pé e dirigiu-se ao espelho, vestindo-a e observando-se. A medida era perfeita e a peça pereceu moldar-se ao seu corpo. Sentiu-se deslumbrante e pôde ver o ar de aprovação de ambos os elementos do casal.
-Acho que estou bem, não estou?
-Está linda. - Afirmou Rute.
-Mas sinto-me… deslocada.
-Porquê?
-Sou a única pessoa aqui nestes preparos…
Rute aproximou-se dela.
-Compreendo.
Desapertou o cinto que lhe cingia a gabardine, desabotoou-a e abriu-a revelando que por baixo da mesma havia apenas um corpete com ligas encarnado bem escuro, aveludado, que lhe segurava as meias de seda, e um fio dental que fazia conjunto. As peças adornavam um corpo absolutamente pecaminoso, antes insuspeito por baixo da gabardine.
-Ainda se sente deslocada? – Perguntou Rute fixando-a nos olhos.
-Não, já não. Não me leva a mal se eu lhe disser que é uma mulher deslumbrante?
-Nada, mas olhe que a Ana não fica atrás…
-Ora. Não será assim tanto…
-Acha que não? Basta ver a expressão do meu marido…
Rute aproximou-se de Ana pondo-se ao seu lado e envolvendo-a pela cintura, ficando as duas voltadas para ele, ambas um puro contraste uma da outra, mas ambas deslumbrantes.
-Vê? – Perguntou Rute. – O olhar dele não nos larga.
Ana sorriu. Sentia-se absolutamente deliciada com a atenção que recebia, sentia-se plena e mulher, sensual e apreciava o momento. Sorriu ao homem e olhou para Rute, que tinha o olhar fixo em si, ficando com o olhar preso no dela.
Rute aproximou-se de Ana, chegando com o seu rosto bem perto do dela, e Ana, ao vê-la aproximar sentiu em si uma hesitação e vacilou. Rute deixou os seus lábios bem próximos dos dela, esperou um pouco para ver se a indecisão se desvanecia e acabou por sussurrar apenas… - Confia - …e com isto foi como se algo levantasse entre elas e os lábios de ambas colaram-se num beijo…

(continua)

14 comentários:

Silent Man disse...

Continua muito bom! Duas mulheres, contrastantes mas fantásticas, cada uma à sua maneira...

E um beijo!

A sequência... ficamos à espera! O costume! :)

Abraço

M. disse...

E toda a fantasia tem uma mulher?

;)

Anónimo disse...

MRPereira,

Obrigado.

Abraço.

:)

Anónimo disse...

M.,

...as minhas têm...

E acredito que a maior parte tenha...

...mas há, de certeza, algumas que não...

:)

Chinezzinha disse...

Ulisses,
agora só falta aparecer o marido da Ana.:)))
gostei imenso de ler.
beijo

A. disse...

E quando o argumento tendia no sentido esperado... vem o twist! Surpresa!!!

ST disse...

Eu acho que isto dava um excelente filme...
Beijos

Jaime Piedade Valente disse...

Naa... nem todas as mulheres têm essa fantasia. Mas, em compensação, muitas mulheres têm essa e várias outras.

Jaime Piedade Valente disse...

Naa... nem todas as mulheres têm essa fantasia. Mas, em compensação, muitas mulheres têm essa e várias outras.

Anónimo disse...

A.,

LOL

...fazia-se uma festa...

LOLLOLLOL

:)

Anónimo disse...

A.,

...pois...

O teu comentário fez-me lembrar aquela música "ket's twist again like we did last summer..." (não que tenha alguma coisa a ver)

LOL

:)

Anónimo disse...

ST,

Dava um argumento engraçado...

:)

Anónimo disse...

Jaime Piedade Valente,

O titulo refere-se a uma fantasia genérica, não a esta em particular...

...e, genéricamente, todas as mulheres têm uma fantasia, seja ela qual for...

...e muitas têm mesmo mais do que uma.

Mas ainda assim, concordo, por conhecimento de causa, que muitas têm esta e muitas mais...

:)

Stargazer disse...

gosto de te ler neste registo. A inspiração nunca te abandona...

beijo inspirado(r) ;)