La Divina

Quem me conhece, mas quem me conhece mesmo a sério, aquelas pouquíssimas pessoas que fazem parte da minha vida e que sabem, ou pelo menos fazem uma ideia mais aproximada de mim, sabem que existem algumas particularidades na minha personalidade.

Na verdade, acho que todas as personalidades tem particularidades. É isso que faz de nós únicos. A única questão é o quanto essas particularidades se desviam mais ou menos daquilo que foi estabelecido como padrão.

Por exemplo, no meu caso, ao contrário do que seria de esperar por alguns textos que estão aqui espalhados, sobretudo os mais antigos, e que relatam a minha visão de alguns episódios da minha vida (e é sempre a minha visão, e não um relato meramente factual do que aconteceu, e assim sendo os relatos estão cheios do que senti e do que pensei – e há sempre três lados para cada história; a minha visão, a dos outros e a realidade dos factos) que eu fosse um tipo charmoso, sedutor, encantador…
…mas não sou.

Não obstante, sei por experiência própria que um tipo normal e banal como eu pode muito bem passar por circunstâncias excepcionais…

…e tenho passado por algumas.

Mas isto tudo para dizer que uma dessas particularidades, que como eu dizia acima, podem parecer estranhas a quem me lê é o facto de eu olhar para o género feminino de uma maneira…

…diferente!

E com isto não afirmo que seja melhor ou pior, apenas diferente mesmo.

De facto, independentemente da mulher para que olho, das suas características físicas, seja ela uma “bombshell” ou um estafermo, não há em mim uma atracção sexual ou um desejo à partida. Há antes uma admiração profunda por aquilo que considero um poema em movimento. E é neste sentido que observo as mulheres que se cruzam comigo, que, claro, se se sentem observadas por mim não interpretam dessa maneira.

Não sei se já contei esta história por aqui, mas se não contei, faço-o agora. Há muitos anos atrás, quando ainda se podia fumar nas escadas dos edifícios públicos, estava eu, nos meus vinte e muitos e um tipo que devia estar nos seus cinquenta e poucos a queimar tempo e tabaco no patamar, quando passa uma moça, que eu conhecia já de vista.

Ela estava ali a trabalho e apresentava-se como tal, sapatos de salto alto, colans pretos colados a umas pernas extraordinariamente bem torneadas e que acabavam numa saia preta, formal mas muito justa e que começava quatro dedos acima do joelho, e seguia os seus contornos até à cintura delicada. Levava o casaco no braço e vestia uma camisa com riscas verticais que a faziam parecer ainda mais alta e mais esguia do que era. O cabelo muito encaracolado e loiro caia em cascata sobre os seus ombros e costas e fazia realçar a sua pele morena, bronzeada pelo sol, e ainda mais os seus olhos de um azul faiscante.

Ela passou no patamar e continuou a subir as escadas, vitima, por certo, das avarias frequentes dos elevadores daquele prédio antigo de Lisboa. Eu vi-a passar, atentamente, bem como o meu companheiro de circunstância.

Depois de ela ter passado, o homem volta-se para mim, com um sorriso matreiro, e diz:

-Aquilo é que era…

-Aquilo o quê? – perguntei eu já com o pensamento bem longe do ocorrido.

-Aquilo o quê? Eu já tive a sua idade, e uma brasa daquelas…

Percebi o ponto de vista dele, que não era difícil, de todo, de perceber.

Eu pensei um pouco no que lhe havia de dizer, e, por fim, respondi-lhe.

-Já ouviu falar no Louvre?

-No quê?

-No museu do Louvre, em Paris…

-Ah! Sim, claro.

-O Louvre está repleto de algumas das mais belas obras de arte feitas pelo génio da humanidade. Lá dentro está um quadro que eu acho, no mínimo, especial, e é a Mona Lisa, de Leonardo Da Vinci.

-E então?

-Então que acho o quadro fantástico, lindo, e sou capaz de perder horas só a admirá-lo. Mas sabe que mais? Nunca me passou pela cabeça ir com o quadro para a cama…

Não sei, francamente, pelo ar com que ficou, se a esta altura já terá percebido o que eu quis dizer.

Mas sendo esta a regra, claro, tem excepções…

…e por isso, deixo-vos fotos da mulher de quem eu disse um dia “esta gaja tem mesmo que ter muito mau feitio e ser intragável…” ao que me retorquiram “porquê?” ao que eu respondi “porque se não for, Deus é injusto…”









4 comentários:

carpe vitam! disse...

Pois, isso tem muito a ver com a tua visão da Mulher, já aqui expressa no conto "Lilith". Realmente a Monica é um monumento, e tem ainda a vantagem de ser italiana, aquele sotaque é muito quente, derrete-me completamente.

Anónimo disse...

Carpe Vitam,

A Monica tem uma coisa sublime: Uma presença absolutamente marcante. Pode estar ao fundo de uma foto, misturada numa multidão, que ainda assim dás por ela...

Só conheci, na minha vida inteira e pessoalmente, uma ou duas mulheres assim...
...mas eram absolutamente...
...indescritiveis!

:)

Anónimo disse...

Sem comentários.
Aliás, belo!

Anónimo disse...

Desejo,

Obrigado.

:)